sábado, 16 de dezembro de 2017

Filosofia sofística e a de Sócrates


A filosofia sofística e Sócrates protagonizaram alguns dos principais pensamentos da idade antiga. Como os demais pré-socráticos, os sofistas se dedicavam a filosofar sobre as coisas da natureza em um esforço de compreender do que são feitas as coisa e se elas de fato foram feitas ou sempre existiram. Já Sócrates remete o foco da filosofia para as questões da pessoa humana ao acreditar que o conhecimento está no interior de cada um, algo que fica evidente em sua célebre frase “conhece-te a ti mesmo”.  No entanto, para avançar um pouco mais é preciso compreender alguns sofistas, seus pensamentos e algumas reflexões sobre a Physis e Nomos e os contrastes que podemos perceber com a mudança de foco da filosofia promovida por Sócrates.  
Iniciamos por Protágoras de Abdera (498 – 421 A.C), o cara da desconstrução. Ao afirmar que “o homem é a medida de todas as coisa, das que são pelo que são, das que não são pelo que são”, Protágoras demonstra seu ponto de vista antropocentrista. Essa abordagem produz um relativismo do conhecimento, na medida que cada pessoa o possuiria por suas perspectivas. É a ideia de que cada ponto de vista é a vista de um ponto é levada a sério de forma radical por Protágoras. Então para ele as perspectivas diferentes aferem verdades distintas. Bom, por grande responsabilidade de Platão e Sócrates, os sofistas foram muito criticados por vender o conhecimento, ao cobrar em dinheiro pelas aulas. Por outro lado, existem releituras que buscam valorizar as virtudes destes pensadores. No caso de Protágoras, é reconhecido por defender um ensino em que a educação permite excelência em todas virtudes políticas. Além da boa retórica, o pensamento de Protágoras produz um relativismo das verdades e um ceticismo epistemológico, quando afirma a impossibilidade de se manifestar sobre os deuses.
Já Górgias de Leontini(485 – 380ª.C.), considerado o inventor da retórica e autor de obras como Elogio a Helena, A defesa de Palamede, Do não ser, ou da natureza. Seu pensamento contraria Parmênides e a Escola Eleástica.  Bom, falar sobre o nihilismo epistêmico de Górgias requer um pouco de esforço e imaginação. Em um primeiro momento ele afirma que nada existe. Mesmo que existisse qualquer coisa, o homem não pode apreendê-la, não podemos formulá-la nem comunica-la aos outros. Não existe o ser, assim como não existe o não ser e menos ainda o ser e o não ser. Ele justifica que se o não ser existe, ele pode existir ao pode não existir ao mesmo tempo. O que seria estranho. Por óbvio o não ser não existe. Simples assim.
Mas o conflito entre Physis e Nomos, talvez, consiga trazer uma perspectiva do que foram os sofistas. O tema da justiça entre physis (Natureza) e Nomos (lei), sob o ponto de vista de três sofistas: Trasímaco, Cálicles e Antifonte. O Transímaco sustentava que a justiça é o que convém ao mais poderoso, pois são eles que legislam e fazem as leis. O Cálicles demarcava em favor de physis ao afirmar que o direito positivado tem a função de usurpar o que pertence, em função de sua superioridade evidente o direito fundado na natureza, que tem, em si, a condição de impor, sem restrições, seus desejos. Por aí ele conclui que a lei e a natureza se contradizem. O Antifonte, por um lado defende as normas positivadas, mas faz menção a importância fundamental da Physis, que impera se a pessoa está ausente de sua comunidade, sugerindo que a justiça se justifica nas relações sociais, mas não na solidão, quando o homem está só estará sob a lei da natureza. As demais resultam de acordo e constituem o Nomos, as que são naturais dispensam acordos, pois são necessárias.  
Essa perspectiva de filosofar sobre as coisas do mundo natural são brutalmente modificadas a partir de Sócrates de Atenas (470-69 – 399 A.C.). Ele traz a discussão do ser humano para dentro do cosmos. Afirma que o conhecimento é interno, vem do interior da pessoa. Nesse sentido tem uma máxima que afirma “conhece-te a ti mesmo”. O conhecimento se desenvolve internamente, por meio das virtudes. E Sócrates ainda sustentava que uma pessoa que possuía uma virtude tinha compreenderia a justiça, a temperança, a coragem e a prudência, que constituem as quatro virtudes cardeais.
A moralidade de Sócrates valoriza o conhecimento como uma virtude do bem. Ele não acredita que possa existir conflito entre paixão e razão. Nesse sentido, que faz o bem é uma pessoa esclarecida e sábia, que manifesta em suas ações o conhecimento. Quem age mal, demonstra não ter compreendido algo, ter ignorado a verdade e quem faz isso sistematicamente é um ignorante. O filósofo desenvolveu um método dialético que consistia em afirmar que sabe que nada sabe. A irônica frase servia como uma abertura de portas para que seu interlocutor pudesse se envaidecer de seus conhecimentos e apresentar suas ideias. Logo em seguida Sócrates destacava as imperfeições do pensamento em uma lógica de refutação e valorizava as ideias que lhe faziam sentido. A conclusão partia com a convicção de que o resultado do diálogo e o aprendizado havia brotado de dentro dele mesmo e que Sócrates havia ajudado a encontrar. Sócrates chamava esse método de Maieutica, um tipo de parto de ideias, que faz referência a mãe do filósofo que era parteira.


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