Como estudante de jornalismo, ávido por novidades na comunicação social, acompanhei nos últimos anos a crescente consolidação dos movimentos sociais. Os segmentos mais organizados do 3° setor acabaram absorvendo grande parte dos jornalistas das salas de redação. Os assessores de imprensa estão aí para facilitar a comunicação da pessoa física ou jurídica com a sociedade como um todo. Foi no exercício da função de assessor de imprensa que tive a oportunidade de ter uma relação ativa com diversos veículos de comunicação dos mais variados tamanhos. Nessa relação ficou evidente uma das faces do abismo social entre dois mundos distintos em um mesmo Brasil.
A comunicação entre todos os brasis que conhecemos, ao olhara para fora da janela de casa, é uma necessidade vital para o desenvolvimento humano das comunidades. A comunicação de massa, nesse contexto, acaba imprimindo a padronização dos costumes, do pensamento e, como conseqüência, a supressão da criatividade. O sentido da existência, que nos move hoje, possui uma relação cada vez mais estreita com a produção dos veículos de comunicação. A relação está tão radicalizada que arrisco a qualificar de utópica qualquer modificação no senso comum sem a participação dos veículos de comunicação, com um destaque para a televisão.
Lá na frente, o Brasil anda pensando a regulamentação da tecnologia digital aplicada às diversas possibilidades de comunicação; assume posições de um mundo globalizado ao abrir a possibilidade de investimento estrangeiro nos veículos nacionais, mas também é o Brasil que regulamentou o Conselho Nacional de Comunicação Social. Por um lado segue a passos largos, como conseqüência temos a concentração de renda e poder sendo potencializada pelas medidas legais. Por outro, o Brasil que negocia suas concessões públicas por projetos políticos sem a menor relação social prevista na nossa Constituição. Mas a necessidade humana de se comunicar é mais forte do que os formalismos e surge, diante desse impasse, a comunicação comunitária. A comunicação comunitária abriga as relações sociais e políticas com uma precisão impossível de ser obtida pela comunicação de massa. Os jornalistas que saem da faculdade estão habilitados a lidar com a comunicação de massa, mas quando falamos de comunicação social voltada à comunicação comunitária o currículo do nível superior peca. Há um ranço entre os comunicadores que se formam nas salas de aula das universidades e os comunicadores que se formam na rádio ou jornal comunitário. Os universitários se afastam dos comunicadores comunitários quando prefere acreditar na desqualificação formal; enquanto que os comunicadores comunitários alimentam a distância quando não reconhece a formalidade do mundo que o excluiu.
Para a superação desse abismo as universidades possuem um papel fundamental; o papel de estender a mão e mostrar solidariedade, que pode ser manifestada com a criatividade que alimenta o sentido da universidade. Pode ajudar nas salas de aula enfrentando o preconceito social que edifica o maior obstáculo entre esses mundos. Essa experiência foi fomentada pelos organizadores do Acampamento Intercontinental da Juventude do Fórum Social Mundial e os resultados não poderiam ser outros: interação, conhecimento, humanismo, identidades, existência, solidariedade, responsabilidade social, ação coletiva, amor, diferença, fé, amadurecimento, em fim, vida.
Charles Scholl - falecomcharles@pop.com.br
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