domingo, 14 de dezembro de 2008

Temos idade para viver? / 2007

“Uma nação não pode ser julgada pela maneira como trata seus cidadãos mais ilustres e sim pelo tratamento dado aos mais marginalizados: seus presos”. Nelson Mandela.
O disparo fulminante de Nelson Mandela sobre o tratamento dado aos presos também é um tiro certeiro sobre o comportamento de uma nação sobre suas instituições totais. O Brasil merece ser avaliado por esse prisma. Ter um presidente operário não garante que a nação tenha mudado a forma com que trata os brasileiros reclusos em presídios, asilos, casernas, quartéis, hospitais psiquiátricos, casas de recuperação de jovens em conflito com a lei, entre outras.
Em março de 2002, a Câmara dos Deputados protagonizava uma das maiores façanhas da política naquela Casa. A idéia se mostrou inovadora por levar deputados federais para um périplo pelas instituições totais do Brasil. O movimento foi acionado pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados sob a liderança de Marcos Rolim (PT). Ao reler o relatório percebe-se com mais clareza a importância daquele trabalho e a profundidade com que ele mergulhou em cada um dos temas que foram abordados. A odisséia foi batizada de Caravanas Nacionais de Direitos Humanos. A primeira Caravana debruçou-se sobra a realidade manicomial no Brasil, a segunda tratou sobre o sistema prisional brasileiro, a terceira enfrentou os problemas da polícia, a quarta as Febem’s e a quinta focou os asilos brasileiros.
As comemorações da semana do idoso nos motivaram a rever e reler o relatório da quinta Caravana de Direitos Humanos, que tratou de olhar de perto o sistema asilar brasileiro, em março de 2002. O relatório informa que existem cerca de 19 mil idosos em instituições no Brasil. O número não era exato pela alta incidência de casas clandestinas e de instituições não cadastradas. Seguramente mais de 19 mil idosos vivem em instituições asilares. O modelo hegemônico brasileiro identificado pelo relatório não sofreu alterações importantes que pudessem contrariar a realidade encontrada pelos deputados da comissão em 2002. Pela regra, os idosos são apartados de qualquer convivência comunitária, com poucas saídas do asilo. O abandono do idoso denunciado pela Caravana de Direitos Humanos virou tema de novela, artigos de jornais e revistas, mas a realidade do abandono prevalece como algo não perecível. A aprovação do Estatuto do Idoso foi um grande avanço na legislação, porém temos muito a trilhar para a conquista de uma sociedade mais responsável e comprometida com aqueles que vivem a melhor idade.
A atualidade das informações extraídas da incursão dos deputados nas instituições asilares é um constrangimento à nação brasileira. As autoridades tão ocupadas com os escândalos políticos, com as informações da Abin, com o novo modelo de guerra fria que discorre pelos esgotos dos bastidores da política, cria uma cortina de fumaça sobre esses problemas da sociedade brasileira. A frase de Nelson Mandela nos faz pensar sobre como estamos, enquanto sociedade, tratando das crianças e dos idosos. Temos que enfrentar a tendência de valorizar somente as pessoas em idade produtiva. Esse equívoco pode comprometer toda nossa civilização.

Charles Scholl
falecomcharles@pop.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário