segunda-feira, 29 de março de 2010

Para Pochmann, Brasil pode liderar novo projeto de desenvolvimento mundial


Primeiro palestrante do seminário “A estratégia socialista hoje”, organizado pelo deputado Ronaldo Zülke (PT), o economista Márcio Pochmann, presidente do IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada ressaltou o protagonismo do Brasil no atual cenário internacional, marcado pela grande crise do sistema capitalista detonada no último ano. No encontro, realizado neste sábado (27), no auditório do SESC, em Gravataí, Pochmann defendeu que o “deslocamento do centro dinâmico do mundo”, com os problemas enfrentados pelos Estados Unidos, abriu possibilidade do Brasil liderar a construção de um novo projeto de desenvolvimento em âmbito mundial, denominado por ele de “sociedade superior”. Para isto, sustentou o economista, o País precisa elaborar uma “agenda civilizatória, que modernize o Estado e o coloque em condições de “enfrentar os desafios do século 21”.

Para Márcio Pochmann, uma questão chave neste momento é sintonizar as políticas públicas com as mudanças que estão ocorrendo no mundo do trabalho, com os avanços registrados nas áreas tecnológica, científica, educacional e demográfica. “Hoje, o ensino superior não é mais teto, é o piso dentro da formação de um profissional, portanto o ingresso do jovem no mercado de trabalho poderia ser adiado para os 25 anos. Também seria necessário remodelar o sistema educacional, de forma que a educação fosse pensada como um processo para a vida inteira, pois, em 2030, a estimativa de vida das pessoas deve chegar a 100 anos; no início do século era de 35 anos. Além disso, a ciência conseguiu separar a reprodução humana do sexo e as famílias, que antes eram numerosas, são cada vez menores. Tudo isto muda dramaticamente as relações de trabalho e as instituições, nos moldes como estão organizadas hoje, não estão preparadas para o futuro”, avaliou.

Pochmann dividiu a exposição com o ex-ministro do Desenvolvimento Agrário. Atual presidente da Petrobrás Biocombustíveis, Miguel Rosssetto destacou a importância de a sociedade estar inserida no debate sobre as mudanças que devem ser operadas. “Não há dúvidas de que os governos do presidente Lula foram e ainda são decisivos para o Brasil, neste momento, junto com outros países como a China e a Índia puxar a recuperação da economia mundial. Agora, do ponto estratégico temos que organizar um sistema produtivo e social que tenha tamanho suficiente para ofertar os serviços e bens essenciais à vida da população, desconcentrando poder, distribuindo renda, democratizando o acesso à saúde e à educação, estimulando o surgimento de novos modelos, como a economia solidária, adotando padrões energéticos sustentáveis e colocando um ponto final na relação predatória com o meio ambiente, na exclusão racial e na discriminação de gênero. Tudo isto faz parte daquilo que estamos chamando de revolução democrática para o País, da estratégica programática que o Brasil deve oferecer em escala mundial”.

Segundo ambos palestrantes, estes são os principais obstáculos a serem superados dentro da perspectiva socialista para o século 21. “A crise do modelo americano mostrou que nossas teses em defesa da ação reguladora do Estado estavam corretas. Nós resistimos, preservando o Banco do Brasil, a Petrobrás, o BNDES. A experiência brasileira é reconhecida como vitoriosa e isto nos dá respaldo para ousar”, observou Rosetto. Ao concluir, Marcio Pochmann lembrou que a maioria política construída pelo presidente Lula no Brasil “abriu abre uma janela de oportunidades para uma o surgimento de uma sociedade menos consumista e mais autônoma, simples, e saudável, com uma jornada de trabalho que preserve o tempo do lazer e o entrosamento familiar. “A ousadia é a trajetória que devemos perseguir”, concluiu o economista.

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