Charles Scholl
acadêmico de filosofia
Na condição de
estudante do curso de Licenciatura em Filosofia, matriculado no primeiro
semestre de 2018, participei da aula magna aos estudantes dos cursos do Polo
Esteio da Universidade Aberta do Brasil (UAB). Compreender as estratégias de
expansão das universidades federais gaúchas, que se utilizam dos polos
regionais como meio, foi fascinante. Os resultados alcançados pelo coordenador
do Polo UAB, Cláudio Luciano Dusik e pela sua assessora, Cíntia Cruz da Costa
foram extraordinários. Assim como a manifestação de abertura do evento
protagonizada pelo professor Cláudio Luciano Dusik, um exemplo de persistência
e superação.
A palestra
principal ficou por conta do Secretário Estadual de Comunicação Social, Cleber
Benvegnú, considerado pelo prefeito Leonardo Pascoal, como uma das mentes mais
brilhantes do RS. Em seu discurso, o palestrante explanou a ideia de que as
grandes mudanças devem começar pelos indivíduos. Suas intenções apontavam para
uma reflexão sobre o papel do indivíduo na sociedade. Falou também sobre
princípios de sociabilidade, em que os indivíduos se sentem coagidos a adotar
comportamentos adequados em público. De forma muito espirituosa citou como
exemplo a possibilidade de muitos estudantes presentes talvez tivessem a
vontade de peidar, no entanto, não procederiam desta maneira pelo fato de
estarem em público. Algo que poderíamos
compreender com o conceito de coerção, de Émile Durkheim, que estudamos no
semestre passado. Ao evoluir em sua linha de pensamento, o palestrante introduz
a ideia de sofrência.
A filosofia da
sofrência, segundo o orador, nos mostra que todas as conquistas da vida são
resultados de muita sofrência. Que o sofrimento é fundamental para o sucesso. Logo
inicia uma apresentação de vídeo com Margaret Thatcher falando sobre economia e
Estado. Enaltecendo a direita no parlamento Inglês, a líder internacional do
neoliberalismo sustentava posições que a Inglaterra devia adotar de austeridade
com os recursos públicos. Em posse desse escopo ideológico, Cleber discorreu sobre
a sustentabilidade na política do Governo do Estado, que demonstrou o
brilhantismo do orador anunciado pelo Prefeito de Esteio.
Em minha
condição de estudante de filosofia, não posso me furtar de fazer algumas
observações. A primeira delas é que os representantes das universidades
federais demonstraram claramente o esforço e o animo de prospectar para além
dos muros dos campos universitários possibilidades de cursos superiores. No
Brasil, a crise na educação é um projeto político, como bem nos lembrou Darci
Ribeiro. Mas que projeto político seria esse? Trata-se do neoliberalismo e a
luta pelo estado mínimo que tem provocado a destruição do orçamento da educação
restringindo todas as animadoras possibilidades apresentadas pelos
representantes das universidades federais. Os professores falavam de uma
animação que pertence ao passado. Uma animação possível de ser percebida pela
comunidade acadêmica quando foi descoberto o pré-sal e que, por um decreto, o
Governo Federal destinaria 75% destas riquezas para a educação. Uma alegria que
se perdeu pelas políticas apresentadas pelo palestrante principal.
Em suas lâminas
expostas no telão da Câmara de Vereadores o palestrante apresentou algumas
questões que explicitaram seu conteúdo ideológico. A lista inicia com excesso
de estado, passa pela falta de cultura de deveres, segue pela cultura estadista
e conclui com a cultura egoísta. A ideia de mente brilhante anunciada pelo
prefeito se esvaia pelas minhas mãos na medida que ia compreendendo a audácia e
a coragem do palestrante. Como um mensageiro das ideologias do golpe, ele deixa
claro que a situação das comunidades acadêmicas é cada vez mais triste. A
criação, ampliação e extensão da atuação das universidades federais no Rio
Grande do Sul foi realizada em outros tempos, sob outras perspectivas
políticas. A partir do golpe de 2016, que submeteu o Brasil em um estado de
exceção pela violação de preceitos constitucionais, uma outra forma de
governar, representada por Aécio Neves e rejeitada pela população brasileira foi
adotada no Brasil. As restrições vividas pelas universidades federais decorrem
da ideia de estado mínimo implementadas pelo governo federal em uma gestão golpista
e ilegítima.
Além da questão
política, que merece ser pontuada pela retidão e fidelidade apresentada pelo
orador, existe uma questão que se debruça sobre os largos ombros dos estudantes
presentes na aula. As posturas políticas de sustentação de privilégios
orquestradas e implementadas pelo governo Sartori, no Rio Grande do Sul, e pela
presidência de Temer, em nível nacional, desconstituem a ideia do orador que
busca transferir aos indivíduos a atual crise vivida pelos brasileiros. Ou seja,
esse modelo de governo é fundamentado em mentiras que foram nacionalmente
desmentidas, tais como a tentativa da reforma da previdência. A propaganda
oficial do governo federal sobre o tema chegou a ser retirada do ar por conta
do conteúdo mentiroso. Governos que se fundamentam em mentiras não devem olhar
a educação, pelos seu conteúdo esclarecedor, como algo positivo. De acordo com
a CPI da Previdência, esse grupo político forjou informações falsas buscando
encobertar grandes devedores, como bancos, grandes empresas, ruralistas e o
próprio governo federal. Então diziam que a previdência dava prejuízo, sendo
que os Auditores Fiscais do Tesouro Nacional afirmam que a previdência é
superavitária. Uma prática política levada com tranquilidade e muito bem
representada pelo orador.
Diante da
flagrante mentira protagonizada pelo grupo político do brilhante orador, que
demonstra a conduta moral que organiza a agenda destes militantes partidários, ainda
resta a postura hipócrita de atribuir aos indivíduos as nefastas consequencias
das políticas neoliberais. Enquanto isso, implementam medidas administrativas que
distribuem por livre concessão às petrolíferas internacionais os recursos que
deveriam subsidiar uma geração de acadêmicos, cientistas e criadores de novas
tecnologias que edificariam um novo Brasil. Diante desse quadro, vale o
exercício cínico de tratar com respeito o representante da destruição da
inteligência gaúcha, com o fim da Fundação Estadual de Estudos Estatísticos,
Fundação Zoobotânica e a Metroplan. Tudo destruído pela aplicação de uma
ideologia sustentada por políticos entreguistas, que buscam despistar suas
máculas nefastas com pirotecnias que funcionam em ressonância com a ignorância
e desinformação geral, tal como denunciaram
deputados da Assembleia Legislativa gaúcha.
Uma palestra
esclarecedora que demonstra a demência daqueles que sustentam as posturas
neoliberais, portadores de uma ética egoísta que lhes autoriza contrariar
interesses públicos de ampla maioria dos gaúchos em prol da defesa de
interesses particulares que orbitam em torno de privilégios de uma minoria.
Pois, caso a ideologia pregada pelo orador fosse hegemônica, não existiria Polo
de Universidade Aberta que pudesse lhe ceder um palco para falar aos estudantes,
não existiria sequer universidade federal. Um palestrante que marca de forma
brilhante essa fase deplorável que vivemos, em que as políticas de Estado
favorecem a evasão escolar e secretários de educação comemoram o fechamento de
escolas. O palestrante soube apresentar a faceta velha e decrépita do
neoliberalismo, que é considerada superada pela imensa maioria dos países e só
pode ter sucesso diante de uma população desinformada e despolitizada. Por isso
os neoliberais sustentam esse projeto de destruição da educação. Por sorte, por
persistência e competência o Polo UAB de Esteio caminha na contramão desta
corrente ampliando suas turmas e levando o ensino
superior onde jamais esteve no Brasil.
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