quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

A construção de um monumento pela PAZ

Charles Scholl - http://charlesscholl.blogspot.com/
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A realização do Fórum Social Mundial 10 anos – Região Metropolitana de Porto Alegre nos reservou muitas surpresas. Além das personalidades internacionais que se concentraram em nossa região, diversas ações apontam para atividades permanentes que foram criadas durante esse momento de efervescência cultural. Demorei um tanto para conseguir dividir um pouco as informações acerca das atividades realizadas no dia 30, no Parque Galvany Dorneles Guedes, onde iniciamos o projeto de criação de uma aldeia da paz permanente. A demora se deu pelas peculiaridades daquela atividade. Momentos muito intensos de vivências verdadeiramente revolucionárias necessitavam de um tempo para decantar e poder falar com mais clareza o que aconteceu no decorrer do dia 30. O que podemos afirmar de imediato é que criamos a primeira aldeia da paz permanente do Brasil, em praça pública.
A idéia da aldeia da paz surgiu nas primeiras edições do Fórum Social Mundial, mais precisamente no Acampamento Intercontinental da Juventude. Desde o início o Acampamento Intercontinental da Juventude(AIJ) se constituía para vivenciar as mudanças que estavam sendo debatidas no Fórum Social Mundial(FSM). Assim como as primeiras edições do FSM, o espaço do AIJ se tornou um grande palco para protestos de toda ordem. A opressão sobre os mais diversos movimentos sociais, ao longo do tempo, criou um contencioso importante. O FSM e o AIJ permitiram vazão e o manifesto social se impôs. Naquela época a aldeia da paz era instalada fora da área do AIJ, pois as ações estavam focadas com base na mudança de condutas consideradas natas à natureza humana por aqueles que vivem imersos na sociedade capitalista de hoje. Mesmo aqueles que faziam oposição ao sistema tinham dificuldade de compreender a mensagem de paz. Neste ano, a aldeia se instalou no centro do AIJ, pois a idéia em torno do FSM era de aprofundar os debates para a construção de um outro mundo possível. As experiências da esquerda no governo abriram frentes de trabalho importantes que redesenharam o mapa político do movimento social.
É nesse contexto que iniciam programas de governo focados em uma cultura de paz. Em Esteio temos diversas iniciativas, tais como o programa Mulheres da Paz, Território de Paz, Cultura de Paz, entre outros. É evidente que não se trata de uma iniciativa isolada do município, pois todos os programas são em parceria com o Governo Federal. Em última análise, a mudança do cenário político sobre o movimento social está sob influência direta das realizações do Governo Lula. Esteio está em plena sintonia com as mudanças sociais, políticas, econômicas que estão redesenhando o Brasil. Sob o paradigma da “Cidade mais humana”, que orienta as políticas públicas adotadas em nossa cidade, temos uma plataforma de governo humanista, pacifista, que está exercendo o poder estatal na construção de um outro mundo possível.
Ainda falta responder o que é uma aldeia da paz. Arrisco a afirmar que tal concepção é originária da cultura maia, mas tem influências dos seguidores de Emiliano Zapata. Tudo isso se misturou com a contribuição de jovens brasileiros que vivem em comunidades alternativas. Já faz mais de três décadas que é realizado no Brasil o Encontro Nacional de Comunidades Alternativas (ENCA). Alguns integrantes desse movimento identificaram no AIJ a possibilidade de partilhar suas idéias e experiências. Porém, tal contato acabou criando uma fusão cultural cujo insumo nutre políticas públicas, conceitos arquitetônicos, filosofias, exercícios de religiosidade, éticas nutricionais e até mesmo formas distintas de organizar o tempo provenientes de uma intersecção de vivências produzidas no acampamento. Como centro catalizador desse movimento está o mexicano Oscar. Em Esteio, Oscar construiu uma pequena pirâmide maia onde ascendeu o fogo simbólico. Oscar é um homem sagrado pelas suas intenções, pelas suas ações e reconhecido internacionalmente como um homem da cultura de paz. Sua passagem pela nossa cidade veio coroar esse movimento. A arquitetura e organização das oficinas, desde a concepção da aldeia e a segurança de trazer o homem sagrado à nossa terra foi trabalho do brasileiro paranaense Marcos Mandala. Militante da bioconstrução comandou cerca de 70 pessoas inexperientes a construirem com suas próprias mãos edificações que permanecem para apreciação como verdadeiras obras de arte. A continuidade da Aldeia da Paz é um desafio com dimensões astronômicas, da mesma envergadura de manter a coerência cotidiana entre o discurso e a prática. Mas isso será escrito pelas mãos do povo da nossa cidade, no passo em que trilhamos o caminho da paz.

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