segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Dona Inês sobrevive à cirurgia e apresenta diagnóstico de cura


Charles Scholl

Na sexta-feira, dia 14 de setembro, pela manhã, nos reunimos com a equipe médica para a primeira revisão depois de ter ido para casa. Ela passara dias internada no sexto andar do Hospital São Lucas, da Puc, em Porto Alegre, para se recuperar daquela enorme cirurgia em seu abdômen. Após longa caminhada estávamos tensos em relação à continuidade do tratamento, quando o Dr. Ricardo Breigeiron esboçou uma expressão diferente. Ele se tornou uma pessoa muito especial para nós. Todas nossas expectativas partiam de suas posições, de suas palavras, de seu entendimento e de sua estratégia para vencer o câncer que diagnosticamos nela este ano. Todos os outros médicos que a viam se reportavam a ele. De imediato senti um pavor por não ter entendido aquela expressão. Queria saber da continuidade do tratamento e dava para ver nos olhos do Dr. Ricardo que o tratamento tinha chegado ao fim. Todas as possibilidades passaram em minha cabeça, em fração de segundos, menos aquela que seria verdadeira. Realmente o tratamento terminou, disse ele. Completou informando o resultado da biopsia que apontava a ausência do câncer. Naquele momento podíamos dizer que “a Dona Inês está curada.”

Sem saber como reagir, por não acreditar naquela notícia inesperada, nos olhamos e vi a Dona Inês inerte. Eu a trato com toda a formalidade e respeito pela sua história de vida, que nos orgulha tanto. Em seguida vi naquela mulher minha mãe, seus olhos marejados com uma expressão mista de espanto e encanto. Seus lábios começaram a tremer lentamente e sua boca esboçava uma expressão que lembrava um sorriso, mas que acontecia naquele momento de lágrimas. Um choro alegre que não resisti e compartilhei. Sem qualquer constrangimento por estar reagindo daquela maneira diante de pessoas tão importantes para nós. Quando olhei para frente percebi que a vitória da vida emociona até mesmo os profissionais mais experientes. Devemos a vida para eles. É isso que passou na minha cabeça naquele momento. Afinal de contas, minha mãe foi a única sobrevivente da nossa família, que tem esse problema genético que se manifesta em determinado momento da vida.

Esse momento mágico que jamais será esquecido por nós, marca um novo aniversário para Dona Inês. Ainda fragilizada pela violência que a intervenção cirúrgica representou ao seu organismo, vive um momento de recuperação, que é bem diferente de viver doente. Essa recuperação pode durar meses, mas é uma recuperação e não uma doença e isso muda tudo. Mas, algumas mudanças são mais aparentes por ficarem na vitrine social dos nossos hábitos cotidianos. Quando nos lembramos da Dona Inês, sem medo de errar podemos compor nessa imagem mental brincos grandes e coloridos, cabelos louros, calças, uma blusa leve e um perfume que marca o ambiente. Junto com os adereços e acessórios que enfeitam seus dedos, pescoço, orelhas, tornozelos e pulsos, está o cigarro aceso em sua mão. Justamente essa cena é que vai mudar em nossa cidade. Além da cura do câncer, a Dona Inês está no caminho da cura do vício do tabagismo. Esse é um vício como qualquer outro, que precisa ser tratado como um problema de saúde, já que o tabagismo por si é uma doença.

Estamos todos confiantes nessa cura também e me sinto muito tranquilo em falar do assunto, já que faz um ano que parei de fumar. Dona Inês encontrou forças para superar tudo isso. Sou testemunha de como foi difícil trilhar esse caminho. Lembrava o tempo todo de Fernando Pessoa. “Temos que construir o barco navegando”. Ao tempo que se recuperava da cirurgia, que lhe custou uma fenda que cruzava verticalmente todo seu abdômen, vivia o período de desintoxicação do cigarro que fumara a vida toda. Naquele estado, tossir não é uma tarefa fácil. Depois toda nossa preocupação passava em torno da possibilidade do desenvolvimento de uma pneumonia. Eu tive três pneumonias que se sucederam no período imediato que deixei o hábito de fumar. Sabia que isso poderia acontecer com ela. Toda a secreção, que não é pouca, se acumula nas paredes do pulmão e o organismo não tem tempo de absorver essa função biológica. Tal situação cria um ambiente propício para o desenvolvimento de processos virais e bacterianos. Com o organismo fragilizado tudo fica conspirando pra coisa dar errado. Mas toda a sorte do mundo fez com que ela tivesse uma reação diferente da minha. Ao invés de jogar para dentro do pulmão, aos poucos a secreção se acumulou no estômago e como seu intestino estava praticamente parado acabou vomitando. Tal situação aconteceu por três vezes. Logo depois a sensação do mais absoluto alívio e desintoxicação.

Daqui para frente temos como prioridade falar com as pessoas sobre tudo que aprendemos com essa experiência. De garantir as condições para a Dona Inês percorrer o caminho da recuperação de sua saúde. Todos estamos torcendo para que o tabagismo não retorne ao seu cotidiano, já que queremos ela por todo tempo possível em nosso cotidiano. Eu e meu irmão agradecemos a todos que nos ajudaram, em especial ao Dr. Ricardo Breigeiron, à Dra. Laura Aita e a Dra. Carla Bochi. Ao Dr. Rafael que cuidou do período pré-operatório e ao outro Dr. Rafael que cuidou do pós-operatório. Ao Dr. Guilherme, que carinhosamente chamava de amigo imaginário pela coincidência dele aparecer sempre quando tinha da sair do quarto. Depois de uma semana de coincidências suspeitei que o tal doutor não existia e passei a chama-lo de amigo imaginário. Às vésperas da saída do Hospital, a Dona Inês me apresentou a ele dizendo que esse era seu amigo imaginário. Eu que, por um momento, suspeitei da existência desse médico misterioso que aparecia e desaparecia como um toque de mágica.

Um agradecimento a todos que nos ajudaram, a todos que se envolveram, a todos que torceram e, falo também, àqueles que torceram contra, já que ao vencer essa etapa percebemos que somos muito fortes. Registro para que todas as forças do universo conspirem pela justiça e pelo equilíbrio. Desejo que retorne para cada um o dobro da intensidade do sentimento a nós dispensado. Outra edição tinha escrito um pouco sobre a vida desta mulher e alguns leitores de minha confiança, antes mesmo da publicação, me alertaram sobre a agressividade daquelas palavras. Respondi dizendo que aquelas palavras retratavam a agressividade que aquelas pessoas nos ofertavam naquele momento difícil que estávamos vivendo. Esse momento passou e olhamos para frente com hábitos mais saudáveis preservando, acima de tudo, a vontade de viver.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Rafael


Natália, Cassilda, Roselaine e Maria Inês
Ela tinha algo especial que carregava consigo. Sua essência transbordava vida. Tinha algo especial, mas não sabia ainda do que se tratava. Jamais imaginara que fosse algo tão precioso, capaz de mudar o destino da humanidade. Essa passou a ser a sensação desde que foi tocada por uma força desconhecida que, aos poucos, compreendia por sinais que o mundo externo lhe dava. Uma cirurgia às pressas lhe trouxe preocupações sobre sua saúde e a prova veio em sua complicada recuperação. Em viagens que havia feito com seus pais conheceu aquela mulher iluminada que lhe trouxe forma ao que sentia e como se tivessem anos de convivência conversaram por horas sobre espiritualidade no oráculo dos anjos, em São Francisco de Paula.

Fortalecida pelo Arcanjo Rafael, ela queria retribuir ao mundo a energia que havia recebido daquela força iluminada. Percebeu que nunca mais seria a mesma, pois olhava o mundo por outro ponto de vista. Cada ponto de vista é a vista de um ponto e a referência do observador acabou mudando. Com isso, sob outro olhar, o mundo mudou para ela. Desde seu comportamento, que passou a realizar rituais meditação diários que lhe trazia luz e compreensão sobre a vida transformando seu cotidiano que virou uma constante busca por hábitos saudáveis. Melhorou seu corpo e sua mente. Construiu um altar no seu apartamento em homenagem ao Arcanjo Rafael e comprou santinhos de Miguel e Rafael, pela relação que se estabeleceu com Liane, criadora do oráculo de São Francisco de Paula.

Fisicamente recuperada, mas ainda abalada psicologicamente, ela se deparou com o primeiro desafio posto em sua agenda. Uma senhora muito próxima se encaminhava para um processo cirúrgico muito complicado. Sem titubear, colocou-se ao serviço do Arcanjo Rafael. Falou para si mesmo: "_faça de mim um instrumento de ajuda e cura para esta senhora." Em posse de um santinho com a imagem e oração ao Arcanjo Rafael presenteou a senhora para que tivesse força e luz para enfrentar a cirurgia.

A senhora chegou ao hospital atendendo ao chamado de um médico que lhe ligou dizendo o seguinte: "_Boa tarde senhora, eu sou o Dr. Rafael e estou lhe ligando para informar que deve baixar para a realização de seu procedimento cirúrgico". A senhora então fez a baixa e seria submetida a cirurgia que lhe deixaria graves sequelas. A cirurgia aconteceu, porém a senhora ficou sem as sequelas previstas. Compreendia a situação como um milagre. Na recuperação, a senhora conheceu outro médico chamado Dr. Rafael, que lhe acompanhou até a completa recuperação.

A moça e a senhora acreditam que a força de Rafael se manifestou e talvez muitos acreditem que os médicos estudantes que foram selecionados para cuidar dela se chamassem Rafael pela mais pura coincidência. Tanto faz, o fato é o mesmo e podemos compreende-lo e nos apropriar dele como bem entender. Não existe nada mais humano do que acreditar em anjos. Assim como está repleto de humanidade questionar sua existência. Depende do seu ponto de vista e da experiência que a vida lhe reserva.


A foto foi tirada no sexto andar do Hospital da PUC, em Porto Alegre. Registra Natália, que realizou cirurgia complicada e se recuperou pela fé em Rafael, Cassilda que sofreu um infarto e agradecia ao seu anjo da guarda Rafael a milagrosa recuperação, Roselaine que acompanhava Cassilda em seu quarto e Maria Inês que se recuperava de uma cirurgia após ter sido atendida por dois médicos auxiliares, ambos chamados de Rafael.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

A Ingrid e o piercing


Antes da colocação
A Ingrid é uma menina muito esperta. Com 10 anos está na pré-adolescência. Uma fase complicada, pois meiga e simpática mantém seus traços infantis muito presentes. Isso passou a se tornar um problema para ela. “Tem pessoas que me olham e dizem que tenho cinco anos!”, exclama a pequena. Em reação ao problema a Ingrid passou a utilizar símbolos que indicassem sua real idade, afinal de contas a moça já tem 10 anos. Maquiagem, sapatos de salto, brincos, pulseiras, mechas no cabelo e roupas apropriadas passaram a ser suas ferramentas. Porém, Ingrid decidiu colocar um piercing. Coragem. Persuadiu a todos a autorizar a façanha e, por último, me olhou de forma comovente dizendo que precisava de mim para a realização deste ato muito importante em sua vida. É evidente que me convenceu também, pois se é importante para ela é importante para mim. Ela ficou uma graça. Fizemos  fotos antes da colocação e depois. Eu amo essa gatinha.

A escolha

 


Depois com o piercing


terça-feira, 12 de junho de 2012

A caipira medicinal

Amistosamente nos reunimos no final de semana com a Dona Inês, que preparou um almoço muito gostoso. Mais gostoso ainda foi preparar o almoço com a motivação da caipirinha recentemente liberada para todos nós. A caipira virou um fitoterápico a base de mel, limão e um coquetel alcoólico não identificado adquirido em um boteco da periferia urbana que não fecha no domingo ao meio dia, já que o estabelecimento é a extensão da residência do embriagado proprietário. Atendendo as recomendações médicas, Dona Inês segue ingerindo bastante líquido para se recuperar do recente tratamento de radioterapia e quimioterapia. Para contribuir com a ingestão de líquidos recomendada pelos médicos preparei a caipira. No início a bebida tinha muito limão, depois muito mel, depois...... não lembro mais se tinha limão ou mel.

A Natália se prontificou a experimentar e avaliar a qualidade da bebida. O problema é que depois que ela experimentava não restava outro caminho senão fazer outra, já que a caipira que eu fazia era a exata medida necessária para a Natália provar. Improvisei uma coqueteleira com um vidro de Nescafé grande vazio, então dei conta da demanda de consumo drasticamente reprimida naquela cozinha.

Após o almoço nos esticamos confortavelmente sobre a cama para assistir um pouco de televisão. Se houve algum momento na vida que eu tenha reclamado do marasmo de um final de semana quero desfazer a crítica, pois foi fantástico poder passar o domingo em família. A Ingrid e eu recentemente tínhamos concluído um trabalho sobre a colonização alemã, depois andamos de bicicleta e ainda compartilhamos a festa na casa da Dona Inês com o tio Heráclito. Ela ficou fascinada pela história da imigração alemã, principalmente depois que inseri ingredientes conhecidos ao remontar a história da nossa família no Rio Grande do Sul.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

A vez da Dona Inês

Conhecendo o ritual do sino, chegou a vez da Inês tocar. A intensidade das relações que se estabeleceram no decorrer do tratamento transformou completamente nossas prioridades. Ao invés da felicidade da notícia da alta antes do tempo, tanto eu quanto a Dona Inês, fomos tomados por um sentimento de perda, de afastamento daquelas pessoas queridas, da rotina que transformou completamente nosso cotidiano, da terapia da sala de espera. Choramos juntos o final da radioterapia. Porém, tal sentimento de coesão também foi compartilhado pelas outras pessoas que faziam o tratamento. Na quinta-feira, 31 de maio, fomos ao Hospital São Lucas e nos dirigimos até a sala de radioterapia somente para comemorar o tratamento que se encerrara. Levamos salgados, doces e uma torta.  Fizemos a maior festa e na hora de tocar o sino todos fizeram questão de participar do ritual. A Dona Inês ganhou um diploma de “Super Paciente” e conseguimos dividir com todos presentes, tanto aqueles que fazem tratamento paliativo diante das metástases, quando aqueles fazem o curativo.
Esta etapa da caminhada marchamos ao lado da Terezinha, do Lauro, da Zenaide, do Nestor, do Otávio, da Celoí, do Alfredo entre tanas pessoas que passaram pela terapia da recepção. Hoje sentimos saudade da Estela, do Anibal, da Marli e certamente manteremos contato. A Dona Inês deve fazer uma cirurgia em 60 dias, pois seu organismo precisa se recuperar do tratamento.
Nesse período sua agenda deve girar em torno dos exames necessários para fazer o planejamento da intervenção cirúrgica. Vencemos esta etapa na luta contra o câncer. Essa vitória merece ser partilhada com todos aqueles que se sentiram alegres com a melhora da saúde de Dona Inês.


quarta-feira, 30 de maio de 2012

No contar dos dias para ver e ouvir o sino tocar...

Dia 21 de maio comemoramos a conclusão do tratamento de Anibal e então, pela primeira vez, participei e registrei um ritual que até então existia somente em nossa imaginação. Cabe destacar que essa imaginação foi construída a partir de informações dispersas, oriundas de relatos de pessoas que diziam ter ouvido um sino tocar, que tinha alguns dizeres acerca de um compromisso que te acompanharia depois do tratamento. Tudo ficou mais instigante quando um senhor de Farroupilha, aliás, de Bento Gonçalves recebeu o diploma de conclusão do tratamento, porém nada de sinos a badalar. Surgiu então uma versão transversal anônima que afirmava a inexistência do sino. Como para a maioria das pessoas o sino só existia na imaginação, seria o mesmo que dizer que tal “realidade” deveria permanecer eternamente no campo do mundo sublimado e criado somente no interior da nossa alma. A radioterapia é um tratamento relativamente longo e promove um período de convivência entre pessoas que geralmente não se conhecem e disso nasce algo completamente inesperado.

Nos diálogos que brotavam na sala de recepção, montávamos coletivamente um ambiente imaginário sobre as coisas misturando tudo. A Dona Inês, geralmente, dá a temperatura no ambiente, outros se encarregam de fluidificar as essências individuais criando algo absolutamente novo, singular, saudável, em que compartilhamos um momento importante de nossas vidas. Seja para quem esteja fazendo o tratamento, ou para quem o acompanha. Todos participam da experiência da sala de recepção e estão expostos a isso.

Ali sabemos que o sino é um símbolo de vitória e compromisso. Uma vitória do iluminismo presente na ciência da humanidade. Nós somos a vitória presente que humaniza e dá calor à frieza da lógica que nos cura. Com todo o romantismo aparente, temos ciência de que é a ciência responsável pela invenção do tratamento. Mas o que devemos valorizar acima de tudo é o desejo pela vida, que motiva iluministas a fazerem máquinas que curam o corpo.

Cada passo dado nesta caminhada nos humaniza como um todo e nos apresenta valorosos pontos de vista absolutamente distintos daqueles que temos viciosamente em nosso cotidiano. Anibal é um homem que aprendi a admirar. Nossas conversas sempre encontravam as chances de se expandir a horizontes infinitos, tal versatilidade e talento deste pai de família. Um construtor, conhecedor dos processos biológicos, das possibilidades químicas, das razões da física que lhe assegura uma lucidez impressionante. Tenho a impressão de que Anibal é capaz de construir qualquer coisa, de plantar, criar, cuidar e resolver questões de grande complexidade se lhe der as ferramentas. Isso está explícito em seus olhos, que somam um carisma indescritível, que só é possível existir em pessoas amáveis possuidoras de uma inteligência emocional capaz de sublimar qualquer obstáculo na vida. Ele deixa claro em seu olhar que o momento compartilhado, com todas suas implicações, é só mais um obstáculo para superar.

Era a vez dele tocar o sino e dizer as palavras mágicas. Protagonista dos comentários em torno dos rituais, Anibal tornava tudo mais intenso e sua realização mareou de emoção os olhos de seus amigos. Todos choravam reativamente pelo transbordar de sentimentos. As emoções simplesmente não cabiam naquele tempo e espaço. Foi algo impressionante. Com a autorização dos profissionais de saúde, adentramos na sala de tratamento e nos reunimos em torno do sino. Anibal foi convidado pela coordenadora do setor a ler os dizeres da placa para todos, mas principalmente para si mesmo. Depois sua tarefa passava a ser tocar por três vezes consecutivas o sino. Nesse tempo Estela, preparava uma viola (instrumento de orquestra) para tocar para o pai. A violista entonou o hino de vitória após o narrar das palavras de compromisso.

“Quando o seu tratamento terminar


Toque, 3 vezes este sino....


Com orgulho


Para a todos anunciar


Que é outro o seu destino


E o caminho agora, é se curar!”

O sino tocou por três vezes e transcendemos para um mundo compartilhado, verdadeiro, real que construímos juntos em nossas expectativas cotidianas, que sedimentaram do decantar do silêncio da existência, na turva atmosfera de nossos sonhos. Difícil entender a mistura, mas fácil de sentir cada pessoa como parte de si, já que somos todos, um só. Embora saibamos disso cada um a sua maneira, esses momentos nos levam a visitar esses pensamentos que nos enchem de vida e nos tornam fortes para enfrentar adversidades e sensíveis à experiência do outro, como uma experiência sua, como de fato é quando permitimos que seja.

Momentos de vida coletiva nos enchem de riquezas. Nos conectamos existencialmente e partilhamos nossas infinitas bibliotecas de saberes. Sozinhos somos como um computador desconectado da internet. Temos todo o potencial, mas nada se compara a esse potencial combinado com o uso da rede. As possibilidades são infinitas. Caso seja possível compreender algum sentido nessas palavras, quais seriam os sentidos que sustentariam a existência atomizada majoritariamente exercida pelas pessoas nos centros urbanos?

terça-feira, 15 de maio de 2012

Como está a Dona Inês?

Como está a Dona Inês? é a pergunta que todos me fazem. Tenho dado respostas protocolares e resumidas, como se estivesse teclando no twitter. Aqui quero falar um pouquinho mais. Certo dia minha mãe me olhou com um ar de preocupação e disse que precisava fazer alguns exames, pois desconfiava que sua saúde não estava plena, como seu humor cotidiano demonstrava. Logo senti um peso muito forte naquelas palavras, pois sabia que não estava falando com uma neófita e, tão pouco, uma menina mimada. Inês, em sua vida, emergiu das roças e do convívio saudável entre colonos alemães de Santa Maria do Herval para a turbulenta agenda psicótica dos comunicadores urbanoides das regiões metropolitanas. Não tinha como escapar das investigações para saber com alguma profundidade se os desconfortos que ela apresentava seriam sintomas de algo grave. Após vencer as etapas burocráticas do sistema de saúde ela fez alguns exames. Essa etapa Inês fez questão de encarar sozinha, como se tivesse que resolver isso primeiro com ela mesma para depois dividir com alguém. Os exames chegaram e tínhamos um caso de neoplasia para ser tratado, ou seja, ficamos sabendo que a Dona Inês havia desenvolvido um câncer.



Após passar um tempo no hospital iniciou um tratamento ambulatorial de radioterapia e quimioterapia. Seriam 24 aplicações e eu me dispus a acompanha-la, caso tivesse alguma resposta biológica que a impedisse de dirigir. Bobagem, eu queria mesmo é estar com ela nesses momentos. Como se não bastassem as notícias, o fantasma do desconhecido também nos assombrava o tempo inteiro. Neste ponto, a situação já era um problema nosso, compartilhado, dividido, embora as coisas estivessem acontecendo somente no corpo dela eu sabia que as pressões psicológicas seriam ofertadas democraticamente para quem a estivesse acompanhando. Diante do quadro, imaginava a convivência com pessoas doentes com grandes chances de encontrar pacientes terminais. Inevitável refletir sobre tudo na vida diante desta experiência e não tinha boas expectativas sobre o que teria de enfrentar ao lado de minha mãe. De imediato tinha que administrar as mudanças de rotina da minha vida pessoal, que ocasionou a mudança de rotina de muitas pessoas. A Dona Inês também tinha que organizar sua vida para a mudança de rotina, que afetou muitas pessoas, em especial meu irmão, Sérgio Heráclito, que mora com ela. O dia começaria mais cedo, terminaria mais tarde e ficaria mais curto. Teria que compreender mais sobre radioterapia, física, biologia molecular, química, morfologia humana para ter alguma chance de compreender o que está ocorrendo. Estava preparado para enfrentar as entediantes filas e a se adequar às agendas dos médicos especialistas que acompanham o tratamento e atendem em vários turnos distintos.

Todos perguntam como está o tratamento, porém até então não tínhamos muito a dizer além do pânico. Isso diminuiu um pouco e é sobre isso que venho falar. Penso que todas as pessoas estão sujeitas a passar por situações semelhantes. Nosso lado estóico nos diz que começamos a morrer quando nascemos.

Tudo que foi dito acima parece muito óbvio, porém se tornaram questões diminutas diante da força transformadora e criadora de possibilidades presente nos indivíduos que dialogam e interagem. Isso não estava previsto e só pude perceber vivendo as experiências. Desta mistura brotaram milagres que nasceram da relação das pessoas. Estamos concluindo a primeira etapa da radioterapia e quimioterapia. Tudo indica que no dia 23 de maio finalizaremos o tratamento intensivo e passaremos para uma sequência de revisões que imprimem outra rotina, menos intensa, baseada em marcação, realização, retirada e avaliação de exames . Os primeiros passos desta caminhada serviram para nos lembrar que o medo e o desconhecimento caminham juntos e são parceiros fortes que precisam um do outro para sobreviver. O medo é parte da nossa natureza e está intimamente ligado a preservação da nossa vida, porém sua intensidade pode ser um problema. Na medida em que tomamos ciência e compreendemos os processos do enfrentamento à doença, o medo diminui.

Quando falo em milagre, me refiro ao dia 15 de maio, terça-feira. Naquele dia despertei eufórico, passei o café e logo minha mãe encostou o carro no estacionamento. Desci e a encontrei com um sorriso indescritível. Estávamos muito felizes porque íamos para a radioterapia. Era o último dia de Marli, que enfrentara dificuldades maiores do que a nossa por morar em Taquara. Minha mãe levou uma garrafa de café com leite. Ela reclamou que estávamos dez minutos fora do prazo combinado na noite anterior. Eu disse que tínhamos tempo, mas ela queria chegar mais cedo para encontrar os amigos. Quer milagre maior do que acordar mais cedo para ficar mais tempo na fila? Irracional, mas era isso que estava acontecendo.

Marli ganhou apoio do Supermercado Volte Sempre, de Taquara, que preparou bolo e salgados. Seu esposo, José Luiz, demonstra um empenho comovente no tratamento de Marli. Teresinha, de Dois Irmãos, acompanha seu marido, José Lauro, em jornadas exaustivas que lhe ocupam o dia inteiro. Ainda assim, aquela mulher de sorriso largo e generoso encontrou energia para preparar uma deliciosa cuca para ser compartilhada no café da manhã da radioterapia. Esses gestos nos comovem, nos invadem, nos arranca daquele mundinho de cinco metros do entorno para um olhar mais amplo sobre a própria existência. Entre eles Zenaide, de Três Coroas, uma companheira petista que olho e lembro do rosto, mas de onde? Outro dia ela me olhou fixamente e disse que me conhecia, mas de onde? Se não nos conhecemos então tá valendo aquela tese de que o petismo pode deixar as pessoas meio parecidas, mas duvido, pois ainda tenho esperança de lembrar de onde a conheço. Seu Otávio, do Alto de Caraá veio com sua esposa Celoir que preparou rosquetes deliciosas. Nesse dia descobri que Catarina mora em Parobé, pois conversamos enquanto ela comia o bolo. As brincadeiras da Dona Inês com o Alfredo naquele dia passaram da conta, deixando a Teresinha sem fôlego de tanto rir. Que arrancou as medicinais gargalhadas da Estela, que acompanha seu pai Anibal de Sapiranga. Por um momento, naquela manhã, nos olhamos e recitamos juntos “lá dentro é a rádio, aqui na recepção é a terapia”. Comemoramos a vitória de Marli, de seu esposo José Luiz, de toda sua família e de todos nós, que lembramos naquele momento a alegria de viver. Jamais imaginaria viver isso na sala de espera da radioterapia.

Sobre o tratamento, podemos dizer que a Dona Inês teve uma boa resposta biológica até o momento. Ela continua no mesmo pique de sempre, eventualmente parecendo que tem um parafuso a menos, mas se você olha mais de perto percebe que tem alguns a mais. Comunicativa, extrovertida, piadista, alegre e contagiante ela no dá uma lição de perseverança e de vida. Quero fazer um agradecimento especial para todas as pessoas que me cobraram notícias e me motivaram a escrever esses breves relatos.







segunda-feira, 23 de abril de 2012

Acordes e melodias cotidianas com a Ingrid

A grande notícia do momento é a mais nova violeira da família. A Ingrid ganhou de presente do dindo Klaus um violão lindíssimo. A pequena já ensaia as primeiras notas e após duas aulas de violão popular já postula dos principais acordes e manifesta clara intenção em compor. Claro que junto a oficina de música, extremamente prática, já que a Ingrid estudou teoria musical, fiz também uma oficina de criatividade musical, textual e iniciamos a construção da melodia da música que nasce no decorrer das aulas. O tema da primeira composição é “O que você tem a dizer?”.

Além da maratona musical neste final de semana filosofamos sobre os super-humanos, queimamos todas as calorias possíveis com a bicicleta e em sintonia corpo e mente a pequena teve muitas oportunidades de treinar seu domínio e equilíbrio cobre seu corpo e mente. Acho que foi o primeiro findi sem tombos. Ainda sobrou tempo pro tema, para algumas tarefas domésticas, para uma boa noite de sono e para um tempinho junto a tv e ao computador onde nos desafiamos em joguinhos de flash. Muito masssa!!!!!

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Musica para Lara

O Klaus é um companheiro de jornada existencial. Não me vejo como um estranho quando busco compreender as coisas ao seu lado. É evidente que para eliminar as lacunas de compreensão a pessoa tem que estar preparada para a possibilidade de estar equivocada sobre aquilo que acredita estar correto. Simples assim, porém não é fácil colocar-se em questão. Isso não tem relação com a força exercida sobre a execução do raciocínio lógico do exercício da reflexão. Mas com as resistências sobre  mudanças que afetam o alicerce de sustentação do sistema vigente. Fazer tais perguntas é questionar verdades sobre assuntos que são vistos como verdades fundamentais, portanto edificam a base de toda a concepção de vida que se tem. Eu creio que revisar os conceitos nunca é demais e não me furto de perguntar diretamente às pessoas sobre seus pontos de vista em temas que considero importantes. Tal postura me rendeu ensinamentos que valem existências inteiras, se é que me entendem. A foto é autoria do Klaus e registra a Lara curtindo um som. Ela curtiu pra caramba. Foi muito massa ouvir ela” tagarolar”....”laralaralaral”. ..... ´- simplesmente massa!!!!

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Como está a Dona Inês

Tive a oportunidade de conhecer Otília. Uma mulher de 95 anos que dividia o quarto com a Dona Inês, no Hospital da Puc. A quase centenária mulher não se manifestava para nada. Limitava-se a piscar os olhos e estava no hospital por conta de um tombo que havia sofrido. Não tinha mais ninguém de sua família e vivia em um asilo. Para quem conhece a Dona Inês sabe de sua inquietude e passou a provocar conversas com Otília. Diante da insistência as tentativas passaram a constituir uma comunicação por solilóquios, parecendo que as mensagens enfrentavam grande resistência em permear a mente de Otília. Logo virou diálogo, porém a surpresa é que as conversas de davam em alemão, geralmente em chingamentos. A Dona Inês não fica indiferente diante de outra pessoa e passou a alimentar Otília e ela logo melhorou. Ontem quando cheguei no Hospital para levar roupas limpas percebi a ausência de Otília e com certo receio perguntei seu destino. Dona Inês abriu um sorriso e disse que ela havia dado alta. O mesmo sorriso não estava no rosto dos outros companheiros de seu quarto. Um acompanhante vindo de Três Maio disse que Otília só tinha melhorado por conta da Dona Inês e que não acredita que ela viveria muito fora dali. Constatamos a todo momento que onde a Maria Ines Scholl Heinz passa o ambiente muda, as pessoas ficam mais sensíveis e humanas. Ela segue com as aplicações de radioterapia e quimioterapia e todos torcemos por uma boa resposta biológica. Parabéns ao Sergio Heraclito Scholl Heinz, ao jornalista João Machado pelo excelente trabalho na edição do Eco Do Sinos. Obrigado pela colaboração de todos e pela compreensão diante das imperfeições cotidianas que decorrem desta mudança de rotina.

quinta-feira, 8 de março de 2012

A tensão da mudança

Novas ideias surgem por meio da discussão, investigação, análise e crítica de ideias alheias. Em tempos democráticos as mudanças se dão pela via das novas ideias, que se legitimam nos processos políticos. Em outros tempos as mudanças se davam pela eliminação das pessoas. Ainda temos hoje aqueles que não gostam de críticas.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Dia extra do ano Bisexto

Este é um ano bisexto, e como tal um dia é adicionado para fazer com que o calendário permaneça em sintonia com o Sol. Este dia é hoje. A razão que periodicamente faz com que adicionemos um dia é que a Terra não demora exactamente 365 dias a dar uma volta ao Sol, mas sim 365.25 dias. Por isso, em cada quatro anos, o calendário contém mais um dia para contar com o quarto de dia extra do período orbital da Terra.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Ingrid com 10 anos, quando todos viramos criança





Minha filha comemorou 10 anos no dia 15 de janeiro. Comemorei com ela o último dia de sua vida com 9 anos de idade. No sábado, dia 14, acordamos bem cedinho para preparar uma festinha com balões, bolo, salgadinho e velinha de aniversário. A motivação toda foi da minha esposa Natália, que fez a maior correria comigo para marcar esse momento importante para a Ingrid. Foi uma festa surpresa para todo mundo, nem eu sabia que iria fazer, mas chegou o momento e então decidimos agir. Na festa só tinha criança, pois nós todos fomos atingidos pela síndrome de Peter Pan, comemos o bolo de chocolate com cereja, sabor preferido da Ingrid, os salgadinhos, que ela gostou muito e depois descansamos para um dia de atividades que estava por vir.
Fomos para Porto Alegre, no Iguatemi, para curtir um cineminha. A escolha da programação foi da Ingrid, que nos levou para assistir Alvin e os Esquilos 3. Ótimo filme, nos divertimos muito, mas vale registrar a espera na antessala do cinema, quando dei um milk shake para a pequena. Me atrapalhei no menu da chique lanchonete e comprei um milk que deu quase R$ 20,00. Todos nós ficamos chocados com o preço, mas valeu para rirem da minha cara e tudo virou festa.

Depois do filme chegou o momento do presente. Disse que guardaria segredo sobre o que seria, mas que caso a Ingrid acertasse o que ganharia eu daria mais detalhes sobre o que se tratava. Atravessamos a rua e fomos para a Livraria Cultura, mas no caminho a pequena já matou a charada dizendo que eu planejava dar um livro para ela. Esperta a mocinha, tive que iniciar então a explanação sobre o que seria essa história de comprar um livro. Lhe disse que eu gostaria que ela escolhesse o assunto que mais lhe agradaria. Que seu presente tinha por objetivo principal melhorar sua leitura, pois ela já ingressa na 5ª série e precisa praticar suas habilidades de leitura. O melhor caminho para isso é ler com prazer. Então nos esparramamos pelo chão da livraria e começamos a escolha. Depois de ler várias páginas de livros de seu interesse, ela escolheu um e já levou empacotadinho.

Nosso trato é para ela ler, no mínimo, quatro páginas por dia para melhorar suas habilidades. Isso seria muito bom para os desafios que estão colocados na sua agenda em 2012. Claro que a menina vaidosa pensou em ganhar um sapatinho de salto, que lhe dei no decorrer da semana, pois é natural que não pensemos muito em livros com 10 anos de idade. Bom, então nos cabe motivar a pensar.

Na minha infância eu era castigado a ler. Que absurdo isso. Quando eu fazia alguma arte meu castigo, ministrado pelos professores, era ler algum livro ou texto. Na minha opinião essa é a pior pedagogia possível. Ora, associar a leitura a um castigo é a pior das lições que alguém pode dar. Por isso eu optei em vincular o exercício de ler com atividades alegres, divertidas em que tudo é uma grande brincadeira. Quem sabe minha filha busque a leitura como uma forma de lazer, tal como fizemos em minha casa. Nesse sentido a Livraria Cultural é um grande parque de diversões. Experimentem levar seus amigos, seus filhos para um passeios na biblioteca. Certamente será muito divertido, economicamente viável e será uma atividade saudável para todos.

Para encerrar do dia fomos jantar na Cantina Capri, em São Leopoldo, junto com o Rafael que também estava de aniversário. Aquela agenda que iniciamos bem cedinho terminou quase meia-noite. Algumas pessoas se aborreceram com a nossa festa, mas vale um desconto, pois não é todo o dia que fizemos aniversário e essa felicidade não tem preço. Te amo filha e só tenho a te agradecer toda a felicidade proporcionada nessa agenda maluca. Um feliz aniversário.


 
 



sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Eco cultural 2012 – a sustentabilidade precisa de você

A revista eletrônica Ecocutlrual.net em 2011 se propôs a organizar uma agenda de cultura com diversos colaboradores. A deia sempre foi consolidar um novo espaço na internet que pudesse alavancar projetos e dar visibilidade para profissionais ligados à produção cultural. Cumprimos a meta e, atualmente, a agenda cultural está sendo atualizada diariamente, com a programação da Casa de Cultura Mário Quintana, Secretaria Estadual de Cultura e diversos colaboradores, tais como a Fevale e prefeituras da região.

O desafio para este ano é dar continuidade à agenda cultural e agregar temas ligados ao Meio Ambiente. A fusão conceitual tem plena sintonia com o nome do site, pois trataremos da eco cultura, uma cultura ecológica, além do que já fizemos hoje. Muito pertinente está a agenda de turismo ecológico, que me atrai e estou pessoalmente motivado a desenvolver esse trabalho.

Trilhas ecológicas que remontam as escolas peripatéticas da idade antiga, em que transformamos o cenário natural do passeio em material pedagógico para desenvolver temas da geologia, antropologia, história, tradição, matemática, biologia na constituição dos princípios da filosofia da sustentabilidade, observando diretamente o meio ambiente. Um sonho, um tanto maluco, mas muito lúcido, com objetivos claros. Outro desafio será a sustentabilidade deste projeto, que coloca na agenda de 2012 a tarefa de desenvolver um programa comercial para o ecocultural.net. Se você gostou da ideia, venha ser parceiro desta construção, o mundo sustentável precisa de sua contribuição.



Charles Scholl

Consultor de Comunicação da

Esparta Ação Tática e Estratégia

contatoesparta@gmail.com