terça-feira, 20 de abril de 2010

Computador, internet e a família do brasileiro

Charles Scholl
13metatron@gmail.com
www.charlesscholl.blogspot.com

A comunicação desde sempre é assunto de interesse de Estado. É um eixo estratégico do desenvolvimento humano. Embora os estadistas mais reconhecidos tenham tratado a comunicação como uma ferramenta de controle social pelos conservadores, os progressistas apontam para outra postura diante das modernas ferramentas de comunicação da atualidade. Ao invés do controle, a tecnologia aplicada ao desenvolvimento humano.
É muito interessante perceber como as políticas públicas se desdobram em mudanças na vida das pessoas. Os incentivos econômicos do Governo Federal tornaram os computadores mais acessíveis para uma população que deu um passinho à frente em seu poder aquisitivo. Tal comportamento pode ser percebido com ênfase em levantamentos recentes em que 36% dos domicílios brasileiros possuíam computador em 2009. É um número significativo para o Brasil, já que 28% dos brasileiros tinham a máquina em casa em 2008 . Esse crescimento significa que estão sendo instalados milhares de pontos de comunicação direta na casa das pessoas. A postura do estado brasileiro é a mesma da implantação da TV, que se constituiu como uma estratégia da criação da identidade brasileira , com ênfase ao período da ditadura militar. Ou como foi com o rádio no período do Estado Novo. Porém, não temos como comparar as tecnologias do rádio, da TV e seus efeitos sociais com as possibilidades de interação e de produção intelectual que um computador proporciona para uma família.
Por outro lado, o crescimento econômico parece não ser suficientemente rápido para instrumentar as famílias brasileiras com as parafernalhas necessárias à inclusão na rede. Então, percebem-se posturas que procuram incentivar àquelas parcelas da população que ainda estão desassistidas dos avanços tecnológicos, mas que são alfabetizadas e curiosas sobre as coisas do mundo. Mandar cartas eletrônicas, trocar informações com entes tão distantes quanto nosso território brasileiro possibilita. Viajar para além das fronteiras políticas e entrar em todos os países, todos os povoados, todas as etnias. Se comunicar em todos os idiomas sabendo um pouquinho de português, quase nada de computador e com a destreza de quem parece estar catando milhos ao digitar seus pensamentos. Nada disso impede o desenvolvimento de raciocínios e o uso de ferramentas disponíveis na rede torna o pensar algo mais democrático, popular, horizontal, que permite o ponto de vista de cada internauta.
Essas são algumas das possibilidades que essa revolução tecnológica proporciona. Obviamente que, tal como foi na invenção da escrita, nossa civilização terá uma mudança significativa no desenvolvimento humano. Faça o teste. Levante um questionamento sobre algo que desconhece. Formule a pergunta em uma pequena frase. Coloque no Google e pronto. A resposta é imediata e o tempo, ao invés de estar atrelado a busca da informação, ficará submetido a capacidade de compreensão da mensagem. Claro que é muito saudável checar tudo e para isso utiliza-se a mesma ferramenta. Os usuários brasileiros já sabem dessa realidade já que 95% utilizam sites de busca .
Em sua atuação interina como Ministro da Cultura, Alfredo Manevy, defendeu em recente audiência pública no Congresso, o Vale Cultura. O novo instrumento de inclusão social consiste em um repasse mensal de R$50,00 para trabalhadores com renda de até cinco mínimos, para uso em lan houses. A proposta está no PL 5798/09 , já aprovada pela Câmara Federal e pelo Senado, mas que retomou a tramitação na Câmara por conta das emendas feitas pelo Senado. Além da inclusão de brasileiros na rede, a proposta é uma política pública que reconhece a importância estratégica do uso da internet para o desenvolvimento humano.
O uso da lan house como possibilidade de acesso à rede sempre foi a alternativa do internauta brasileiro. Com o crescimento do uso de computadores nas residências, pela primeira vez desde 2007, os domicílios superaram as lan houses no acesso a internet no Brasil. O acesso residencial representa 48% enquanto que 45% dos internautas utilizam lan houses. O crescente uso dos computadores nos lares pode imprimir novas dinâmicas comunicativas no seio da família brasileira. Os reflexos transcendem a simples mudança comportamental para novas posturas diante da cultura, do consumo, da política, do meio ambiente, da qualidade de vida, em fim, do desenvolvimento humano dos brasileiros.


+ Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR – NIC.BR -http://www.cetic.br/usuarios/tic/2009/analise-tic-domicilios2009.pdf
Unirevista – Unisinos - http://www.unirevista.unisinos.br/_pdf/UNIrev_Tavares.pdf
IBOPE - http://www.ibope.com.br/calandraWeb/BDarquivos/sobre_pesquisas/pesquisa_internet.html; http://www.metaanalise.com.br/inteligenciademercado/inteligencia/pesquisas/67-5-milhoes-de-pessoas-tem-acesso-internet-no-brasil.html

Câmara dos Deputados - http://www2.camara.gov.br/agencia/noticias/141481.html

terça-feira, 6 de abril de 2010

As sinapses sociais da atualidade

Charles Scholl
13metatron@gmail.com
charlesscholl.blogspot.com
Vivemos um tempo em que vencemos a distância para nos relacionar. A tecnologia nos permite estabelecer relações sociais em tempo real em uma velocidade ainda não experimentada pela humanidade. O desafio contemporâneo está na acessibilidade, apesar de que nos debates sobre tecnologia da informação e comunicação o tema da acessibilidade é considerado superado por muitas autoridades no assunto. No mundo antigo da União Européia as metas de acessibilidade são ambiciosas, a exemplo do Reino Unido que anunciou publicamente o desafio de inserir toda a população na rede até 2012. A aldeia global toma forma com a massiva aderência das populações à rede em todos os continentes. As sociedades que emergem desta revolução da comunicação passam a contar com o poder da onipresença eletrônica que rompe as barreiras geopolíticas e constitui novas possibilidades de relação social em um terreno virtualizado.

O Brasil vive essa experiência intensamente e, de acordo com pesquisa realizada pelo Ibope, o pais registrou um crescimento de 8% ao longo de 2009. Até o quarto trimestre de 2009 a pesquisa aponta 67,5 milhões de pessoas conectadas em suas residências, no trabalho, em escolas e lan-houses. O comportamento destes internautas maiores de 16 anos é digno de estudos, mas algumas hipóteses já podem ser pensadas. Os sites de busca disparam com 95% da preferência dos internautas brasileiros. Dentre os dez países em que é feita a mesma pesquisa o índice de freqüentadores de comunidades virtuais no Brasil é campeão com 83,3% dos usuários. O que se percebe é que existe um ambiente propício ao estabelecimento de redes sociais entre os usuários brasileiros, mas prevalece ainda a relação fragmentada comum em uma sociedade atomizada.

As novas ferramentas de comunicação podem estabelecer uma nova coesão social. Entre os diversos organismos da sociedade civil que compões nosso tecido social, a comunicação tem sito um entrave que historicamente tem mantido uma importante distância das direções e suas comunidades de base. A revolução da comunicação que está em pleno curso no Brasil aponta para a quebra deste paradigma. O assunto merece a atenção das nossas direções políticas, de sindicatos, de associações de moradores e demais entidades de classe. Além do fenômeno da multiplicidade de opiniões que os blogueiros imprimem cotidianamente, a tendência das comunidades virtuais em torno da sociedade civil organizada pode qualificar os debates acerca dos assuntos corporativos de cada segmento. Em escala, podemos deduzir que os organismos representativos do nosso tecido social tendem a qualificar suas intervenções públicas favorecendo a participação dos cidadãos em todos os setores da sociedade.

Ao tempo em que a acessibilidade é resolvida no Brasil, cresce a adesão dos internautas em suas redes sociais. O ambiente virtual produz verdadeiras sinapses de inteligência coletiva em nosso tecido social e os resultados podem produzir novas redes neurais, que por conseqüência, novos movimentos sociais. É fato que o advento da internet não substitui a atividade militante dos sindicalistas, políticos e das demais lideranças do movimento social, mas incrementa. A busca da legitimidade da representação, presente no cerne das atividades de mobilização social, passa a ter uma ferramenta poderosa de comunicação com baixíssimos custos e crescente adesão entre os brasileiros. Se as observações e deduções otimistas que apresento neste artigo se confirmarem, conforme apontam as pesquisas do Ibope, e as lideranças souberem utilizar as novas ferramentas de comunicação, teremos em um futuro próximo uma crescente qualificação da opinião pública no Brasil e um fortalecimento das nossas instituições democráticas.