Charles Scholl
Consultor de Comunicação
Novos ciclos políticos precisam ser compreendidos para que seja conquistado o melhor desenvolvimento possível para nossa comunidade. Esteio deu saltos gigantes em desenvolvimento social, político e econômico nas últimas décadas. Olhar para a história, muitas vezes é o melhor exercício para reafirmar o caminho trilhado. Também pode ser a melhor forma de visualizar a necessidade de mudanças de rumo, na busca da sintonia fina com os princípios que nos orientam nesta caminhada. Na condição de jornalista, cobrindo os assuntos da política em Esteio nos últimos 25 anos junto ao Jornal Eco do Sinos, tive um insite que me fez viajar no tempo, confirmar teses que sustentava, porém que o tempo havia apagado da minha memória cotidiana. Sonhos que ficaram depositados no fundo da alma e que foram sedimentados pelo peso do tempo empurrando as lembranças para as profundezas subterrâneas da memória.
Nossa cidade se insurgiu ao ciclo trabalhista com a eleição de Vanderlan, em seu primeiro mandato. Depois ocorreram diversos processos políticos, muitas descontinuidades e, atualmente, vive uma condição política que remonta os memoráveis tempos da fundação do município, em que temos sintonia política com o Governo do Estado e com a União. Mas o relato que trago nos arremete para a realidade política envolta ao ciclo trabalhista que dirigia o município, com autoridades políticas que se espelhavam no estilo caudilho, sulista, manifesto da história política de Getúlio Vargas.
Vale o relato, pois estava em uma Audiência Pública em Esteio, que preservo a fonte para evitar qualquer constrangimento, pois não é o objetivo deste texto. Um membro da comunidade, que participou como secretário de obras no Governo de Esteio em tempos memoráveis, inicia uma explanação sobre como resolver problemas administrativos na prefeitura. Contrariado pelo atual representante do Poder Executivo, o ex-secretário disparou a primeira: “O senhor está de má vontade conosco, pois já fui secretário e sei que basta fazer, se pode ou não pode pela lei isso se resolve depois”.
Como jornalista crítico das posturas políticas daquela gestão estava diante do réu confesso. E ele continuou a narrar suas experiências de gestão para mostrar como se faz. Disse que cavou com as mãos, com máquinas um “valo” para acalmar o povo da vila. A forma como se referiu a “vila” mostrava as cicatrizes de um tempo de exclusão social. O vereador que dirigia a reunião disse que a “vila” pela qual o interlocutor se referia, era onde fica sua casa e o “valo” se tratava de um Arroio, que está sendo recuperado a pesados recursos federais. O interlocutor olhava pasmo como se estivesse tentando entender como aquele vileiro estava dirigindo a reunião. Eu, na condição de expectador senti um orgulho nostálgico por ter participado ativamente da eleição daquele parlamentar, cujo símbolo representava as camadas sociais que sempre quis conduzir ao poder.
Outros interlocutores procuraram explicar as preocupações ambientais no trato com os recursos hídricos e as consequentes enchentes pelas depredações feitas ao meio ambiente. O interlocutor então resumiu sua ideia de meio ambiente e disparou: “Sou ecologista por natureza, crio 60 passarinhos e planto árvores, pois sou responsável pela plantação de inúmeros eucaliptos na cidade”. Todos ficaram sem o que dizer, mas creio que no íntimo de cada um rezava a frase: “Ainda bem que esse tempo passou, que aprendemos com essa história, que estamos fazendo diferente hoje”. Na primeira oportunidade que tive contei para minha filha a história do deserto verde, da inserção de espécies alienígenas ao nosso continente e a consequente esterilização do solo.
O acontecido serve para nos lembrar que os vilões ao meio ambiente existem. Eles estão entre nós e mesmo que não participem ativamente da política hoje, somos obrigados a conviver cotidianamente com as consequências daquela forma de fazer as coisas. Lembro-me da frase de Platão: “Pessoas boas não precisam de leis para dizer a elas como agir com responsabilidade, enquanto pessoas ruins encontrarão um modo de contornar as leis”.
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