domingo, 14 de dezembro de 2008

Quando decidimos para onde ir / 2002

Vivemos hoje diante de uma crise geral que parece surgir como um desafio para nossa geração. É de fato uma abordagem generosa à herança dada, pois nada surge sem causas e nada que fizemos deixa de acarretar em conseqüências, mesmo aquilo que deixamos de fazer. A crise geral pode ser percebida na política, na economia, nas relações sociais e nos valore individuais. A política, ao invés de basear-se na pluralidade dos homens, afirma-se com o que há de comum entre alguns e exclui o "resto". A política, impregnada de preconceitos neste momento histórico, afasta-se de seu sentido existencial. Assim, pouco contribui na convivência entre diferentes, que seria sua intervenção mais generosa. Dessa forma, a diversidade não encontra espaço e nos vemos diante de um mundo de cultura de massa.

A economia, em seu caos absoluto, porque uno meu ponto de vista ao mundo dos excluídos, aprofunda cada vez mais o apartheid social. Hoje podemos afirmar que existem dois mundos distintos. O mundo dos que tudo podem e o mundo dos que nada podem. Uma série de fatores são decisivos à "classificação" do indivíduo neste contexto social predominando, acima da subjetividade, a situação sócio-econômica do sujeito ou da família. Talvez a antiga polis fosse menos hipócrita quando estendia a cidadania de forma restrita. Hoje, a diferença é que os mesmos trabalhadores que edificam as obras faraônicas dos centros urbanos modernos possuem carteira assinada. Porém, os trabalhadores, assim como os escravos, continuam morando nas periferias da polis e passando a miséria de geração para geração. Continuam orientados por uma religião que propõe a felicidade após a morte e admiram suas autoridades como esfinges.

Estamos vivendo um momento de decisão, em que a opinião de cada cidadão poderá apontar para uma mudança política dessa realidade. O Rio Grande do Sul, assim como Porto Alegre, já tomou essa decisão e trilham um caminho que se baseia no reconhecimento de direitos, no fortalecimento do mercado interno, no desenvolvimento de tecnologia própria, criando inclusive uma universidade com cursos próprios para os gaúchos se relacionarem de forma mais igual com o mundo. A transparência administrativa construída com a participação de milhares de cidadãos que fiscalizam os principais investimentos sociais do Estado, só foi possível com a mudança política que a implementação do Orçamento Participativo trouxe para os gaúchos. Não se trata de mágica administrativa, mas de transparência, seriedade, muito respeito com o patrimônio público e, acima de tudo, compromisso com um pacto social que tenha como paradigma os Direitos Humanos.
Charles Scholl - falecomcharles@pop.com.br

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