segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

A QUEM INTERESSA COMBATER OS DIREITOS HUMANOS?


UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS
INSTITUTO DE FILOSOFIA, SOCIOLOGIA E POLÍTICA
DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA
CURSO DE LICENCIATURA EM FILOSOFIA A DISTÂNCIA
DISCIPLINA: OFICINA DE ENSINO DE FILOSOFIA
PROF: PEDRO LEITE







A QUEM INTERESSA COMBATER OS DIREITOS HUMANOS?
UMA BREVE ANÁLISE SOBRE OS DISCURSOS NAS ELEIÇÕES DE 2018 NO BRASIL






CHARLES SCHOLL CARVALHO
UAB – 04
MATRÍCULA 17201734
contatoesparta@gmail.com





INTRODUÇÃO

O Brasil realizou suas eleições ordinárias federais em 2018, para os cargos no Poder Executivo de presidente da república, vice-presidente da república e governadores dos estados. No Poder Legislativo foram escolhidos pelos brasileiros os senadores, deputados federais e deputados estaduais. As políticas públicas de Estado adotadas nas últimas décadas produziram mudanças históricas na distribuição de renda e avanços no cumprimento das garantias constitucionais dos brasileiros, ao qualificar o acesso à saúde, educação e assistência social. Tais políticas públicas viraram objeto da disputa eleitoral entre os setores políticos que defendiam a ampliação do estado de direito e os que defendiam o estado-mínimo, flexibilização de direitos e a redução de programas sociais.
Em meio a disputa eleitoral, o debate político entre os candidatos relativizou um conjunto histórico de direitos adquiridos pelos brasileiros trabalhadores em dois séculos de conquistas, tais como os direitos trabalhistas conquistados na era Vargas[1]. Além do ataque aos direitos trabalhistas, os Direitos Humanos viraram alvo principal de um dos candidatos que representa um campo conservador.
O candidato que ameaçava a democracia prometendo uma intervenção militar, que compôs com um vice-presidente que é general do Exército, defendia o fim dos direitos humanos e o fim de garantias trabalhistas, galgou a vitória eleitoral no Brasil. A relativização dos direitos perece nos apontar uma certa anomia e uma crise institucional brasileira, que tem chamado a atenção do mundo, com prisões políticas, assassinato e uma deturpação completa da ideia de Direitos Humanos. Em meio a esse cenário, este artigo busca abordar as origens dos Direitos Humanos com o objetivo de enfrentar a aparente anomia brasileira revelada neste processo eleitoral e possíveis motivações das campanhas em realizar os ataques aos direitos.

ELEIÇÕES E ESTADO DE EXCEÇÃO
   As campanhas eleitorais de 2018 tiveram início no dia 18 de agosto. O objeto que analisamos neste artigo irá se debruçar sobre a eleição majoritária ao Governo Federal, principalmente nos desdobramentos do segundo turno. No entanto, as eleições de 2018 foram atípicas por serem as primeiras eleições realizadas no Brasil após o Congresso Nacional ter destituído a Presidenta Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores por um suposto crime administrativo popularmente conhecido como  pedaladas fiscais. Ocorre que a prática da pedalada fiscal é um recurso administrativo corriqueiro e usual na máquina estatal, que consiste em tomar recursos de bancos públicos para saldar o pagamento de programas sociais, tal como o programa Bolsa Família[2] e posteriormente repor. A prática é usual em prefeituras, estados e é utilizada até hoje pelo Governo Federal. Em virtude desta evidente farsa política ocorrida em 2016, assumiu a Presidência da República o vice-presidente Michel Temer, do PMDB. A ação foi protagonizada em meio a uma crise política que tinha como pivô central o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, do MDB, que ao ser contrariado por Dilma abriu o processo de Impeachment que a tiraria do poder. Desde então, o Brasil vive em um estado de exceção, que se arrastaria até as eleições de 2018, com a implementação de um programa de gestão do Estado defendido por Aécio Neves, do PSDB, que havia perdido as eleições para Dilma Rousseff. Com isso, o governo de Michel Temer passou a contar com a participação direta do PSDB e seu plano de gestão de Estado.  
O Partido dos Trabalhadores chegou à Presidência da República no Brasil com o 35º Presidente de sua história republicana, Luiz Inácio Lula da Silva, no dia 1º de janeiro, de 2003, sucedendo o Governo de Fernando Henrique Cardoso, do PSDB. Seu governo foi reeleito e criou os mais avançados mecanismos de combate a corrupção já vistos na história brasileira, com o empoderamento da Polícia Federal e do Ministério Público. O presidente Lula governou de 2003 a 2011 e foi sucedido pela Presidenta Dilma Rousseff. No dia 17 de março de 2014, em Curitiba, teve início uma operação anticorrupção liderada pelo juiz Sérgio Moro, denominada de operação Lava Jato. A operação é conhecida como a maior investigação de corrupção da história do Brasil.
O nome da operação deve-se ao uso de um posto de combustíveis para movimentar valores de origem ilícita, investigada na primeira fase da operação, na qual o doleiro Alberto Youssef foi preso. Através de Youssef, constatou-se sua ligação com Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, preso preventivamente na segunda fase. Seguindo essa linha de investigação, prendeu-se Nestor Cerveró, um engenheiro químico da Petrobrás, em 2015, que depois delatou outros. Em junho, a operação atingiu grandes empreiteiras brasileiras, como a Andrade Gutierrez e Odebrecht, cujos respectivos presidentes, Otávio Azevedo e Marcelo Odebrecht, foram presos; posteriormente, muitas outras empresas de ramos diversos seriam investigadas. Ao longo de seus desdobramentos, entre outras pessoas relevantes que acabaram sendo presas graças à operação, incluem-se o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (MDB), o ex-senador Delcídio do Amaral(PT), o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha(MDB), os ex-ministros da Fazenda Antonio Palocci(PT) e Guido Mantega, o publicitário João Santana, o ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu(PT), o empresário Eike Batista e, em abril de 2018, o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva e o atual governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (MDB).
A prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi questionada internacionalmente, por ter sido feita sem provas em meio a um processo com inúmeras dúvidas levantadas por organismos internacionais ligados às Organizações das Nações Unidas. É considerada uma prisão política engendrada pelo juiz Sérgio Moro, que tinha por objetivo retirar Lula das eleições de 2018, sendo que o ex-presidente liderava as pesquisas eleitorais que apontava sua vitória já no primeiro turno. A frase proferida pelos acusadores que afirmavam “não ter provas, mas convicção”, dita em uma apresentação que ficou conhecida como a tese do Power Point, protagonizada pelo Procurador da República, Daltan Dallagnol, coordenador da Operação Lava Jato, estarreceu juristas de todo o Planeta. Sem Lula, o Partido dos Trabalhadores concorreu com o professor Fernando Haddad em uma aliança com o PC do B, que tinha Manuela D’ávila como vice-presidenta. A decisão do PT foi tomada a poucos dias do processo eleitoral, pois até então mantinha Lula como candidato a Presidência da República, apesar de preso.
Mesmo sem Lula, o Partido dos Trabalhadores chegou ao segundo turno, polarizado com o candidato do Partido Social Liberal (PSL), Jair Bolsonaro, que tinha como vice o General do Exército, Hamilton Mourão. Nesta polarização política, Fernando Haddad defendia a retomada das políticas de Estado adotadas pelo ex-presidente Lula, que promoveu o desenvolvimento e o pleno emprego, com um mecanismo que gerava riquezas e enfrentava as históricas disparidades sociais e econômicas presentes no tecido social brasileiro. Assim nos mostra a matéria do Jornal O Globo, do dia 3 de maio, de 2011, com o título: “Governo Lula reduziu pobreza do país em 50,6%, mostra estudo”. Os dados são da Fundação Getúlio Vargas (FGV), com resultados obtidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que segundo o economista Marcelo Neri, da FGV, com esses números o Brasil superou a meta do milênio.
Por conta do golpe de estado contra Dilma Rousseff e a implementação de um programa antipopular, com restrições de direitos, diminuição da máquina pública, a população passou a perceber os sintomas da crise. A retirada da moeda de circulação, com a economia favorecendo os rentistas em detrimento do capital produtivo, afetou a economia e a produtividade, gerando uma massa de desempregados. A restrição dos programas sociais colocaram novamente o Brasil no mapa internacional da fome, pois um dos méritos do Governo Lula foi ter tirado o país da nefasta lista internacional.
Os detentores do poder atribuíam a crise percebida pela população a uma herança deixada pelos governos do PT, em amplas campanhas publicitárias que defendiam o enxugamento da máquina estatal e o fim dos programas sociais. Além da flexibilização das leis trabalhistas para a retomada do emprego. A campanha de Jair Bolsonaro passou a contar com mecanismos ilegais de distribuição de notícias falsas por redes sociais, com apoio econômico de empresários que nutriam uma neurose de um ataque comunista ao Brasil. No curto período de tempo da campanha eleitoral, os boatos não tinham como ser desmentidos e os veículos de comunicação de massa lavaram as mãos para atender interesses imediatos de seus empreendimentos. As notícias falsas tinham conteúdos absurdos, tal como a distribuição de mamadeiras em formato de pênis nas escolas em um kit gay, que continha também livros que tratariam da educação sexual de crianças. O livro chegou a ser apresentado em rede nacional durante uma entrevista de Jair Bolsonaro, no Jornal Nacional, da Rede Globo. Este fato foi desmentido, mas pesquisas posteriores apontam que 85% das pessoas acreditaram na existência do kit gay.
Uma verdadeira tsunami de mentiras encontrou ressonância com os escândalos de corrupção promovendo no eleitorado uma perda de referências que relativizou princípios muito caros à civilização contemporânea, tal como as campanhas contra os Direitos Humanos. O processo eleitoral legitimou o racismo, a misoginia, a violência sexual contra as mulheres, a homofobia em discursos de ódio que foram comparados a uma onda fascista no Brasil. Esse complexo cenário, completamente poluído pelas relações de interesse dos veículos de comunicação de massa, tornaram, no senso comum, os Direitos Humanos algo terrível que precisava ser combatido. Os professores foram transformados em criminosos formadores de “esquerdopatas” que eram responsáveis pela crise nacional. O juiz Sergio Moro vazou depoimentos de Antônio Palocci contra o PT às vésperas das eleições em versões que não se confirmaram até o momento. Além disso, emergia nesse debate uma proposta fundamentalista denominada Escola Sem Partido, que de fato é a escola do pensamento único sustentada pela ideologia da extrema direita que disputava o poder. Ao final das eleições, Jair Bolsonaro se tornou o novo Presidente da República no Brasil, com 57.797.847 votos, representando 55,13% dos votos válidos; e Fernando Haddad ficou com 47.040.906 votos, representando 44,87% dos votos válidos.
Em meio a esse cenário, ao tomar a distância necessária da crise para tentar compreendê-la, é possível identificar a retomada das prisões políticas no Brasil, além do assassinato de Marielle Franco[3], do PSOL que ocorreu também por motivações políticas no Rio de Janeiro. Tanto Lula, quanto Marielle, guardadas suas proporções, eram ativistas dos Direitos Humanos em seus programas de gestão do Estado. Defendiam o Estado democrático de direito e, especialmente, Marielle era uma mulher, negra, líder de periferias no Rio de Janeiro. Marielle se tornou alvo de Jair Bonsolnaro e de seus seguidores, que em campanha eleitoral chegaram a arrancar e quebrar uma placa em via pública que homenageava a vereadora assassinada impunemente. A tese de Mestrado em Administração, escrita por Marielle, na Universidade Federal Fluminense se intitulava “UPP – A Redução da Favela a Três Letras: Uma Análise da Política de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro”. Em suas considerações finais Marielle deixa clara a política que defendia:
“Ao final deste trabalho, arrisca-se afirmar que o mais correto, se estivesse em jogo uma alteração qualitativa na política de Estado e de Segurança Pública, seria nominar as UPPs de Unidades de Políticas Públicas, por se tratarem de uma necessária mudança cultural em territórios nos quais a presença do Estado não ocorre na completude.”(Pag.123-Tese de Mestrado – Franco Marielle – Universidade Federal Fluminense).  
Fica bastante evidente a vulnerabilidade do sistema democrático em uma população sem senso crítico, poluída por inverdades e motivada à cultura do esquecimento, que lhe reserva a grande possibilidade de sustentar governos autoritários pelo mais absoluto abandono de sua história. A relativização dos Direitos Humanos presentes nesse processo nos deixa grandes questões: O que são direitos humanos? Como surgiram e de onde vieram?
A HISTÓRIA DOS DIREITOS HUMANOS
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a história dos direitos humanos inicia com o Rei Persa, Ciro II O Grande, em 539 a.C.. Em 1879, foi descoberto o Cilindro de Ciro, que foi traduzido pela ONU e distribuído para todos os países em 1971. Atualmente o objeto encontra-se exposto em um museu britânico. Antes de Ciro, as populações eram vulneráveis à tirania daquele que vencesse a guerra. Se a pessoa estava no lado certo se dava bem, se estava no lado de quem perdia a batalha virava escravo ou corria risco de ser morto. Porém, quando Ciro tomou a cidade da Babilônia libertou os escravos e permitiu a liberdade religiosa dos povos de seu império, que fora o maior até então conhecido pela humanidade.
As ideias de Ciro II se espalharam pela Índia, Grécia e Roma. Em Roma, foi quando se teve a ideia de que existe uma Lei Natural, que é seguida por todos, mesmo por aqueles que desconheciam os códigos legais. A ideia da lei natural foi debatida ao longo da história da humanidade contra os detentores do poder até que em 1215, o Rei João, da Inglaterra redigiu a “Carta Magna”. A redação desta carta garantia o direito da existência da igreja sem interferências do governo, além de afirmar que todos os cidadãos livres tinham direito de herdarem a propriedade privada e de serem protegidos de impostos excessivos. O documento foi redigido mediante pressão dos súditos do Rei João, após a majestade ter contrariado e violado inúmeros costumes populares. Nesta Carta Magna também encontramos o estabelecimento do princípio de um processo legal que colocava todos em igualdade perante a lei e condenava subornos e a má conduta oficial. Nem mesmo o Rei poderia contrariar a Carta Magna assinada por ele.
 Em 1628 o Parlamento Inglês avançou e instituiu mais um marco histórico do direito, com o objetivo de proteger a população das arbitrariedades dos modelos políticos absolutistas vigentes na época. Nesse ano o Parlamento Inglês redigiu a Petição de Direito, contendo quatro princípios de liberdades civis. O primeiro afirmava que nenhum tributo poderia ser imposto sem o consentimento do Parlamento Inglês. O segundo afirmava que nenhum súdito poderia ser encarcerado sem o motivo demonstrado, quando se reafirmou o princípio do direito de habeas corpus. O terceiro proibia o aquartelamento de soldados nas casas dos cidadãos. E o quarto afirmava que a Lei Marcial não poderia valer em tempos de paz. Os direitos postos na Petição do Parlamento Inglês tinham por objetivo limitar a ação autoritária característica no absolutismo monárquico.
Com a declaração de independência dos Estados Unidos, em 1776, no dia 4 de julho, o Congresso aprovou um documento histórico sob a liderança de Thomaz Jefferson que anunciava que as 13 colônias americanas não faziam mais parte do Império Britânico. O documento ainda enaltecia os direitos individuais e o direito a revolução. Essas ideias se difundiram internacionalmente influenciando também o Continente Europeu. A declaração de independência apontava os contorno da ideia de direito que compreendemos hoje e certamente influenciou o advento da Revolução Francesa. Em 1787 foi formulada, em um verão na Filadélfia, a Constituição dos Estados Unidos. É a mais antiga constituição nacional escrita que está vigente até os dias de hoje. Ela estabelece os principais órgãos de governo e suas jurisdições e os direitos básicos dos cidadãos. Ainda nos Estados Unidos, em 1791, entrou em vigor, no dia 15 de dezembro, a Declaração de Direitos, que é composta pelas 10 primeiras emendas que limitam os poderes do Governo Federal e protege os direitos de todos os cidadãos, residentes e visitantes no território dos Estados Unidos. Neste capítulo da história do direito é possível perceber que a estrutura foi criada para impedir estados autoritários.
No Continente  Europeu, em 1789, mais especificamente na França, foi firmado mais um capítulo da história do direito com a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. O documento foi redigido pela Assembleia Constituinte Nacional como o primeiro passo para a redação da Constituição da República da França. O fato ocorreu seis semanas após a queda da Bastilha e três semanas depois da abolição do feudalismo. O documento garante direitos de liberdade, a propriedade, a segurança e resistência à opressão. Mesmo na Revolução Francesa os direitos emergem com o objetivo de proteger o povo de ações arbitrárias de seus governos, garantindo um conjunto de direitos que se estendem a todas as pessoas. No entanto, a ideia do direito sempre se mantinha nos limites territoriais do governo que o definia.
Foi em Genebra, em 1864, que essa lógica do direito tomou proporções que envolveram diversos governos, com a pretensão de estabelecer regras universais. A Convenção de Genebra foi adotada por 16 países europeus e vários estados americanos que tinha por objetivo proteger soldados feridos em guerras. Os fundamentos desta convenção foram mantidos em outras convenções futuras especificando a obrigação de ampliar o cuidado, sem discriminação, ao pessoal militar ferido ou doente, mantendo o respeito sobre os transportes de pessoal médico e equipamentos distinguidos pela cruz vermelha com um fundo branco. A iniciativa adotada pelo Conselho de Genebra abria as portas para uma futura convenção capaz de acordar entre as nações de todo o Planeta, um conjunto de direitos que poderiam ser considerados universais.
Porém, o século XX foi marcado pelo totalitarismo. Ainda assim, um jovem advogado indiano chamado Mahatma Gandhi enfrentou a violência desenfreada da humanidade em uma campanha para que todas as pessoas do Planeta tivessem direitos. Alguns países europeus começaram a concordar, mas duas guerras mundiais sepultaram suas ideias. Nunca a proposta dos Direitos Humanos esteve tão próxima da extinção, assim como a própria humanidade. Hitler, em uma das interfaces fascistas experimentadas pela humanidade, exterminou metade da população judaica da Terra em campos de concentração terríveis, com o advento do Holocausto. Nunca o mundo esteve tão desesperado por mudanças, quando diversos países do Planeta criaram a Organização das Nações Unidas (ONU), com o propósito de reafirmar a fé nos direitos humanos fundamentais, na dignidade e valor da pessoa humana.
  Em uma Assembleia Geral da ONU, sob a coordenação de Eleonor Roosevelt, viúva de Franklin Roosevelt, que sempre foi uma defensora dos direitos humanos, conseguiu organizar as forças necessárias para sistematizar em 30 artigos um documento semelhante a Carta Magna, com caráter internacional que serviria a toda a humanidade. O documento foi adotado no dia 10 de dezembro de 1948 e denominado Declaração Universal dos Direitos Humanos. Pela primeira vez na história da humanidade um documento reunia, desde o Cilindro de Ciro II, uma compilação de direitos universais que foram pactuados pela Organização das Nações Unidas. Esse documento é a principal referência para as constituições de diversas nações do Mundo. O artigo 5º da Constituição Federal do Brasil é fortemente influenciado pela Declaração Universal dos Direitos Humanos.  
No entanto, essa formalidade toda não impede que pessoas continuem morrendo de fome, que tenhamos governos autoritários, que tenhamos regimes escravos, discriminação racial, xenofobia, posturas políticas que promovem verdadeiros genocídios nas populações humanas. Sabemos das motivações da humanidade, ao longo de sua história, de esculpir o que conhecemos hoje como os Direitos Humanos. Podemos deduzir as intenções de quem se sente diminuído ao ter que respeitar a humanidade, seus direitos e compreende essa plataforma ética positivada como um entrave em seus planos. Podemos compreender que governos autoritários, que promovem a escravidão, a injustiça social, a destruição do meio ambiente, a desvalorização étnico racial, que promove o machismo subordinando as mulheres a salários inferiores na mesma função de homens, com jornadas de trabalho dobradas, sem o devido reconhecimento de seus direitos na hora da aposentadoria. Da mãe progenitora que fica com o encargo de cuidar de seus filhos ao tempo que o homem se desprende do núcleo familiar e nada contribui gerando pobreza, sofrimento e injustiças. Governos que assim podem identificar os Direitos Humanos como um entrave aos seus planos.
BRASIL, DIREITOS HUMAOS E O MUNDO
A comunidade internacional demonstra grande preocupação com a onda fascista que assola a sociedade brasileira. A legitimação das violações dos direitos humanos tomadas como plataforma de campanha de Jair Bolsonaro provocaram reações em Genebra. No dia 29 de agosto, do corrente ano, o alto comissário da Organização das Nações Unidas, Zeid Al Hussein, em uma entrevista coletiva divulgada pelo Jornal Estado de São Paulo, qualifica o discurso de Bolsonaro como perigoso. No curto prazo para minorias e no médio e longo prazos para o Brasil como um todo. As políticas econômicas adotadas no período pós golpe de 2016 já afetam a população como um todo, promovendo a concentração de renda, que torna ainda mais ricos uma pequena parcela da população ao tempo que emerge um amplo contingente de miseráveis, desempregados e desassistidos.
A realidade brasileira é motivo de preocupação por defensores da democracia e dos direitos humanos de todo o Planeta. Nos dias 17 e 18 de novembro, do corrente ano, em Buenos Aires, na Argentina, aconteceu a reunião do Conselho Latino-americano de Ciências Sociais, em que um de seus temas centrais foi a realidade brasileira. Nos dias 19 a 23 de novembro, seguiu-se em Buenos Aires a 8ª Conferência Latino-americana e Caribenha de Ciências Sociais com o tema: “As lutas pela igualdade, pela justiça social e pela democracia em um mundo turbulento”. Nesse período foi realizado o Primeiro Fórum Mundial do Pensamento Crítico, em uma reação a onda conservadora que assola o Planeta. O Brasil foi um dos principais protagonistas deste encontro internacional, que contou com a ex-presidenta Dilma Rousseff, Manuela D’ávila e Guilherme Boulos, que foi candidato a presidência da república pelo PSOL, nos principais painéis para falar para uma plateia de cerca de 50 mil pessoas de todo o mundo.
Eu participei das atividades em Buenos Aires e as faixas de recepção do evento traziam palavras de ordem como: “Lula Livre” e “Marielle Vive”. Lá eu presenciei o esforço desta comunidade internacional de acadêmicos ligados às ciências sociais em desenvolver mecanismos e estruturas que possam frear o avanço dos governo autoritários, que disseminam o ódio e buscam edificar um clima de guerra no Planeta. Diante da passividade e da legitimidade dada pela sociedade brasileira ao governo fascista que se apresenta, nos faz crer que os espaços educativos sejam as últimas fronteiras da civilidade.
No entanto, os horizontes nos mostram caminhos turbulentos e imprevisíveis. Confirmando as teses do golpe de estado, o juiz Sergio Mouro, que prendeu Lula, será o Ministro da Justiça de Jair Bolsonaro. Tudo indica que o procurador da Lava Jato, Daltan Dallagnol, também deve integrar seu governo. Um corpo reconhecidamente corrupto incorporou o primeiro escalão e trabalhará ao lado de Sérgio Mouro sem nenhum questionamento. Além dos corruptos, o governo também contará com um grupo de generais militares que foram colocados na articulação política com o congresso. O chefe da Casa Civil, Onix Lorenzone é réu confesso em esquemas de corrupção e a cada dia fica mais evidente que Jair Bolsonaro é a sucessão de Michel Temer, que também deve permanecer em seu governo, assim como o MDB. Os planos desta gestão estão focados na entrega do petróleo e das riquezas naturais do Brasil, além de subjugar o desenvolvimento do povo brasileiro aos interesses orientados pelos Estados Unidos, que outrora foram frustrados com a queda da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA), que está sendo reeditada por dentro do próprio governo brasileiro. Ao concluir este artigo, a notícia corrente nos veículos de comunicação é a flagrante subserviência de Bolsonaro ao Governo de Donald Tramp, para quem o presidente brasileiro presta continências.
Em sua palestra no Primeiro Fórum Mundial do Pensamento Crítico, o sociólogo português Boaventura de Souza Santos fez referência a falta de autocrítica por parte dos governos liderados pelo Partido dos Trabalhadores no Brasil. Em um esforço para atender a provocação do sociólogo, talvez seja importante relembrar que se não produzimos uma educação libertadora, pouco importa a melhora nas condições sociais e econômicas. Pois quando a educação não é libertadora o sonho do oprimido é um dia ser opressor. Penso nisso a todo momento quando vejo meus colegas de aula, que estão tendo a oportunidade de fazer um curso superior na Universidade Federal de Pelotas, no Polo UAB 04, por conta das políticas implementadas por Lula, que revolucionou o acesso ao ensino superior no Brasil. No entanto, preferem acreditar que o melhor é o estado-mínimo e os cortes dos investimentos sociais, sem compreender que esse corte lhe custará seu próprio curso. Se isso ocorre na minha sala de aula, podemos deduzir como o relativismo generalizado, a falta de senso crítico abalou a estrutura cultural da sociedade brasileira.
No entanto, um dos palestrantes do Primeiro Fórum Mundial do Pensamento Crítico, ex-presidente da Colômbia, Ernesto Samper, ao trazer essa desconfortável realidade, lembrou a todos que “o período mais escuro de uma noite acontece uma hora antes do amanhecer”. É uma mensagem de esperança que remonta a luta e o exemplo de Mahatma Gandhi e sua importância histórica para que a ideia dos Direitos Humanos pudesse resistir a duas guerras mundiais e se consolidar com a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Um exemplo de resistência que deve servir aos brasileiros que tendem a enfrentar um período político de autoritarismo, de segregação econômica e social.     





Referências bibliográficas
CASARA Rubens, O Estado Pós-democrático, Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 2017.
SANTOS Boaventura de Souza, A Difícil Democracia: Reinventar as Esquerdas, Boitempo, Coimbra, 2016.
FREIRE Paulo, Pedagogia do Oprimido, Paz e terra, Rio de Janeiro/São Paulo, 65ªed. 2018.
SOUZA Jessé, A Elite do Atraso: Da escravidão à Lava Jato. Leya, Rio de Janeiro, 2017.
FRANCO Marielle, UPP – A redução da favela a três letras: Uma análise da política de segurança pública do Estado do Rio de Janeiro, Universidade Federal Fluminense, 2014.
VARGAS, Getúlio, A Política Trabalhista do Brasil, Livraria José Olympio Editora, Rio de Janeiro, 1949.
O PPROCESSO. Direção: Maria Ramos. Documentário. Brasil, 2018.
LESBAUPIN Ivo. Portal IHU. Do “impeachment” de Dilma à prisão de Lula: o golpe continua. Instituto Humanitas Unisinos, Revista IHU On-Line, abril, 2018. Disponível em: < http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/578937-do-impeachment-de-dilma-a-prisao-de-lula-o-golpe-continua-em-edicao>. Acesso em novembro. 2018.
WEISSHEIMER Marco. Portal Sul 21. Golpe, estado de exceção e repressão nas ruas: a democracia brasileira em 2016. dezembro, 2016. Disponível em: < https://www.sul21.com.br/areazero/2016/12/golpe-estado-de-excecao-e-repressao-nas-ruas-a-democracia-brasileira-em-2016/>. Acesso em novembro. 2018.
Portal TSE. Calendário eleições, 2018. Disponível em: < http://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2018/Janeiro/eleicoes-2018-2013-confira-o-calendario-com-as-principais-datas>. Acesso em novembro. 2018. 
Portal G1. Desigualdade de renda para de cair no Brasil após 15 anos, e número de pobres cresce, aponta ONG. Novembro, 2018. Disponível em: < https://g1.globo.com/economia/noticia/2018/11/26/desigualdade-de-renda-para-de-cair-no-brasil-apos-15-anos-e-numero-de-pobres-cresce-aponta-ong.ghtml>. Acesso em novembro. 2018.
Portal estadão: Discurso contra direitos humanos de Bolsonaro é “perigoso”, diz alto comissário da ONU. 29 agosto, 2018. Disponível em: < https://politica.estadao.com.br/noticias/eleicoes,discurso-contra-direitos-humanos-de-bolsonaro-e-perigoso-diz-representante-da-onu,70002478093>. Acesso em novembro. 2018.



[1] Em 1943, editou a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), um conjunto de normas criadas desde os anos 30 para proteger o trabalhador. 
Getúlio fez uma comissão para estudar a legislação trabalhista e compilar aquelas regras num único texto de lei. 
As leis criadas no governo de Getúlio Vargas determinaram: 
- criação do salário mínimo e da carteira de trabalho;
- jornada diária de 8 h; 
- direito a férias anuais remuneradas; 
- descanso semanal e direito à previdência social;
- regulamentação do trabalho do menor e da mulher. 
[2] O Programa Bolsa Família (PBF) é um programa de transferência de renda do Governo Federal, sob condicionalidades, instituído no Governo Lula pela Medida Provisória 132, de 20 de outubro de 2003[1], convertida em lei em 9 de janeiro de 2004, pela Lei Federal n. 10.836,[2] que unificou e ampliou diversos programas anteriores de transferência de renda.
[3] O assassinato de Marielle Franco, vereadora do Rio de Janeiro pelo PSOL, foi um crime executado no dia 14 de março de 2018, no Estácio, região central da cidade. Os criminosos estavam em um carro que emparelhou com o da vereadora e efetuaram vários disparos, que também mataram o motorista. Embora em fase inicial, a investigação conduzida pelas autoridades aponta para motivações políticas.

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

A alegria idiota de imbecis prova desconhecimento do projeto eleito


Charles Scholl*

Algumas pessoas minimamente lúcidas já demostram estar preocupadas. Já é evidente que, diante do cenário, algumas preocupações são pertinentes. Não basta dizer que estamos cercados de imbecis. O projeto quer anular a criticidade, que é um elemento fundamental para o desenvolvimento humano na contemporaneidade. Pois dela decorre a possibilidade do desenvolvimento econômico, seja pelo registro de patentes, ou toda a cadeia produtiva que decorre da geração de novas tecnologias. Ela funciona como elemento cognitivo promotor do processo evolutivo das sociedades, ao favorecer afetos que motivam a superação dos limites da certeza e abrem as janelas do universo criativo. É a criticidade que desafia constantemente os limites do mundo compreendido e é a principal responsável em gerar mais conhecimento.
A ideia da idiotização eleita é uma ideia de poder que se engendra pelos indicados ao posto da educação, que orbita em torno de interesses militares. A perspectiva remonta o período de 1964, que foi o pior período para a reflexão filosófica, pois foi proibida e EXTINTA pela Lei 5692/71. Ainda o governo, por meio da censura, criminalizou o exercício do pensamento. Quando vejo pessoas segurando cartazes afirmando não terem sofrido repressão no período da Ditadura Militar, a ideia da idiotização nos ajuda a compreender os motivos.
Penso que é preciso apontar onde está a ruptura social, política e estética que vivemos. Nossa educação, por meio da regulamentação presente na Lei 9394/98, aponta para axiomas positivados que definem o conceito de cidadania promovendo os seguintes valores:
"1)Os fundamentais ao interesse social, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem comum e à ordem democrática;
2) os que fortaleçam os vínculos de família, os laços de solidariedade humana e de tolerância recíproca." (completamente atípica e estranha a política eleita)
Qual o conflito? leia como a norma se desdobraria em ações pedagógicas.
I. a Estética da Sensibilidade, que deverá substituir a da repetição e padronização, estimulando a criatividade, o espírito inventivo, a curiosidade pelo inusitado e a afetividade, bem como facilitar a constituição de identidades capazes de suportar a inquietação, conviver com o incerto e o imprevisível, acolher e conviver com a diversidade, valorizar a qualidade, a delicadeza, a sutileza, as formas lúdicas e alegóricas de conhecer o mundo e fazer do lazer, da sexualidade e da imaginação um exercício de liberdade responsável;
II. a Política da Igualdade, tendo como ponto de partida o reconhecimento dos direitos humanos e dos deveres e direitos da cidadania, visando à constituição de identidades que busquem e pratiquem a igualdade no acesso aos bens sociais e culturais, o respeito ao bem comum, o protagonismo e a responsabilidade no âmbito público e privado, o combate a todas as formas discriminatórias e o respeito aos princípios do Estado de Direito na forma do sistema federativo e do regime democrático e republicano;
III. a Ética da Identidade, buscando superar dicotomias entre o mundo da moral e o mundo da matéria, o público e o privado, para constituir identidades sensíveis e igualitárias no testemunho de valores de seu tempo, praticando um humanismo contemporâneo, pelo reconhecimento, pelo respeito e pelo acolhimento da identidade do outro e pela incorporação da solidariedade, da responsabilidade e da reciprocidade como orientadoras de seus atos na vida profissional, social, civil e pessoal**.
É isso que está em cheque quando generais são cotados a assumir a educação. O movimento dá inicio às promessas eleitorais ao promover uma ampla campanha contra a universalização do saber principalmente na formação superior que será dirigida "somente aos notáveis". Poderemos encontrar os "notáveis" pela conta bancária e CEP. Então a pessoa que mora na periferia e optou pela perpetuação de sua condição de miserabilidade o fez sob mentiras, desconhecimento e ignorância. Uma pessoa jamais tomaria tal decisão em posse plena de suas faculdades mentais, pela insensatez em si presente nesta decisão. Resumindo...... elegeram uma mentira, mas terão que conviver com a verdade.
*Acadêmico Licenciatura em Filosofia

** Ciências humanas e suas tecnologias / Secretaria de Educação Básica. – Brasília : Ministério
da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2006.
133 p. (Orientações curriculares para o ensino médio ; volume 3)
ISBN 85-98171-44-1
1. Conteúdos curriculares. 2. Ensino médio. 3. Filosofi a. 4. Geografi a. 5. História. 6. Sociologia.
I. Brasil. Secretaria de Educação básica.


quinta-feira, 7 de junho de 2018

Sobre a vitória dos Petroleiros do Brasil


A FUP – Federação Única dos Petroleiros, fez um movimento nacional extraordinário, sob a perspectiva de uma estratégia de levar uma mensagem ao povo brasileiro. Lançaram uma greve de 72 horas. Pediram a saída de Pedro Parente e a mudança na política econômica da Petrobras, apontando ser a verdadeira responsável pelas altas de combustíveis. A perspectiva apresentada pelos petroleiros promoveu um constrangedor contraponto ao governo Temer, ao mercado e sua assessoria de imprensa chamada Rede Globo. Os petroleiros disseram que não basta reduzir por três meses o valor do diesel ao custo de recursos de programas sociais, pois o motivo do preço é outro. O governo disse que atendeu todos os objetivos da pauta do movimento dos caminhoneiros, que focava somente o valor do diesel.
Nesse contexto que entra a greve dos petroleiros. Logo o Superior Tribunal do Trabalho julgou a greve como ilegal por não requerer questões trabalhistas, mas ideológicas. Os aparatos policiais foram postos em postura de guerra para manter a política econômica, os altos preços dos combustíveis e os interesses dos investidores, que estão ganhando com o dinheiro a mais que nós pagamos na gasolina. Pelo governo, eles colocaram as forças policiais contra nós e corromperam os poderes Judiciário e Legislativo.  O Poder Legislativo já estava corrompido por grupos econômicos internacionais, por meio de financiamentos de campanha eleitoral. O Judiciário entrou publicamente para o grupo de corruptos após a fala de Jucá, que antecipou, em síntese, todos os acontecimentos importantes do golpe “envolvendo o supremo e tudo....”.
O conteúdo editorial da rede globo sustentou o acordo do diesel e transformou seus heróis caminhoneiros em bandidos que estavam bloqueando as estradas em menos de duas horas. Os movimentos que sucederiam o acordo eram criminosos e políticos, pois defendiam interesses partidários, segundo as mensagens dos telejornais. A massa logo aderiu a ideia, mas ficou uma leve lembrança de que continuarão a pagar a gasolina e o gás mais caros, mas decidiram ver o que ia acontecer. Uma das principais coisas foi o movimento da FUP e a denúncia da política econômica. Sem adesão popular, com exceção de alguns pironaltas dementes que decidiram gritar qualquer coisa envolto de bandeiras e assoprar vunvuzelas, os petroleiros decidiram fazer algo diferente. Decidiram promover uma Aula Pública na Refap para falar sobre o tema e explicar o que está acontecendo. Eu participei da aula e vou relatar os conteúdos em um próximo artigo. O movimento derrubou o Parente, mas os jornais mostram que Ivan Monteiro, que assumiu seu lugar é fiel defensor da política entreguista. Todo mundo está falando da política econômica, que demonstra que os Petroleiros acertaram na estratégia. Agora todos dependemos da capacidade de discernimento das pessoas.

terça-feira, 5 de junho de 2018

Esparta Cerveja Artesanal apresenta a Dr. Scholl, uma cerveja Belgian Tripel, composta com oito grãos e temperada com dois lúpulos. Charles Scholl nos apresenta a cerveja, desde de sua gênese, composição e harmonização. Para provar se manifeste!!!! contatoesparta@gmail.com.


segunda-feira, 2 de abril de 2018

A mente brilhante anunciada


Charles Scholl
acadêmico de filosofia
Na condição de estudante do curso de Licenciatura em Filosofia, matriculado no primeiro semestre de 2018, participei da aula magna aos estudantes dos cursos do Polo Esteio da Universidade Aberta do Brasil (UAB). Compreender as estratégias de expansão das universidades federais gaúchas, que se utilizam dos polos regionais como meio, foi fascinante. Os resultados alcançados pelo coordenador do Polo UAB, Cláudio Luciano Dusik e pela sua assessora, Cíntia Cruz da Costa foram extraordinários. Assim como a manifestação de abertura do evento protagonizada pelo professor Cláudio Luciano Dusik, um exemplo de persistência e superação.
A palestra principal ficou por conta do Secretário Estadual de Comunicação Social, Cleber Benvegnú, considerado pelo prefeito Leonardo Pascoal, como uma das mentes mais brilhantes do RS. Em seu discurso, o palestrante explanou a ideia de que as grandes mudanças devem começar pelos indivíduos. Suas intenções apontavam para uma reflexão sobre o papel do indivíduo na sociedade. Falou também sobre princípios de sociabilidade, em que os indivíduos se sentem coagidos a adotar comportamentos adequados em público. De forma muito espirituosa citou como exemplo a possibilidade de muitos estudantes presentes talvez tivessem a vontade de peidar, no entanto, não procederiam desta maneira pelo fato de estarem em público.  Algo que poderíamos compreender com o conceito de coerção, de Émile Durkheim, que estudamos no semestre passado. Ao evoluir em sua linha de pensamento, o palestrante introduz a ideia de sofrência.
A filosofia da sofrência, segundo o orador, nos mostra que todas as conquistas da vida são resultados de muita sofrência. Que o sofrimento é fundamental para o sucesso. Logo inicia uma apresentação de vídeo com Margaret Thatcher falando sobre economia e Estado. Enaltecendo a direita no parlamento Inglês, a líder internacional do neoliberalismo sustentava posições que a Inglaterra devia adotar de austeridade com os recursos públicos. Em posse desse escopo ideológico, Cleber discorreu sobre a sustentabilidade na política do Governo do Estado, que demonstrou o brilhantismo do orador anunciado pelo Prefeito de Esteio.
Em minha condição de estudante de filosofia, não posso me furtar de fazer algumas observações. A primeira delas é que os representantes das universidades federais demonstraram claramente o esforço e o animo de prospectar para além dos muros dos campos universitários possibilidades de cursos superiores. No Brasil, a crise na educação é um projeto político, como bem nos lembrou Darci Ribeiro. Mas que projeto político seria esse? Trata-se do neoliberalismo e a luta pelo estado mínimo que tem provocado a destruição do orçamento da educação restringindo todas as animadoras possibilidades apresentadas pelos representantes das universidades federais. Os professores falavam de uma animação que pertence ao passado. Uma animação possível de ser percebida pela comunidade acadêmica quando foi descoberto o pré-sal e que, por um decreto, o Governo Federal destinaria 75% destas riquezas para a educação. Uma alegria que se perdeu pelas políticas apresentadas pelo palestrante principal.
Em suas lâminas expostas no telão da Câmara de Vereadores o palestrante apresentou algumas questões que explicitaram seu conteúdo ideológico. A lista inicia com excesso de estado, passa pela falta de cultura de deveres, segue pela cultura estadista e conclui com a cultura egoísta. A ideia de mente brilhante anunciada pelo prefeito se esvaia pelas minhas mãos na medida que ia compreendendo a audácia e a coragem do palestrante. Como um mensageiro das ideologias do golpe, ele deixa claro que a situação das comunidades acadêmicas é cada vez mais triste. A criação, ampliação e extensão da atuação das universidades federais no Rio Grande do Sul foi realizada em outros tempos, sob outras perspectivas políticas. A partir do golpe de 2016, que submeteu o Brasil em um estado de exceção pela violação de preceitos constitucionais, uma outra forma de governar, representada por Aécio Neves e rejeitada pela população brasileira foi adotada no Brasil. As restrições vividas pelas universidades federais decorrem da ideia de estado mínimo implementadas pelo governo federal em uma gestão golpista e ilegítima.
Além da questão política, que merece ser pontuada pela retidão e fidelidade apresentada pelo orador, existe uma questão que se debruça sobre os largos ombros dos estudantes presentes na aula. As posturas políticas de sustentação de privilégios orquestradas e implementadas pelo governo Sartori, no Rio Grande do Sul, e pela presidência de Temer, em nível nacional, desconstituem a ideia do orador que busca transferir aos indivíduos a atual crise vivida pelos brasileiros. Ou seja, esse modelo de governo é fundamentado em mentiras que foram nacionalmente desmentidas, tais como a tentativa da reforma da previdência. A propaganda oficial do governo federal sobre o tema chegou a ser retirada do ar por conta do conteúdo mentiroso. Governos que se fundamentam em mentiras não devem olhar a educação, pelos seu conteúdo esclarecedor, como algo positivo. De acordo com a CPI da Previdência, esse grupo político forjou informações falsas buscando encobertar grandes devedores, como bancos, grandes empresas, ruralistas e o próprio governo federal. Então diziam que a previdência dava prejuízo, sendo que os Auditores Fiscais do Tesouro Nacional afirmam que a previdência é superavitária. Uma prática política levada com tranquilidade e muito bem representada pelo orador.
Diante da flagrante mentira protagonizada pelo grupo político do brilhante orador, que demonstra a conduta moral que organiza a agenda destes militantes partidários, ainda resta a postura hipócrita de atribuir aos indivíduos as nefastas consequencias das políticas neoliberais. Enquanto isso, implementam medidas administrativas que distribuem por livre concessão às petrolíferas internacionais os recursos que deveriam subsidiar uma geração de acadêmicos, cientistas e criadores de novas tecnologias que edificariam um novo Brasil. Diante desse quadro, vale o exercício cínico de tratar com respeito o representante da destruição da inteligência gaúcha, com o fim da Fundação Estadual de Estudos Estatísticos, Fundação Zoobotânica e a Metroplan. Tudo destruído pela aplicação de uma ideologia sustentada por políticos entreguistas, que buscam despistar suas máculas nefastas com pirotecnias que funcionam em ressonância com a ignorância e desinformação geral, tal como  denunciaram deputados da Assembleia Legislativa gaúcha. 

Uma palestra esclarecedora que demonstra a demência daqueles que sustentam as posturas neoliberais, portadores de uma ética egoísta que lhes autoriza contrariar interesses públicos de ampla maioria dos gaúchos em prol da defesa de interesses particulares que orbitam em torno de privilégios de uma minoria. Pois, caso a ideologia pregada pelo orador fosse hegemônica, não existiria Polo de Universidade Aberta que pudesse lhe ceder um palco para falar aos estudantes, não existiria sequer universidade federal. Um palestrante que marca de forma brilhante essa fase deplorável que vivemos, em que as políticas de Estado favorecem a evasão escolar e secretários de educação comemoram o fechamento de escolas. O palestrante soube apresentar a faceta velha e decrépita do neoliberalismo, que é considerada superada pela imensa maioria dos países e só pode ter sucesso diante de uma população desinformada e despolitizada. Por isso os neoliberais sustentam esse projeto de destruição da educação. Por sorte, por persistência e competência o Polo UAB de Esteio caminha na contramão desta corrente ampliando suas turmas e levando o ensino superior onde jamais esteve no Brasil. 
contatoesparta@gmail.com

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

INSTRUMENTOS MUSICAIS, UM MEIO PARA ENCANTAR O AMBIENTE

 Charles Scholl
O presente artigo tem por objetivo decantar as experiências obtidas em todas as etapas da produção do Plano de Aula que culminou em um seminário com a apresentação do respectivo plano. Participei do Grupo 10, do Polo Esteio, que teve como tema o Meio Ambiente. Após vencer os desafios pertinentes aos trabalhos em grupo composto por pessoas com vidas, horários e cotidianos distintos, selecionamos um tema específico que uniria música, arte, trabalhos manuais, ressignificação do termo lixo, teorias de sustentabilidade em torno de um novo olhar sobre o meio ambiente.
Nosso plano de aula tratou da reciclagem utilizando a música como fator motivador. O grupo dividiu a tarefa em capítulos e me coube apresentar o oitavo, que tratava da metodologia. No entanto, penso que é fundamental ingressar no desenvolvimento do tema proposto para que seja possível trazer às palavras algo mais próximo da real experiência decorrente desta tarefa acadêmica.
Em que contexto podemos compreender a ideia de meio ambiente atualmente? Responder a essa questão foi meu primeiro passo, já que as literaturas presentes nos temas transversais poderiam ser consideradas superficiais diante da abordagem escolhida pelo grupo. Os conteúdos presentes na cartilha Parâmetros Curriculares Nacionais – Meio Ambiente, disponibilizada pelo portal do Ministério da Educação, justificam a importância do tema e os desafios de trata-los em sala de aula. Neste espaço se ancora a grande tarefa de mudar hábitos por meio da transmissão de conhecimentos e vivências, que venham a contribuir para uma nova geração de pessoas conscientes de suas responsabilidades com o meio ambiente.
Aferir um processo educativo com pretensões de mudança comportamental seduziu-me a extrapolar para outras literaturas. Em virtude da atual formação acadêmica, a opção pela filosofia foi irresistível, principalmente com as liberdades pertinentes a calouros em seu primeiro semestre. A ecosofia, um neologismo criado por Félix Guattari, autor da obra As Três Ecologias, me pareceu a melhor abordagem teórica para dar conta dos desafios. Já que para intervir em padrões comportamentais consolidados é preciso desconstruir e ressignificar valores em todas as relações da intervenção humana. A obra “As três ecologias” sugere, em síntese, uma forma de organizar nossa relação com o meio ambiente pela perspectiva do comportamento. Ela parte da relação ecológica que o ser tem com seu ambiente mental e sugere uma revisão sobre os hábitos pessoais. Em um segundo momento o ambiente social em que essa pessoa está inserida também é objeto de análise e revisões de hábitos sociais. A terceira ecologia é a relação deste ser com o meio ambiente que vive. Desta fase é que surge a ideia da sustentabilidade. Com isso, resolvemos a questão dos conteúdos, como podem ser organizados e o princípio da ideia de ressignificação do conceito de lixo, ao utilizar materiais que normalmente são descartados e transforma-los em brinquedos sonoros, ou instrumentos musicais.
Além do conteúdo programático ofertado por Félix Gattarri, a ideia de utilizar a música favorece o desenvolvimento cognitivo, como afirma a professora doutora Elvira Sousa Lima: “Há evidências de que a apropriação da sintaxe musical tem impacto positivo na sintaxe linguística e em outros domínios da cognição” (LIMA, Elvira. Cérebro Musical. Revista Presença Pedagógica, São Paulo, edição nº95, setembro/outubro 2010).
Desde Emilio, ou da Educação, de Jean-Jacques Rousseau, podemos compreender com mais clareza a moderna pedagogia. Trata-se do pressuposto de que a aula a ser dada deve, por princípio, ser agradável e interessante ao estudante. A educação não deve ser algo odioso ou um castigo, como ocorriam com os educadores jesuítas muito criticados por Rousseau. Esses conteúdos seriam suficientes para embasar o Plano de Aula em questão, além de constituir a etapa mais educativa deste trabalho em grupo.
Referências:
GUATTARI, Felix. As três ecologias. 20ª ed. Trad. Maria Cristina F. Bittencourt. Campinas: Papirus, 2009, 56p.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Emílio, ou da educação. 1ª ed. Trad. Laurent de Saes. São Paulo: Edipro, 2017, 560p.
Ministério da Educação (MEC). Secretaria de Educação Fundamental (SEF). Parâmetros Curriculares Nacionais: apresentação dos temas transversais, Meio Ambiente. Brasília, DF: MEC/SEF, 1997b.

LIMA, Elvira. Cérebro Musical. Revista Presença Pedagógica, São Paulo, edição nº95, setembro/outubro 2010.