domingo, 14 de dezembro de 2008

Entrevista ao DCE/Unisinos em 1998

Entrevista com Charles Scholl Secretário Parlamentar do deputado Marcos Rolim, 01/11/71; São Leopoldo, Secretário de comunicação do DCE Unisinos, representante estundantil no Colegiado Pleno do Conselho Universitário, membro do Conselho de Pauta do Zinco Quente TV Unisinos.

Como você iniciou sua atuação política?

Comecei a trabalhar na adolescência vendendo pães no Bairro Feitoria em São Leopoldo. Aos treze já tinha Carteira assinada na Empresa Jornalística MC em Esteio como vendedor de assinaturas. Em 86, com 15 anos, fundava junto com minha mãe a Editora Jornalística Gpoa e o Jornal Eco do Sinos. Acontecimentos que me trouxeram o amadurecimento precoce. Trabalhei na área técnica com Impressão, diagramação, fotomecânica e no setor de distribuição e assinaturas. Aos 18 anos prestei serviço militar pôr 5 anos. Com a morte de meu padrasto, Sérgio Heinz, em 94, assumi a coordenação da Editora Jornalística Gpoa. Uma pequena empresa financeiramente frágil que perdera seu líder maior. Isso impossibilitava a contratação de um jornalista. Naquele momento eu era a pessoa mais habilitada na família para exercer a função. Um grande desafio, pois eu não tinha o segundo grau completo e tinha que administrar a linha editorial de um jornal. Lendo os artigos de Sérgio Heinz percebi a importância dos princípios democráticos e libertários orientados por uma ética humanista.

Como você iniciou sua atuação como militante dos direitos humanos?

Sempre admirei os textos escritos por Marcos Rolim. Durante o período em que eu administrei o JES, repercutia suas crônicas nos editoriais, uma prática adotada atualmente pela Zero Hora e Correio do Povo. Durante as eleições para a prefeitura em 94, as idéias que eu sustentava, quase que solitariamente com um jornal em uma cidade dominada por um grupo de políticos que se revezavam por mais de 30 anos, me aproximei dos partidos de esquerda. Não se tratava de oportunismo materialista, mas de um conjunto de interesses em comum que ultrapassavam a esfera da individualidade. É quando iniciei um trabalho com o fim de atender os interesses dos segmentos sociais reprimidos historicamente. Nesse momento minha relação com o trabalho passou por uma alteração significativa, pois não tinha mais simplesmente um fim economicista. Tinha uma empresa orientada por princípios claros e radicalmente antropocentristas. Em 97 iniciei um estágio na Comissão de Cidadania e Direitos Humanos na Assembléia Legislativa para auxiliar nos trabalhos da assessoria de imprensa. Em 99 fui convidado para Assessorar o Deputado Federal Marcos Rolim (PT\RS) onde trabalho atualmente coordenando o Escritório de Porto Alegre.

Você já foi perseguido por suas idéias?

Sim. Quando dirigia o JES um grupo de empresário poderosos de Esteio que dirigiam a Associação Comercial e Industrial convocaram uma reunião em que a pauta era pedir que retirassem seus anúncios das páginas do JES. O boicote não foi bem sucedido, pois a política que adotara para o departamento comercial valorizava as pequenas empresas da cidade com anúncios populares. Com um grande número de contratos populares a força financeira do jornal não se limitava a um grupo financeiro, assim mantia a coluna ereta. Boicotes políticos existiam toda a semana. Já passei por multidões raivosas que gritavam: anti-cristo!, anti-cristo!, durante a votação do projeto de lei que regulamentava intervenções cirúrgicas abortivas pelo Sistema Único de Saúde mediante os casos previstos em Lei. Nesse momento a igreja católica utilizou de seu malabarismo maquiavélico para transformar o debate sobre a liberação de uma rubrica do SUS, que estendia direitos às mulheres mais pobres, em uma discussão entre a vida e a morte. Os católicos mobilizaram seus fiéis que se multiplicavam as centenas no plenário. Aos prantos os fiéis seguravam seus crucifixos com o desespero de alguém que precisa impedir a ação dos que querem promover a morte.

Você também é militante no movimento estudantil, fale-me sobre as idéias que te motivam à militância diária após as exaustivas jornadas de trabalho no mandato de um deputado federal que atualmente preside a Comissão de Direitos Humanos.

O Movimento Estudantil me motiva muito porque é através dele que vejo a possibilidade de transformação e amadurecimento meu e da comunidade estudantil que faço parte. Os valores democráticos que sustento são constantemente violados e essa violação é legitimada em nome da normalidade. Vivemos atualmente mergulhados em uma normalidade doente em que o senso comum encontra seu significado em ações individualistas e egoístas. No meu entendimento, de alguma maneira, isso é um reflexo desse sistema capitalista em que estamos submetidos. Além do mais, me sinto responsável por pertencer a geração que inaugura o processo democrático que fora interrompido com o golpe em 64. Minhas intervenções no movimento estudantil são alicerçadas nesses princípios.

Se você tivesse que deixar uma mensagem, qual seria?

Reflexão! Que é diferente de raciocínio. Refletir significa colocar-se em questão. Fazer uma análise crítica sobre nossas ações. Se sustentamos que todos somos iguais, temos que reconhecer o direito em todas as pessoas. Enquanto que se sustenta que não devemos violar a integridade física dos humanos, não devemos bater nos nossos filhos, pois eles têm direitos, além de que isso seria a violação de um princípio incontornável. No entanto, em nome da normalidade, doente, os pais continuam batendo em seus filhos. Não humanizamos uma civilização utilizando métodos pedagógicos violentos para o sujeito em formação. Os Direitos Humanos são a plataforma ética e moral que devem orientar como um paradigma as ações políticas.
Charles Scholl - falecomcharles@pop.com.br

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