sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Novas tecnologias e a nova economia

Esteio protagonizou um debate sobre novas tecnologias e uma nova economia na perspectiva de superação das falências sociais, políticas e econômicas da atualidade. Frente ao painel, realizado no dia 27, no salão Nobre da Prefeitura de Esteio, o programador Luiz Eduardo Guaraldo, representando a Associação de Software Livre e Lúcio Uberdan, membro da executiva do Fórum Gaúcho de Economia Solidária, apresentaram suas experiências e conhecimentos sobre um novo olhar acerca da economia, do desenvolvimento e do uso das tecnologias. No senso comum é possível perceber que existem dificuldades de compreender as convergências ideológicas sobre o movimento do software livre e a economia solidária. A apresentação de conhecimentos, por parte dos palestrantes, ocorreu com uma maturidade singular, decorrente de muita prática de trabalho em ambas as áreas.

Repensar um sistema político, social, econômico, cultural, tecnológico, geralmente se dá por caminhos essencialmente eruditos, reservados a intelectuais. Lúcio e Luiz avançaram em suas explanações apresentando os resultados compreendidos em suas pesquisas de campo feitas e aplicadas diretamente em nosso tecido social. A partir da referência brasileira de Economia Solidária e Software Livre, foram descritas as mais diversas práticas internacionais com foco na América Latina, Europa e Estados Unidos. No mesmo dia, pela manhã, no Acampamento Intercontinental da Juventude, em Lomba Grande, o Ministro da Justiça, Tarso Genro, tecia algumas avaliações sobre os movimentos sociais da atualidade, mais especificamente aqueles representados no Fórum Social Mundial. Tarso afirmou que um dos maiores desafios desta geração consiste na aplicação práticas das utopias. Em uma impressionante sintonia de idéias, Lúcio e Luiz, em Esteio, aparentemente na contramão de todas as tendências descreveram modos concretos de desenvolvimento econômico e tecnológico sob os preceitos do crescimento humano, em que o conhecimento é tratado como um patrimônio da humanidade. Ou seja, a aplicação prática das utopias que orientam uma sociedade mais justa, referenciadas no desenvolvimento humano e social, com respeito ao meio ambiente.

Esse é o clima dos 10 Anos do Fórum Social Mundial na Região Metropolitana de Porto Alegre. O local onde paramos para pensar e temos a chance de perceber que as práticas mais bem sucedidas são alicerçadas em utopias fortes sustentadas por pessoas que acreditam e fazem de seu cotidiano oportunidades para um mundo melhor. A autonomia tecnológica e a concentração de renda são problemas concretos no Brasil. Diante do desemprego e da baixa renda, da falência de empreendimentos surgiram as primeiras experiências associativas e de economia solidária. A reciclagem do lixo para a preservação do meio ambiente, que converte a pobreza, a poluição em renda e autonomia financeira é organizada pela lógica associativista. Tal lógica também rege instituições financeiras importantes no mercado.

Mesmo entre as experiências bem sucedidas que foram construídas sobre os alicerces da solidariedade e da auto-gestão, encontramos disparidades e desigualdades. Porém, cabe lembrar que tais disparidades surgem quando o empreendimento migra de um processo aberto de gestão para os modelos mais tradicionais da economia. E como uma contaminação do atual sistema financeiro que, muitas vezes, está formalizada nas condições impostas nos financiamentos. E desta malha burocrática que a lógica dominante prevalece. A lógica da Economia Solidária está longe de se tornar hegemônica no Brasil, porém as experiências bem sucedidas e os fóruns de debate podem levar, a partir de uma estratégia de Estado, a consolidação de uma outra economia. O mesmo se aplica ao desenvolvimento da nossa tecnologia. A massificação e o monopólio tecnológico nos afastam completamente de qualquer possibilidade de progresso real. Nesta lógica nos posicionamos somente como consumidores. O código fonte aberto dos softwares permite liberdade de criação, reconhecimento por mérito dos desenvolvedores, aperfeiçoamento das tecnologias de forma constante e permanente. O acesso a essa cultura também merece uma estratégia de Estado, tal qual ocorre em cidades importantes da Europa em que são governadas completamente por softwares livres, sendo que muitos deles são desenvolvidos em Porto Alegre. Para quem pensa na autonomia tecnológica como uma estratégia de crescimento de uma nação, deveria incentivar as escolas a adotarem as plataformas livres.

Como podemos avançar nesse quesito se nossas crianças ingressam no mundo da informática sob o paradigma dos softwares proprietários? Como podemos avançar no debate sobre uma nova economia se os padrões da economia tradicional são amplamente subsidiados pelo poder Estatal? Como podemos avançar na agroindústria familiar se o agronegócio ainda é a prioridade das políticas de Estado? Diante de tantos questionamentos é possível enxergar a importância do Poder Estatal para a migração do discurso à prática. A saída, sem sobra de dúvida, passa pela política, que controla o poder Estatal, e pelo financiamento de segmentos estratégicos de desenvolvimento.

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