quarta-feira, 31 de março de 2010

Seria o fim da mania hipodérmica republicana?

Charles Scholl
13metatron@gmail.com

A lógica da comunicação de massa, com a arrogância política do totalitarismo do século XX, criaram as bases da teoria hipodérmica da comunicação. Desde a década de 30 nos Estados Unidos e 40 no Brasil, a tese é construída por cientistas e, no caso dos norte-americanos, muitos contratados pelo Exército. A tese parte do princípio que existe um emissor de um lado e uma massa de receptores absolutamente passivos na outra ponta. Tal concepção está completamente encharcada da matiz ideológica que orienta os representantes do Partido Republicano nos Estados Unidos. O modelo imperou como referência e orientou o comportamento das empresas de rádio e TV por décadas. Talvez seu maior sucesso tenha sido nos períodos de guerra e nas ditaduras militares da América Latina.

Com a crescente abertura democrática, nasce um novo comportamento em relação aos veículos de comunicação que contrapõe as teses em torno da teoria hipodérmica. Talvez o modelo estatal de comunicação Inglês tenha influenciado os primórdios das pesquisas de recepção, por intermédio dos “Cultural Studies”, iniciados na década de 70. Me parece bastante óbvio que as pesquisas de recepção iniciaram um movimento em direção ao público receptor das mensagens e, passou-se a compreender que a recepção das mensagens não é passiva. Começa-se a perceber que cada receptor pode fazer o que bem entende com a mensagem. Na radicalidade, o olhar desconstitui completamente a forma tradicional da comunicação. Hoje, já é do senso comum que as mensagens veiculadas influenciam a opinião pública, mas não determinam, mesmo que a influência em processos publicitários pode ser determinante para uma tomada de decisão. Emerge então um novo sujeito que cada vez se fortalece mais – o receptor.
A realidade social da atualidade e a velocidade em que são processadas as mudanças têm uma relação direta com o fluxo de informação e de conhecimento que circula em nossa civilização. Não tenho a pretensão de resolver a questão se as mudanças são de correntes do aumento do fluxo de informação e conhecimento ou se essa circulação é que promove a aceleração das mudanças sociais. Provavelmente um pouco de tudo. Mas, o fato é que o desenvolvimento das tecnologias de comunicação em tempo real e as tendências à criação de sociedades virtuais com o advento da internet, providenciou a verdadeira revolução do nosso tempo.
As matizes ideológicas mais comprometidas com as práticas interativas tiveram mais sucesso na utilização das modernas ferramentas de comunicação. A campanha eleitoral que deu vitória ao democrata Barack Obama, em 28 de agosto de 2008, torna evidente à nossa civilização que as teses da teoria hipodérmica se tornaram obsoletas diante do pensamento humano da atualidade. As práticas persuasivas em um modelo político democrático passaram a ter mais valor do que as investidas coercitivas da tradição republicana. Neste processo eleitoral, os Republicanos e Democratas utilizaram as mesmas ferramentas, porém com diferentes posturas políticas. O trabalho liderado pelos Republicanos poderia se resumir a ações virais na rede com o propósito de despejar conteúdos prontos e estrategicamente montados para valorizar seu candidato e desvalorizar seu adversário. Os Democratas utilizaram as redes para que seus conteúdos fossem avaliados pelos receptores e, mesmo no decorrer da campanha, o retorno das redes virtuais modificavam o programa de governo, suas prioridades e até mesmo o discurso do candidato. O receptor torna-se um sujeito ativo e pensante da campanha de seu candidato. Torna-se parte da campanha, contribuindo e legitimando as idéias políticas a partir de uma prática democrática do uso das novas tecnologias de comunicação.

A campanha de Obama utilizou diferentes métodos de comunicação buscando a personalização dos grupos sociais. Os mais jovens recebiam textos dirigidos ao tempo que os mais velhos as mensagens eram mais curtas e concisas. Os textos chegavam por intermédio de apoiadores de Obama, quase que diariamente, mantendo as pessoas informadas sem a necessidade dos caríssimos comerciais da TV americana. Os conteúdos encorajavam as pessoas a participar da campanha, aparecer nos eventos próximos das suas residências. Eles elaboraram um sistema competitivo entre os apoiadores no qual o ganhador teria vaga garantida na festa da vitória de Obama. Os Republicanos tentaram desarticular a estratégia dos Democratas montando uma gama de vídeos, porém com os vícios coercitivos inerentes a sua matiz política. Embora o volume de vídeos tenha sido significativo, os resultados não passaram de uma ação viral. Obama reagiu com tecnologia para identificar individualmente seus eleitores. Quando um eleitor navegava por um dos sites da campanha, um “cookie” era colocado em seu navegador. Esse cookie podia identificar o perfil do usuário a partir dos sites que visitava. Então os conteúdos da campanha eram produzidos de acordo com a preferência do eleitor. A possibilidade tecnológica deu mais importância aos conteúdos individualizados para cada eleitor e tornou a propaganda massiva da TV como uma ação complementar.

Tudo indica que tais ações foram as responsáveis em tornar o site de Obama o que recebeu mais hits, fazendo o seu targeting mais efetivo. No início de julho, o site do Obama batia o de JohnMcCain na proporção de quatro acessos para um. Em setembro, apesar das propagandas massivas dos Republicanos, o site ainda registrava o dobro de acessos. A utilização de ferramentas gratuitas, tais como o Facebook, Twitter, MySpace e YouTube, permitiram uma enorme economia, mesmo com os pesados investimentos feitos para a criação dos sites e das redes sociais. A estratégia de arrecadação para a campanha pela internet também modificou o modelo tradicional de financiamento e reforçou os laços de participação de seus eleitores. Além dos computadores, os Democratas também utilizaram os celulares para integrar ainda mais sua rede social pela internet. E a mudança na comunicação não ficou restrita a campanha eleitoral. Como apontam os prognósticos tecnológicos mais lúcidos, essas mudanças vieram para ficar. Recentemente, o conselheiro de tecnologia de Obama afirmou que a utilização de ferramentas como Twitter e SMS permitiu a troca de idéias em uma velocidade nunca vista, e foi possível disseminar conteúdos de baixo para cima, imprimindo uma dinâmica política inovadora para nossa civilização.

Certamente a campanha vitoriosa de Obama é conseqüência de múltiplos fatores, tal qual toda a campanha eleitoral é. Porém, a peculiaridade que podemos atribuir a esse advento histórico está no sucesso do uso de ferramentas de interação com os eleitores que permitiu uma relação direta com o candidato em tempo real. Sem exageros, a tática possibilitou a sensação da onipresença, sem parecer massivo. Algo que só é possível em nosso tempo, e é por esse caminho que seguem as tendências políticas do século XXI. A experiência política vivida nos Estados Unidos terá grande influência nos processos eleitorais de 2010 no Brasil. Os brasileiros internautas se ampliam aos milhares e as mensagens que circulam na rede têm pautado cada vez mais os veículos de comunicação tradicionais. Essa conjuntura já é suficiente para percebermos que neste ano as novas ferramentas de comunicação terão papel decisivo no processo eleitoral.

Fontes e referências bibliográficas:
- Artigo - Cris Danen e a revista Wired. Editado e adaptado por André Kadow
-RABAÇA, Carlos Alberto. Dicionário de Comunicação. São Paulo: Ática, 1998.
-KLAPPER, Joseph. Os efeitos da comunicação coletiva IN panorama da Comunicação Coletiva.
-LAZARSFELD, Paul. Os meios de Comunicação coletiva e a influência pessoal. IN panorama da Comunicação Coletiva.
-MATTELART, Armand e Michele. História das teorias da comunicação. Loyola, 1999.
-GOMES, Pedro Gilberto. Tópicos de Teoria da Comunicação. São Leopoldo: UNISNOS, 2001.
- RUDIGER, Francisco. Introdução à teoria da comunicação. São Paulo: Edicon, 2003.
- LASSWELL, Harold. A estrutura e a função da comunicação na sociedade IN COHN, G. Comunicação e indústria cultural.
- WOLF, Mauro. Teorias da Comunicação. Presença, 2002.
- POLISTCHUCK, Ilana e TRINTA, Aluisio R. Teorias da Comunicação. Campus: 2003.
Outras referências:
Textos e entrevistas de Scott Goodstein - Formado em Relações Públicas, trabalhou em campanhas políticas na década de 1990 ao lado dos democratas e na indústria musical. Na campanha de Obama, desde as prévias, coordenou as ações para internet, principalmente em redes sociais, e para celular, enviando mensagens de texto.
Textos e entrevistas de Peter Giangreco - Especialista em mala direta, aprimorou técnicas de pesquisa para tornar as campanhas por correio mais efetivas. Trabalhou ao lado dos democratas em campanhas de Bill Clinton, Al Gore e John Edwards . Com Obama, serviu como consultor de mala direta e ações segmentadas nas prévias em 2008.

terça-feira, 30 de março de 2010

O copo está cheio ou vazio?



O copo está cheio ou vazio? Essa questão representa exatamente sentimento que tenho acerca da conjuntura que vivo neste momento. Esta semana deixei de exercer o cargo de diretor de comunicação da Prefeitura de Esteio. A função, desde sempre, foi uma mescla de compromissos técnicos da área da comunicação social associado a compromissos públicos assumidos junto a comunidade esteiense. Todos assumidos ao longo da vida na cidade e reafirmados nas campanhas eleitorais estabeleceram uma relação de confiança em torno de um projeto político. Diante do compromisso com as idéias humanistas que sempre sustentei, hoje assumidos institucionalmente na “Cidade mais Humana”, é que fica a dúvida sobre a abordagem que daria nesta nota pública que registra minha saída da Administração após cinco anos de serviços prestados. Registro minha saída ou o novo começo?
Acho que as coisas acontecem ao mesmo tempo, mas merecem ser explicadas ao tempo que podemos compreendê-las. Um passo de cada vez, mas vamos iniciar pelo fim. Para os cargos de confiança existe somente uma forma de admissão e de demissão. A admissão é feita por indicação direta do gestor, assim como a demissão. É da condição do próprio cargo a possibilidade de troca a qualquer momento. Minha saída é motivada por uma mudança na correlação de forças dentro do Governo. Tal situação é da dinâmica da política. Por fim, opto em falar do começo desta jornada. Fui admitido pela Prefeita Sandra Silveira, em outubro de 2005, com desafios importantes para a comunicação social de Esteio. No decorrer de seu Governo, representando o Partido dos Trabalhadores na comunicação social, mantive uma atividade intensa de militância em prol da qualificação da opinião pública da nossa cidade. Muitas vezes em situações extremamente tensas, tal qual foi o movimento em prol do Seminário Claretiano, em que chegou a ser anunciada minha demissão, nos anos de 2006 e 2007.A demissão só não ocorreu por ação direta da Prefeita Sandra e de sua chefe de gabinete Neida Lisboa.
Então vieram os desafios de construir a sucessão de Sandra. Minhas apostas sempre estiveram em torno do vice-prefeito Gilmar Rinaldi, mas tínhamos uma longa jornada pela frente. Após a definição, veio a campanha eleitoral em que tive a felicidade de eleger as duas campanhas em que estava trabalhando. Na câmara de vereadores a surpresa de ter eleito Leo Dahmer como o parlamentar mais votado do PT ao tempo que conseguimos conquistar a eleição de Gilmar Rinaldi prefeito de Esteio. O mais importante nesse movimento todo sempre foi ter eleito um programa que foi amplamente distribuído à população.
O trabalho sempre se impôs atropelando a vida pessoal e trazendo situações para além da emergência. O ambiente e a vida pessoal mudaram completamente neste período. Minha filha foi morar em São Leopoldo e conheci minha noiva Natália. Com a vitória, a obstinação sempre foi dar conta do programa e dos compromissos eleitorais que assumimos com a cidade. É importante registrar que durante o período em que estive exercendo o cargo de diretor de comunicação não medi esforços em tornar realidade os sonhos que construímos com a comunidade esteiense. A ênfase pessoal que dei neste período certamente foi focada na valorização e o reconhecimento dos veículos de comunicação da nossa cidade. Não poderia ser diferente, pois iniciei minha vida profissional no Jornal Destaque, minha mãe é fundadora do Jornal Eco do Sinos, o Juarez da Revista do Duarte está presente em minha memória desde que me conheço por gente e sempre fui militante do sucesso da Rádio Tradição, a rádio comunitária de Esteio. Mesmo com o claro apelo ao reconhecimento do trabalho dos veículos de comunicação de Esteio, mantive uma relação cordial e profissional com um universo de comunicadores, sem preterir ninguém.
Com zelo pelo erário público, com responsabilidade administrativa e política concluo uma fase importante para minha vida pessoal. Esse é o olhar que vê o copo cheio. O outro trata do que está por vir. É sobre os novos desafios. O copo ainda está vazio, mas terei muita calma e responsabilidade em dar conteúdo ao recipiente com os desafios individuais e coletivos que nos reserva a vida.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Para Pochmann, Brasil pode liderar novo projeto de desenvolvimento mundial


Primeiro palestrante do seminário “A estratégia socialista hoje”, organizado pelo deputado Ronaldo Zülke (PT), o economista Márcio Pochmann, presidente do IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada ressaltou o protagonismo do Brasil no atual cenário internacional, marcado pela grande crise do sistema capitalista detonada no último ano. No encontro, realizado neste sábado (27), no auditório do SESC, em Gravataí, Pochmann defendeu que o “deslocamento do centro dinâmico do mundo”, com os problemas enfrentados pelos Estados Unidos, abriu possibilidade do Brasil liderar a construção de um novo projeto de desenvolvimento em âmbito mundial, denominado por ele de “sociedade superior”. Para isto, sustentou o economista, o País precisa elaborar uma “agenda civilizatória, que modernize o Estado e o coloque em condições de “enfrentar os desafios do século 21”.

Para Márcio Pochmann, uma questão chave neste momento é sintonizar as políticas públicas com as mudanças que estão ocorrendo no mundo do trabalho, com os avanços registrados nas áreas tecnológica, científica, educacional e demográfica. “Hoje, o ensino superior não é mais teto, é o piso dentro da formação de um profissional, portanto o ingresso do jovem no mercado de trabalho poderia ser adiado para os 25 anos. Também seria necessário remodelar o sistema educacional, de forma que a educação fosse pensada como um processo para a vida inteira, pois, em 2030, a estimativa de vida das pessoas deve chegar a 100 anos; no início do século era de 35 anos. Além disso, a ciência conseguiu separar a reprodução humana do sexo e as famílias, que antes eram numerosas, são cada vez menores. Tudo isto muda dramaticamente as relações de trabalho e as instituições, nos moldes como estão organizadas hoje, não estão preparadas para o futuro”, avaliou.

Pochmann dividiu a exposição com o ex-ministro do Desenvolvimento Agrário. Atual presidente da Petrobrás Biocombustíveis, Miguel Rosssetto destacou a importância de a sociedade estar inserida no debate sobre as mudanças que devem ser operadas. “Não há dúvidas de que os governos do presidente Lula foram e ainda são decisivos para o Brasil, neste momento, junto com outros países como a China e a Índia puxar a recuperação da economia mundial. Agora, do ponto estratégico temos que organizar um sistema produtivo e social que tenha tamanho suficiente para ofertar os serviços e bens essenciais à vida da população, desconcentrando poder, distribuindo renda, democratizando o acesso à saúde e à educação, estimulando o surgimento de novos modelos, como a economia solidária, adotando padrões energéticos sustentáveis e colocando um ponto final na relação predatória com o meio ambiente, na exclusão racial e na discriminação de gênero. Tudo isto faz parte daquilo que estamos chamando de revolução democrática para o País, da estratégica programática que o Brasil deve oferecer em escala mundial”.

Segundo ambos palestrantes, estes são os principais obstáculos a serem superados dentro da perspectiva socialista para o século 21. “A crise do modelo americano mostrou que nossas teses em defesa da ação reguladora do Estado estavam corretas. Nós resistimos, preservando o Banco do Brasil, a Petrobrás, o BNDES. A experiência brasileira é reconhecida como vitoriosa e isto nos dá respaldo para ousar”, observou Rosetto. Ao concluir, Marcio Pochmann lembrou que a maioria política construída pelo presidente Lula no Brasil “abriu abre uma janela de oportunidades para uma o surgimento de uma sociedade menos consumista e mais autônoma, simples, e saudável, com uma jornada de trabalho que preserve o tempo do lazer e o entrosamento familiar. “A ousadia é a trajetória que devemos perseguir”, concluiu o economista.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Reforma, revolução ou a revolução da reforma para a revolução




Por Charles Scholl


O Fórum Social Mundial Região Metropolitana 2010 propiciou várias oportunidades de debate sobre as possibilidades e idéias para a construção de um outro mundo possível. Neste entrevero cultural, o formato organizativo do FSM acaba favorecendo os militantes mais engajados e permite o aprofundamento das discussões temáticas, a atualização de referências teóricas e a oxigenação de novas idéias. Um exemplo de debate que veio à epiderme da consciência coletiva é o da retomada da reflexão reforma ou revolução. O jornalista Gabriel Caparo organizou uma entrevista com o intelectual cubano Roberto Regalado sobre o tema “reforma versus revolução”, e neste trabalho percebe-se que a atualidade da América Latina propicia um momento especial na história da esquerda no mundo.
Apesar de não pertencer a geração de militantes que foram às ganhas pela luta armada, o assunto permeia minha experiência política pelo que vivi na década de 90. Eu divido a experiência desta década em duas fases. A primeira metade na condição de militar, quando era 3º Sargento do Exército e a segunda na condição de militante, quando aprofundei meus estudos sobre os movimentos sociais. Uma das qualificações que adquiri como sargento foi de anti-guerrilha. Naquela década, o Exército compreendia o MST como a única possibilidade de guerrilha no Brasil. Nossos ensaios e treinamentos se davam com figurantes que representavam o MST. Na segunda metade da década iniciei militância no movimento estudantil e acabei participando e trabalhando junto ao MST. Dentro do movimento, em um encontro ocorrido em São Paulo, com representação de todo o Brasil, lideranças do MST discursavam em favor da luta armada diante dos tencionamentos provocados pelo Estado contra os movimentos em prol da reforma agrária no Brasil. Sou testemunha de que tais tencionamentos de fato existiam, inclusive integrei parte da força armada preparada para enfrentar uma situação assim. Foi a primeira vez que me deparei com o debate reforma versus revolução, com real possibilidade de uta armada no Brasil.
As lideranças populares do movimento de base do MST queriam a luta armada. O contraponto foi feito por Leonardo Boff e pelo Frei Beto, representantes de um segmento da Igreja denominado Teologia da Libertação, que defendiam a possibilidade das mudanças sociais pelas vias democráticas. O momento trazia com toda sua clareza o debate, ainda que no campo das idéias, da reforma ou revolução. A luta armada não aconteceu naquele momento porque foi construído um consenso em torno da idéia de continuidade das lutas, institucionalização das mudanças e pelo não derramamento de sangue, ou seja, optou-se em buscar as mudanças pelas vias democráticas e pelo reforço das instituições brasileiras.


No trabalho América latina Hoje: reforma ou revolução, Regalado sustenta que existem três tipos distintos de reformismo. O reformismo reacionário, que mantém no fundamental as políticas econômicas e sociais dos governos de direita; o pós-neoliberal que quer encontrar uma saída do neoliberalismo dentro do próprio sistema capitalista; e um reformismo com intenção e direção estratégica anticapitalista. Com isso, o intelectual cubano diz que a luta é a mesma, porém há uma mudança na terminologia das palavras. Tais mudanças são importantes e decorrentes do conhecimento necessário para travar a luta pela revolução nas condições atuais.
Regalado pavimenta e reforça os argumentos utilizados por Boff e Beto no debate com os maoistas do MST, de que existem, atualmente, reformas que conduzem à revolução. A tradição da esquerda concebe que o objetivo estratégico de fazer a revolução só poderia ser alcançado mediante a tática da luta armada. Essa realidade está se afirmando no mundo todo, em entrevista recente, divulgada por Rebelión, Santiago Alba afirma que as únicas duas regiões do mundo onde se manifesta hoje o atiimperialismo são a América Latina e o Oriente médio. Neste trabalho Alba pondera que no caso do Oriente Médio predomina uma idéia antiimperialista de direita e a América Latina vive um momento histórico em favor da esquerda. Creio que a experiência que vivemos no Brasil é singular no Planeta e que o futuro do PT influenciará muito o futuro da esquerda no mundo. Ou seja, nossa atividade militante pode influenciar ou até mesmo definir em favor do caminho a ser trilhado para a construção de um outro mundo possível.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Aldeia da Paz comemora os 55 anos de Esteio

O Espaço de Livre Ocupação - Esteio, do Acampamento Intercontinental da Juventude, criou na cidade a Primeira Aldeia da Paz em praça pública do Brasil. A proposta dos criadores do espaço é de manter uma referência permanente com atividades contínuas o ano todo. Da intenção à prática. No dia 27 de fevereiro foi realizada a primeira atividade pública com vínculo forte com a cultura da cidade. A atividade teve início às 14 horas, com danças - palestras - e trabalho conjunto em que os participantes cobriram as bioconstruções edificadas pelos integrantes do Acampamento Intercontinental da Juventude 2010, para dar vida à Aldeia da Paz.
Nesta edição a Aldeia da Paz teve a participação do Clã Amigas da Lua de Esteio que coordenou o trabalho conjunto, as vivências, o aprendizado com muita criatividade e interação.






Dança da Paz;
Ética Alimentar Vegana;
Cânticos pela Paz;
Capoeira;
Círculo Feminino - Diálogos de resgate do sagrado feminino;
Prática de Qi Gong Li (Tikum)
No final da tarde fizemos a prece das sete direções;
cantamos e a meia noite comemoramos os 55 anos de Esteio com o grupo Águia de Fogo de Taquara que instalou um fogo sagrado no Parque Galvany Guedes, na Aldeia da Paz de Esteio.
Pela manhã foi feita uma saudação ao sol.
A atividade difere completamente da tradição de comemoração do aniversário da cidade e as pessoas que participaram não tinham como hábito o debate político. O espaço favoreceu uma relação dialógica com um segmento social que não tinha uma agenda positivada em qualquer instância estatal.
Esses são argumentos suficientes que me motivam à militância. Agradeço aos companheiros que contribuíram em tornar este sonho realidade. Também é fundamental reconhecer a coragem do Belló, do Marcelo Jaguara, do Mandala, do Óscar que foram gigantes em suas ações. O homem vale o tamanho de seus sonhos e juntos sonhamos essa realidade. Que venham os novos desafios... nós somos a mudança que queremos ver no mundo...(Gandhi)
Charles Scholl
diretor de comunicação Prefeitura de Esteio
96232328
http://charlesscholl.blogspot.com/
http://www.esteio.rs.gov.br/home/show_page.asp?id_SHOW_noticia=20292&user=&id_CONTEUDO=5&codID_CAT=2&imgCAT=tema_noticias_r2_c1.jpg&categoria=Not%C3%ADcias

quarta-feira, 3 de março de 2010

Esteio 55 anos - Para defender nossa cidade temos que ir além...

*Charles Scholl
É difícil dissociar a idéia de municipalidade da noção de autonomia, identidade, economia, política e organização social. O ordenamento de uma sociedade positivada em uma instância estatal, inserida no Estado do Rio Grande do Sul, no Brasil é uma ação de independência. Tais palavras serviram de combustível aos emancipacionistas que desmembraram o 11º distrito de São Leopoldo, tornando-o município de Esteio. Oficialmente comemoramos tal organização política no dia 28 de fevereiro e, neste ano, completamos 55 anos desta façanha.
É o momento propício para reafirmar que a organização política de um território é puramente humana. Esteio é o exemplo disso, já que as divisas de seu território foram edificadas por opiniões distintas resultantes de plebiscitos entre povos de uma mesma região. Sapucaia do Sul conquistaria sua condição de município depois de cinco anos, pela mais pura divergência de opinião. Certa oportunidade em conversa com Darcy Zolin, um dos lideres emancipacionistas, ele relatava que quando cruzavam a área da atual Estação Luiz Pasteur, a população jogava ossos aos municipalistas. Uma metáfora que traduzia o entendimento de que o movimento municipalista girava em torno da criação de cargos políticos. Tal comportamento é puramente humano e tem pouca relação com acidentes geográficos que pudessem justificar uma fronteira com Sapucaia do Sul. É bem provável que tal situação esteja no centro dos problemas de conurbação urbana que enfrentamos na atualidade.
Ocorre que a dinâmica da formação das cidades merece ser reavaliada. Não é possível que nestes tempos ainda reinem a lógica municipalista como se ainda estivéssemos em busca da independência política. É preciso avançar para estratégias de desenvolvimento regionais pelo caminho das parcerias em que todos ganham. Existem muitos exemplos importantes que nos apontam a superação de dificuldades comuns entre os municípios superadas pela construção de acordos entre as cidades. O destino do lixo de Esteio é um deles. Poderíamos avançar na saúde, na educação e principalmente no meio ambiente.
Desprezar a pauta do meio ambiente é um crime contra a população, pois coloca em cheque a qualidade de vida das comunidades e esgota de forma irresponsável os recursos naturais de nossa bioregião. Qualquer intervenção ao meio ambiente aplicada nos territórios em torno de nossa cidade, porém dentro de sua bioregião, terá reflexo direto em nosso território. Isso é bem óbvio, já que relembramos que nossas fronteiras são políticas, mas as fronteiras de nossa bioregião, de nossas bacias, são outras. O Governo do Estado deveria dar conta de tais assuntos, porém a lógica municipalista, nesses casos, pode ser um entrave. Olhar para uma região rompendo suas fronteiras políticas ainda é um gesto utópico, sustentado por alguns operadores da política mais conscientes. Esses são verdadeiras minorias. Enquanto persistir tais inconseqüências o desenvolvimento de uma cidade pode vulnerabilizar outra e vice-versa.
Com 55 anos temos condições de reconhecer nossa identidade cultural cidadã, saber que repercutimos na economia, que integramos uma bioregião, que nossas fronteiras são produto da construção dos símbolos humanos e avançar para uma postura de desenvolvimento conseqüente com todos. Isso seria um avanço.

*Diretor de comunicação da Prefeitura de Esteio
Charlesscholl.blogspot.com