quarta-feira, 3 de março de 2010

Esteio 55 anos - Para defender nossa cidade temos que ir além...

*Charles Scholl
É difícil dissociar a idéia de municipalidade da noção de autonomia, identidade, economia, política e organização social. O ordenamento de uma sociedade positivada em uma instância estatal, inserida no Estado do Rio Grande do Sul, no Brasil é uma ação de independência. Tais palavras serviram de combustível aos emancipacionistas que desmembraram o 11º distrito de São Leopoldo, tornando-o município de Esteio. Oficialmente comemoramos tal organização política no dia 28 de fevereiro e, neste ano, completamos 55 anos desta façanha.
É o momento propício para reafirmar que a organização política de um território é puramente humana. Esteio é o exemplo disso, já que as divisas de seu território foram edificadas por opiniões distintas resultantes de plebiscitos entre povos de uma mesma região. Sapucaia do Sul conquistaria sua condição de município depois de cinco anos, pela mais pura divergência de opinião. Certa oportunidade em conversa com Darcy Zolin, um dos lideres emancipacionistas, ele relatava que quando cruzavam a área da atual Estação Luiz Pasteur, a população jogava ossos aos municipalistas. Uma metáfora que traduzia o entendimento de que o movimento municipalista girava em torno da criação de cargos políticos. Tal comportamento é puramente humano e tem pouca relação com acidentes geográficos que pudessem justificar uma fronteira com Sapucaia do Sul. É bem provável que tal situação esteja no centro dos problemas de conurbação urbana que enfrentamos na atualidade.
Ocorre que a dinâmica da formação das cidades merece ser reavaliada. Não é possível que nestes tempos ainda reinem a lógica municipalista como se ainda estivéssemos em busca da independência política. É preciso avançar para estratégias de desenvolvimento regionais pelo caminho das parcerias em que todos ganham. Existem muitos exemplos importantes que nos apontam a superação de dificuldades comuns entre os municípios superadas pela construção de acordos entre as cidades. O destino do lixo de Esteio é um deles. Poderíamos avançar na saúde, na educação e principalmente no meio ambiente.
Desprezar a pauta do meio ambiente é um crime contra a população, pois coloca em cheque a qualidade de vida das comunidades e esgota de forma irresponsável os recursos naturais de nossa bioregião. Qualquer intervenção ao meio ambiente aplicada nos territórios em torno de nossa cidade, porém dentro de sua bioregião, terá reflexo direto em nosso território. Isso é bem óbvio, já que relembramos que nossas fronteiras são políticas, mas as fronteiras de nossa bioregião, de nossas bacias, são outras. O Governo do Estado deveria dar conta de tais assuntos, porém a lógica municipalista, nesses casos, pode ser um entrave. Olhar para uma região rompendo suas fronteiras políticas ainda é um gesto utópico, sustentado por alguns operadores da política mais conscientes. Esses são verdadeiras minorias. Enquanto persistir tais inconseqüências o desenvolvimento de uma cidade pode vulnerabilizar outra e vice-versa.
Com 55 anos temos condições de reconhecer nossa identidade cultural cidadã, saber que repercutimos na economia, que integramos uma bioregião, que nossas fronteiras são produto da construção dos símbolos humanos e avançar para uma postura de desenvolvimento conseqüente com todos. Isso seria um avanço.

*Diretor de comunicação da Prefeitura de Esteio
Charlesscholl.blogspot.com

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