segunda-feira, 2 de abril de 2018

A mente brilhante anunciada


Charles Scholl
acadêmico de filosofia
Na condição de estudante do curso de Licenciatura em Filosofia, matriculado no primeiro semestre de 2018, participei da aula magna aos estudantes dos cursos do Polo Esteio da Universidade Aberta do Brasil (UAB). Compreender as estratégias de expansão das universidades federais gaúchas, que se utilizam dos polos regionais como meio, foi fascinante. Os resultados alcançados pelo coordenador do Polo UAB, Cláudio Luciano Dusik e pela sua assessora, Cíntia Cruz da Costa foram extraordinários. Assim como a manifestação de abertura do evento protagonizada pelo professor Cláudio Luciano Dusik, um exemplo de persistência e superação.
A palestra principal ficou por conta do Secretário Estadual de Comunicação Social, Cleber Benvegnú, considerado pelo prefeito Leonardo Pascoal, como uma das mentes mais brilhantes do RS. Em seu discurso, o palestrante explanou a ideia de que as grandes mudanças devem começar pelos indivíduos. Suas intenções apontavam para uma reflexão sobre o papel do indivíduo na sociedade. Falou também sobre princípios de sociabilidade, em que os indivíduos se sentem coagidos a adotar comportamentos adequados em público. De forma muito espirituosa citou como exemplo a possibilidade de muitos estudantes presentes talvez tivessem a vontade de peidar, no entanto, não procederiam desta maneira pelo fato de estarem em público.  Algo que poderíamos compreender com o conceito de coerção, de Émile Durkheim, que estudamos no semestre passado. Ao evoluir em sua linha de pensamento, o palestrante introduz a ideia de sofrência.
A filosofia da sofrência, segundo o orador, nos mostra que todas as conquistas da vida são resultados de muita sofrência. Que o sofrimento é fundamental para o sucesso. Logo inicia uma apresentação de vídeo com Margaret Thatcher falando sobre economia e Estado. Enaltecendo a direita no parlamento Inglês, a líder internacional do neoliberalismo sustentava posições que a Inglaterra devia adotar de austeridade com os recursos públicos. Em posse desse escopo ideológico, Cleber discorreu sobre a sustentabilidade na política do Governo do Estado, que demonstrou o brilhantismo do orador anunciado pelo Prefeito de Esteio.
Em minha condição de estudante de filosofia, não posso me furtar de fazer algumas observações. A primeira delas é que os representantes das universidades federais demonstraram claramente o esforço e o animo de prospectar para além dos muros dos campos universitários possibilidades de cursos superiores. No Brasil, a crise na educação é um projeto político, como bem nos lembrou Darci Ribeiro. Mas que projeto político seria esse? Trata-se do neoliberalismo e a luta pelo estado mínimo que tem provocado a destruição do orçamento da educação restringindo todas as animadoras possibilidades apresentadas pelos representantes das universidades federais. Os professores falavam de uma animação que pertence ao passado. Uma animação possível de ser percebida pela comunidade acadêmica quando foi descoberto o pré-sal e que, por um decreto, o Governo Federal destinaria 75% destas riquezas para a educação. Uma alegria que se perdeu pelas políticas apresentadas pelo palestrante principal.
Em suas lâminas expostas no telão da Câmara de Vereadores o palestrante apresentou algumas questões que explicitaram seu conteúdo ideológico. A lista inicia com excesso de estado, passa pela falta de cultura de deveres, segue pela cultura estadista e conclui com a cultura egoísta. A ideia de mente brilhante anunciada pelo prefeito se esvaia pelas minhas mãos na medida que ia compreendendo a audácia e a coragem do palestrante. Como um mensageiro das ideologias do golpe, ele deixa claro que a situação das comunidades acadêmicas é cada vez mais triste. A criação, ampliação e extensão da atuação das universidades federais no Rio Grande do Sul foi realizada em outros tempos, sob outras perspectivas políticas. A partir do golpe de 2016, que submeteu o Brasil em um estado de exceção pela violação de preceitos constitucionais, uma outra forma de governar, representada por Aécio Neves e rejeitada pela população brasileira foi adotada no Brasil. As restrições vividas pelas universidades federais decorrem da ideia de estado mínimo implementadas pelo governo federal em uma gestão golpista e ilegítima.
Além da questão política, que merece ser pontuada pela retidão e fidelidade apresentada pelo orador, existe uma questão que se debruça sobre os largos ombros dos estudantes presentes na aula. As posturas políticas de sustentação de privilégios orquestradas e implementadas pelo governo Sartori, no Rio Grande do Sul, e pela presidência de Temer, em nível nacional, desconstituem a ideia do orador que busca transferir aos indivíduos a atual crise vivida pelos brasileiros. Ou seja, esse modelo de governo é fundamentado em mentiras que foram nacionalmente desmentidas, tais como a tentativa da reforma da previdência. A propaganda oficial do governo federal sobre o tema chegou a ser retirada do ar por conta do conteúdo mentiroso. Governos que se fundamentam em mentiras não devem olhar a educação, pelos seu conteúdo esclarecedor, como algo positivo. De acordo com a CPI da Previdência, esse grupo político forjou informações falsas buscando encobertar grandes devedores, como bancos, grandes empresas, ruralistas e o próprio governo federal. Então diziam que a previdência dava prejuízo, sendo que os Auditores Fiscais do Tesouro Nacional afirmam que a previdência é superavitária. Uma prática política levada com tranquilidade e muito bem representada pelo orador.
Diante da flagrante mentira protagonizada pelo grupo político do brilhante orador, que demonstra a conduta moral que organiza a agenda destes militantes partidários, ainda resta a postura hipócrita de atribuir aos indivíduos as nefastas consequencias das políticas neoliberais. Enquanto isso, implementam medidas administrativas que distribuem por livre concessão às petrolíferas internacionais os recursos que deveriam subsidiar uma geração de acadêmicos, cientistas e criadores de novas tecnologias que edificariam um novo Brasil. Diante desse quadro, vale o exercício cínico de tratar com respeito o representante da destruição da inteligência gaúcha, com o fim da Fundação Estadual de Estudos Estatísticos, Fundação Zoobotânica e a Metroplan. Tudo destruído pela aplicação de uma ideologia sustentada por políticos entreguistas, que buscam despistar suas máculas nefastas com pirotecnias que funcionam em ressonância com a ignorância e desinformação geral, tal como  denunciaram deputados da Assembleia Legislativa gaúcha. 

Uma palestra esclarecedora que demonstra a demência daqueles que sustentam as posturas neoliberais, portadores de uma ética egoísta que lhes autoriza contrariar interesses públicos de ampla maioria dos gaúchos em prol da defesa de interesses particulares que orbitam em torno de privilégios de uma minoria. Pois, caso a ideologia pregada pelo orador fosse hegemônica, não existiria Polo de Universidade Aberta que pudesse lhe ceder um palco para falar aos estudantes, não existiria sequer universidade federal. Um palestrante que marca de forma brilhante essa fase deplorável que vivemos, em que as políticas de Estado favorecem a evasão escolar e secretários de educação comemoram o fechamento de escolas. O palestrante soube apresentar a faceta velha e decrépita do neoliberalismo, que é considerada superada pela imensa maioria dos países e só pode ter sucesso diante de uma população desinformada e despolitizada. Por isso os neoliberais sustentam esse projeto de destruição da educação. Por sorte, por persistência e competência o Polo UAB de Esteio caminha na contramão desta corrente ampliando suas turmas e levando o ensino superior onde jamais esteve no Brasil. 
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