No dia 28 de fevereiro Esteio completa 47 anos de municipalidade. As divisas políticas que demarcam nosso município, pelo menos aqui, são divisas políticas. O traçado de nossa cidade, com exceção da fronteira com Canoas, não se justifica sem o entendimento histórico da formação de Esteio. Não há obstáculos geográficos que explique os motivos da Luis Pasteur servir de fronteira entre nós e os sapucaienses. Desde as primeiras reuniões da comissão emancipacionalista ocorridas no salão do "Pau do Meio", onde hoje é a Igreja Betel, lideranças do distrito de São Leopoldo discutiam a possibilidade da emancipação. A comissão era formada por diversas correntes políticas, desde os trabalhistas, que no final da década de 40 estavam no ápice, até os comunistas que tiveram que se afastar da comissão para não ser um empecilho na criação do município.
Diversos sujeitos trabalharam muito pela emancipação da cidade, entre os mais lembrados temos o cobrador do Clube do Comércio, Pedro Lerbach, um argentino que se instalou em Esteio. O Clube do Comércio tinha o status que, talvez, o Clube Aliança tenha hoje para as famílias da elite da cidade.
Seria ratificar a injustiça histórica cometida com Julião de Moura, membro da comissão, que por ser comunista teve de se afastar. Seu afastamento, talvez, tenha contribuído muito para a hegemonia trabalhista que imperou durante a maior parte da história de Esteio, como município. Essa realidade foi mudada com a eleição de Vanderlan Vasconselos, como prefeito pelo PSB, e pelo seu vice, Gilmar Rinaldi, pelo PT.
Os primeiros registros de Esteio se confundem com a história de São Leopoldo, há mais de 200 anos, quando a região era conhecida como a Real Fazenda do Linho Cânhamo, ou seja, uma grande plantação de maconha. Por problemas com os escravos, a fazenda não progrediu e foi extinta e dividida em lotes onde se fixaram imigrantes alemães, em 1824. A área territorial, onde hoje compreende nosso município, não passava de um banhado cheio de jacarés, que atraíam caçadores de Porto Alegre e arredores. Essas terras foram adquiridas pelo fazendeiro Serafim Pereira de Vargas, conhecido como Coronel Janjão. O povo veio para cá a partir da ferrovia Porto Alegre - Novo Hamburgo, construída em 1873, nas terras do Coronel Janjão.
Desde então as coisas não mudaram muito, pelo menos quanto à sua essência política. Em 1948, quando os emancipacionistas inflamavam o povoado com passeatas, de carreta, ao ultrapassar a estrada que corresponde hoje a Avenida Luis Pasteur, eram vaiados e agredidos com ossos jogados pelos moradores do lado de lá. Eles não queriam a emancipação. Darci Zolin, que se elegeria vereador pelo Partido Democrata Cristão, recordou essa passagem em reportagem ao JES. Nesse período o coronel da região era o Theodomiro Porto da Fonseca, que praticamente concedeu a possibilidade da criação do novo município. Pouco tempo depois, a cidade conheceu Clodovino Soares, que comandou a política de Esteio sem muitas alterações, porém em nome do trabalhismo, que teve uma seqüência de mais de 30 anos de "vitórias tranqüilas". Há os que dizem que, se não fosse a fatalidade de um infarto, ocorrida em ano eleitoral, Clodovino teria mantido o trabalhismo na prefeitura de Esteio até os dias de hoje. Uma das características do coronelismo é sua estreita relação com as práticas monárquicas, incluindo, obviamente, a hereditariedade do poder. Os plebeus ficavam à mercê do bom humor do coronel, que podia ser popular, daqueles que olhavam para o povo, como não, aqueles que mantinham o "povo no seu lugar". Os trabalhistas mudaram essa versão, pelo menos no que diz respeito a hereditariedade, não que não tivessem tentado, mas dependia de resultados eleitorais e Júlio Soares não passou pelo crivo popular. Mas os trabalhistas ainda olhavam para os populares como uma massa proletária a qual conheciam e "trabalhavam por ela". Hoje temos uma administração que foi aprovada eleitoralmente sob a pretensão de dividir o poder com os trabalhadores. Aliás, a pretensão de ter os interesses plebeus regendo a política da cidade é o fundamento do lema "administração popular".
Apesar do marketing, ainda fica difícil ter na memória alguma ação que marque o fim do trabalhismo dando início à participação popular. Aliás, as práticas políticas de hoje pouco demarcam o fim da ocupação das terras do Coronel Janjão, porém, em uma versão moderna.
Charles Scholl - falecomcharles@pop.com.br
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