O conceito inerente ao adjetivo normal nos informa algo habitual, natural ou até mesmo o que está de acordo com a norma. Se apelarmos à convenção matemática o normal é 51%. A normalidade não nos diz nada sobre valores éticos, sociais ou políticos. O que parece óbvio merece ser lembrado diante das opções que a juventude vem tomando em nome da normalidade e as conseqüências não desejadas que se acumulam na vida dos jovens. A falta de uma opção interessante aos jovens em Esteio abre espaço para ações criminosas ligadas ao tráfico de drogas e à delinqüência. A energia e a vontade explosiva de marcar presença, de se auto-afirmar, de experimentar, de revolucionar e fazer o diferente torna o jovem alvo especial de grupos organizados em torno do crime.
O mercado de trabalho, cada vez mais competitivo, contribui para que a solução dos possíveis problemas de delinqüência juvenil seja mais difícil estendendo-se por outras fases da vida. Os jovens e adolescentes em conflito com a lei são, por excelência, mais propícios à recuperação, porém as instituições que tratam da reintegração não estão preparadas para tal desafio. A desestruturação da família e a formação de grupos de gangues, com seus códigos de ética próprios, forjam seus conceitos de normalidade. É comum nessa fase da vida afirmar e admirar a loucura. Não se trata da insanidade mental, mas da maneira louca de ser. Isso funciona como uma marca. Se o sujeito extrovertido da turma se aproxima todos logo proclamam: _Lá vem o louco! É comum que outros integrantes do grupo, principalmente os mais jovens, aspirem ser mais louco para se tornarem atraentes e importantes em seu grupo social.
Ser louco na juventude é normal e é uma etapa da vida que superamos os paradigmas da normalidade. Até que a maioria seja louca e a loucura seja normatizada em uma próxima geração. O volume de informações e a capacidade de comunicação que a humanidade experimenta em nosso tempo fazem com que o ciclo aconteça várias vezes em uma mesma geração. As possibilidades de delinqüência se ampliam e a necessidade de uma formação mais assistida torna-se cada vez mais importante para que a juventude possa ser vivida em sua plenitude. A vivência da juventude é determinante para o futuro de uma civilização. A doença do mercado, normalmente internalizada em nossa sociedade, condena o jovem por preguiça, pela falta de experiência, pelo barulho e pelas idéias absurdas. Ocorre que aqueles que acusam as loucuras juvenis de hoje vivem, no mesmo tempo, mudanças comportamentais que foram lapidadas na sociedade com muita rebeldia e barulho.
A Folha de São Paulo publicou, no domingo (7), uma pesquisa nacional do Datafolha realizada em 211 municípios, que traçou um novo perfil da família brasileira. A pesquisa contrasta com o levantamento feito em 98 e indica flexibilidades no comportamento sexual. Maior tolerância com a perda da virgindade, com o sexo no namoro e na casa dos pais, gravidez sem casamento e homossexualidade. A rejeição ao uso de drogas e ao aborto aumentou. Segundo a pesquisa a fidelidade está mais valorizada do que uma vida sexual satisfatória. Outra pesquisa, divulgada pela revista IstoÉ desnuda uma mudança comportamental no homem. A pesquisa Novo Homem - Comportamento e Escolhas, do Ibope Mídias, mostra que mais de 50% dos homens deixariam de trabalhar para cuidar da casa e dos filhos. Hoje, o homem que cuida da casa, dos filhos, lava louça, lava roupas e cozinha é normal. Isso seria uma loucura em outros tempos. Pensemos então na loucura dos jovens de hoje e termos uma perspectiva da normalidade de amanhã.
Charles Scholl
falecomcharles@pop.com.br
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