terça-feira, 12 de junho de 2012

A caipira medicinal

Amistosamente nos reunimos no final de semana com a Dona Inês, que preparou um almoço muito gostoso. Mais gostoso ainda foi preparar o almoço com a motivação da caipirinha recentemente liberada para todos nós. A caipira virou um fitoterápico a base de mel, limão e um coquetel alcoólico não identificado adquirido em um boteco da periferia urbana que não fecha no domingo ao meio dia, já que o estabelecimento é a extensão da residência do embriagado proprietário. Atendendo as recomendações médicas, Dona Inês segue ingerindo bastante líquido para se recuperar do recente tratamento de radioterapia e quimioterapia. Para contribuir com a ingestão de líquidos recomendada pelos médicos preparei a caipira. No início a bebida tinha muito limão, depois muito mel, depois...... não lembro mais se tinha limão ou mel.

A Natália se prontificou a experimentar e avaliar a qualidade da bebida. O problema é que depois que ela experimentava não restava outro caminho senão fazer outra, já que a caipira que eu fazia era a exata medida necessária para a Natália provar. Improvisei uma coqueteleira com um vidro de Nescafé grande vazio, então dei conta da demanda de consumo drasticamente reprimida naquela cozinha.

Após o almoço nos esticamos confortavelmente sobre a cama para assistir um pouco de televisão. Se houve algum momento na vida que eu tenha reclamado do marasmo de um final de semana quero desfazer a crítica, pois foi fantástico poder passar o domingo em família. A Ingrid e eu recentemente tínhamos concluído um trabalho sobre a colonização alemã, depois andamos de bicicleta e ainda compartilhamos a festa na casa da Dona Inês com o tio Heráclito. Ela ficou fascinada pela história da imigração alemã, principalmente depois que inseri ingredientes conhecidos ao remontar a história da nossa família no Rio Grande do Sul.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

A vez da Dona Inês

Conhecendo o ritual do sino, chegou a vez da Inês tocar. A intensidade das relações que se estabeleceram no decorrer do tratamento transformou completamente nossas prioridades. Ao invés da felicidade da notícia da alta antes do tempo, tanto eu quanto a Dona Inês, fomos tomados por um sentimento de perda, de afastamento daquelas pessoas queridas, da rotina que transformou completamente nosso cotidiano, da terapia da sala de espera. Choramos juntos o final da radioterapia. Porém, tal sentimento de coesão também foi compartilhado pelas outras pessoas que faziam o tratamento. Na quinta-feira, 31 de maio, fomos ao Hospital São Lucas e nos dirigimos até a sala de radioterapia somente para comemorar o tratamento que se encerrara. Levamos salgados, doces e uma torta.  Fizemos a maior festa e na hora de tocar o sino todos fizeram questão de participar do ritual. A Dona Inês ganhou um diploma de “Super Paciente” e conseguimos dividir com todos presentes, tanto aqueles que fazem tratamento paliativo diante das metástases, quando aqueles fazem o curativo.
Esta etapa da caminhada marchamos ao lado da Terezinha, do Lauro, da Zenaide, do Nestor, do Otávio, da Celoí, do Alfredo entre tanas pessoas que passaram pela terapia da recepção. Hoje sentimos saudade da Estela, do Anibal, da Marli e certamente manteremos contato. A Dona Inês deve fazer uma cirurgia em 60 dias, pois seu organismo precisa se recuperar do tratamento.
Nesse período sua agenda deve girar em torno dos exames necessários para fazer o planejamento da intervenção cirúrgica. Vencemos esta etapa na luta contra o câncer. Essa vitória merece ser partilhada com todos aqueles que se sentiram alegres com a melhora da saúde de Dona Inês.