A sessão da Câmara de Vereadores da terça-feira(10) proporcionou momentos de tensão entre legisladores e a comunidade. De um lado do balcão temos os escolhidos pelo crivo popular para legislar sobre as causas coletivas da cidade. Do outro lado estava a comunidade organizada buscando ajuda e espaço na institu-cionalidade constituída que lhe furtara o direito de opinião sobre os destinos de seu bairro. O objeto em questão era o futuro do prédio que abrigava o seminário claretiano no Parque Claret. Além da associação de moradores do bairro, representada pela presidente Roseli Magnante, outras lideranças religiosas estiveram presentes com a esperança de encontrar algum sentido diante daquele mecanismo anacrônico.
A comunidade demonstrou suas motivações com a fala contundente de Roseli, que parece ter largado pulgas nos acentos da mesa diretora, que usou de todos os mecanismos para tentar diminuir a ofensiva popular. As manifestações dos parlamentares eram vaiadas e aplaudidas, na medida em que a comunidade presente percebia se estavam atendendo seus interesses mais imediatos ou não. Diante do caloroso debate, a presidente Jane, corretamente, manteve a ordem reprimindo as manifestações mais barulhentas. Mas a presidente cometeu um erro tentando acertar. Com vocação pedagógica e com a sensibilidade política, Jane percebeu as motivações dos moradores e decidiu passar os trabalhos para o vereador Luiz Duarte para fazer uma fala sobre o trabalho legislativo.
O erro de Jane não está em tentar sensibilizar a comunidade para que tenha um comportamento adequado no plenário, mas de tentar fazer isso na condição de vereadora e passando a presidência dos trabalhos para um parlamentar que preza pela confusão. Se o vereador Luiz Duarte não preza pela confusão, então ele não se fez entender e merece retratação pública. A cena protagonizada pelos parlamentares em plenário desanimou a comunidade que saiu desacreditada do plenário em protesto.
O curioso é que o protesto não se deu pela falta de respeito de vereadores com a comunidade, mas entre eles. Mais precisamente pela falta de educação do vereador Luiz Duarte com a vereadora Jane Krahe. A líder dos moradores, Roseli, não suportou a baixaria e, constrangida, pediu para que todos se retirassem do plenário. Com isso, foi frustrante para o Parque Claret a primeira investida em um diálogo com o parlamento local para encontrar uma alternativa para o problema que estava sendo gerado.
Cabe lembrar que a comunidade está se manifestando contrária às posições tomadas pelo Executivo, Legislativo e Ministério Público que realizaram movimentos com a intenção de destruir o prédio do seminário Claretiano. Os moradores entendem que se trata de um prédio histórico para Esteio e que merece ser restaurado. O uso da tribuna seria para levar a posição dos moradores aos vereadores, já que as decisões estavam sendo tomadas sem o conhecimento da comunidade. Nesse clima, muitos manifestaram-se da forma mais primitiva para quem não está sendo ouvido e gritaram palavras que expressavam a ética esperada pelos moradores. A emoção à flor da pele transformou o plenário em um caldeirão de indignação. Os parlamentares mais experientes, com sensibilidade política perceberam que tinham a possibilidade de reatar alguma relação de confiança com aquelas pessoas que protestavam. Outros desprezaram totalmente sua condição de agente público e partiram para o bate-boca anárquico e desqualificado.
O desfecho foi caótico e merece uma narrativa para que possamos, enquanto esteienses, refletir sobre aqueles que falam em nosso nome. Jane tentava disciplinar o comportamento da comunidade na tribuna e foi traída pelo presidente Duarte que, sem qualquer postura, resolveu bater boca esquecendo-se completamente de seu papel. Coube a Jane o recuo que abriu mão de sua fala, muito aguardada pela comunidade, para reassumir a presidência da mesa antes que a desgraça ficasse maior. Para uma pedagoga, que conhece que um dos fundamentos mais importantes para a educação é o exemplo, a tentativa de educar foi frustrada pela falta de educação de seu colega. A postura da comunidade não foi em protesto ao proprietário da farmácia Duarte, grande amigo da comunidade, maratonista, poeta e que encaminha medicamentos para aqueles mais necessitados. Foi um protesto ao que o vereador representou naquele momento, contra o desrespeito entre as pessoas, pela desqualificação do debate e pela frustração de não terem encontrado o que buscavam na Câmara de Vereadores de Esteio. Infelizmente o vereador Duarte, ao se comportar daquela maneira representou todo o sistema anacrônico que motivou aqueles moradores a protestarem naquela noite.
Charles Scholl
falecomcharles@pop.com.br
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