domingo, 14 de dezembro de 2008

Jovens com princípios, futuro com liberdade / 2002

Nas últimas semanas, o campus da Unisinos, em São Leopoldo, está inflamado por manifestações de acadêmicos que discutem e cobram conduta ética de seus dirigentes estudantis. A diretoria executiva do Diretório Central dos Estudantes (DCE), deu início ao processo eleitoral que escolherá, para gestão de 2002, seus representantes. As primeiras ações da executiva do DCE foram falhas e revelaram explicitamente ma fé. O Edital de convocação foi publicado horas antes do término legal de inscrições das chapas. O procedimento permitiu a inscrição de duas chapas e excluiu a possibilidade da participação de diversos segmentos na Universidade. Quando fomos apurar quais as chapas que conseguiram se inscrever, nos deparamos com uma informação extra-oficial, que os dois grupos eram provenientes da atual gestão do DCE, enquanto que a executiva informava que não conhecia o grupo que havia se inscrito. Uma versão suspeita, pois teríamos que acreditar que a executiva não conhecia seus oponentes. O mesmo edital possui um conflito gritante com o Estatuto da entidade, quando discrimina como deve ser constituída a comissão eleitoral.

Os Diretórios Acadêmicos (DAs) e Centros Acadêmicos (CAs), instâncias representativas de base dos estudantes, não toleraram as práticas políticas da Coordenação do DCE e iniciaram uma movimentação em nome da ética e democracia na Universidade, com o objetivo de impugnar o processo eleitoral viciado. Os DAs organizaram uma Assembléia Geral na Unisinos, que reuniu mais de mil estudantes, que por unanimidade repudiou a ação obscura e a falta de condições da executiva em gerenciar o processo eleitoral. Logo após a Assembléia Geral, ocorrida na quarta-feira, dia 24, foi convocado uma reunião de todos os DAs e (CAs) da Unisinos. Por unanimidade foi votada a desconstituição da executiva e ao mesmo tempo eleita uma diretoria provisória que se responsabilizará pelo processo eleitoral.

A diretoria executiva, ratificando sua incapacidade democrática, sua arrogância e intolerancia, não reconheceu as decisões dos estudantes, resistindo com força a posse dos dirigentes provisórios. Quatro seguranças particulares, em um momento de conflito entre os estudantes revoltados com a prepotência da executiva desconstituída, oportunizaram-se para espancar as lideranças políticas de oposição. O cenário remonta a divisão ideológica que o Rio Grande do Sul vive nesse momento histórico. Enquanto as entidades de base dos estudantes defendiam a ética e a democracia, a executiva destituída procurava amigar-se com os acadêmicos distribuindo refrigerantes nos intervalos. Da mesma forma, quando os dirigentes de DAs, que organizaram diversas lideranças estudantis que estavam fora do processo, distribuíam panfletos que informavam os crimes e a intransigência da executiva, os desconstituídos organizaram um desfile de motocicletas importadas.

A política do "pão e circo", característica alienante dos grupos reacionários, não é mais tolerada entre os acadêmicos. A executiva provisória do DCE, já convocou um processo eleitoral transparente, ético e democrático, que permite a participação de todos os grupos da universidade. Trata-se de um movimento de uma juventude de princípios, que acredita que "um outro mundo é possível".
Charles Scholl - falecomcharles@pop.com.br

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