A filosofia
sofística e Sócrates protagonizaram alguns dos principais pensamentos da idade
antiga. Como os demais pré-socráticos, os sofistas se dedicavam a filosofar
sobre as coisas da natureza em um esforço de compreender do que são feitas as
coisa e se elas de fato foram feitas ou sempre existiram. Já Sócrates remete o
foco da filosofia para as questões da pessoa humana ao acreditar que o
conhecimento está no interior de cada um, algo que fica evidente em sua célebre
frase “conhece-te a ti mesmo”. No
entanto, para avançar um pouco mais é preciso compreender alguns sofistas, seus
pensamentos e algumas reflexões sobre a Physis e Nomos e os contrastes que
podemos perceber com a mudança de foco da filosofia promovida por Sócrates.
Iniciamos por Protágoras
de Abdera (498 – 421 A.C), o cara da desconstrução. Ao afirmar que “o homem é a
medida de todas as coisa, das que são pelo que são, das que não são pelo que
são”, Protágoras demonstra seu ponto de vista antropocentrista. Essa abordagem
produz um relativismo do conhecimento, na medida que cada pessoa o possuiria
por suas perspectivas. É a ideia de que cada ponto de vista é a vista de um
ponto é levada a sério de forma radical por Protágoras. Então para ele as perspectivas
diferentes aferem verdades distintas. Bom, por grande responsabilidade de
Platão e Sócrates, os sofistas foram muito criticados por vender o
conhecimento, ao cobrar em dinheiro pelas aulas. Por outro lado, existem
releituras que buscam valorizar as virtudes destes pensadores. No caso de
Protágoras, é reconhecido por defender um ensino em que a educação permite
excelência em todas virtudes políticas. Além da boa retórica, o pensamento de
Protágoras produz um relativismo das verdades e um ceticismo epistemológico,
quando afirma a impossibilidade de se manifestar sobre os deuses.
Já Górgias de
Leontini(485 – 380ª.C.), considerado o inventor da retórica e autor de obras
como Elogio a Helena, A defesa de Palamede, Do não ser, ou da natureza. Seu
pensamento contraria Parmênides e a Escola Eleástica. Bom, falar sobre o nihilismo epistêmico de
Górgias requer um pouco de esforço e imaginação. Em um primeiro momento ele
afirma que nada existe. Mesmo que existisse qualquer coisa, o homem não pode
apreendê-la, não podemos formulá-la nem comunica-la aos outros. Não existe o
ser, assim como não existe o não ser e menos ainda o ser e o não ser. Ele
justifica que se o não ser existe, ele pode existir ao pode não existir ao
mesmo tempo. O que seria estranho. Por óbvio o não ser não existe. Simples
assim.
Mas o conflito
entre Physis e Nomos, talvez, consiga trazer uma perspectiva do que foram os
sofistas. O tema da justiça entre physis (Natureza) e Nomos (lei), sob o ponto
de vista de três sofistas: Trasímaco, Cálicles e Antifonte. O Transímaco
sustentava que a justiça é o que convém ao mais poderoso, pois são eles que
legislam e fazem as leis. O Cálicles demarcava em favor de physis ao afirmar
que o direito positivado tem a função de usurpar o que pertence, em função de
sua superioridade evidente o direito fundado na natureza, que tem, em si, a
condição de impor, sem restrições, seus desejos. Por aí ele conclui que a lei e
a natureza se contradizem. O Antifonte, por um lado defende as normas
positivadas, mas faz menção a importância fundamental da Physis, que impera se
a pessoa está ausente de sua comunidade, sugerindo que a justiça se justifica
nas relações sociais, mas não na solidão, quando o homem está só estará sob a
lei da natureza. As demais resultam de acordo e constituem o Nomos, as que são
naturais dispensam acordos, pois são necessárias.
Essa
perspectiva de filosofar sobre as coisas do mundo natural são brutalmente
modificadas a partir de Sócrates de Atenas (470-69 – 399 A.C.). Ele traz a
discussão do ser humano para dentro do cosmos. Afirma que o conhecimento é
interno, vem do interior da pessoa. Nesse sentido tem uma máxima que afirma
“conhece-te a ti mesmo”. O conhecimento se desenvolve internamente, por meio
das virtudes. E Sócrates ainda sustentava que uma pessoa que possuía uma
virtude tinha compreenderia a justiça, a temperança, a coragem e a prudência,
que constituem as quatro virtudes cardeais.
A moralidade de
Sócrates valoriza o conhecimento como uma virtude do bem. Ele não acredita que
possa existir conflito entre paixão e razão. Nesse sentido, que faz o bem é uma
pessoa esclarecida e sábia, que manifesta em suas ações o conhecimento. Quem age
mal, demonstra não ter compreendido algo, ter ignorado a verdade e quem faz
isso sistematicamente é um ignorante. O filósofo desenvolveu um método
dialético que consistia em afirmar que sabe que nada sabe. A irônica frase
servia como uma abertura de portas para que seu interlocutor pudesse se
envaidecer de seus conhecimentos e apresentar suas ideias. Logo em seguida
Sócrates destacava as imperfeições do pensamento em uma lógica de refutação e
valorizava as ideias que lhe faziam sentido. A conclusão partia com a convicção
de que o resultado do diálogo e o aprendizado havia brotado de dentro dele
mesmo e que Sócrates havia ajudado a encontrar. Sócrates chamava esse método de
Maieutica, um tipo de parto de ideias, que faz referência a mãe do filósofo que
era parteira.
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