terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Homenagem ao meu aniversário

Meu irmão, Sérgio Heráclito Scholl Heinz, colunista do Jornal Eco do Sinos fez uma homenagem pela passagem do meu aniversário. Resolvi por bem publicar seu texto neste espaço.

12/11/2008 - 19:06
Uma vida com foco na ciência da comunicação


Quiz fazer uma homenagem surpresa para meu irmão, Charles Scholl, e para isso digitei seu nome no Google. Eis então o que descobri:
No dia 1 de novembro, o diretor de comunicação da Prefeitura de Esteio, Charles Scholl, completou 37 anos. Acadêmico da Unisinos, foi bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia na pós-graduação em Comunicação Social coordenado pelo professor, Doutor em Comunicação Social, Antônio Fausto Neto, na pesquisa Processos Midiáticos e a Construção de Novas Religiosidades. Além de escritor e ensaísta, tem uma forte atuação como empreendedor. Contribuiu para a criação de diversos veículos de comunicação, entre rádio, tv, jornais, revistas e de portais na internet. Como pesquisador, segundo site do CNPq, atua na área das Ciências Sociais Aplicadas / Área: Comunicação / Subárea: Jornalismo e Editoração / Especialidade: Jornalismo Especializado (Comunitário, Rural, Empresarial e Científico).
Possui diversos artigos publicados em sites especializados em comunicação social, alguns com repercussão nacional, tais como “Igreja, Mídia e Religiosidade” (http://www.coletiva.net/artigosDetalhe.php?idArtigo=1229), em que apresenta reflexão sobre os novos proprietários do jornal Correio do Povo; “Entre a ilusão e a decepção, um elogio ao bom senso” (http://www.coletiva.net/artigosDetalhe.php?idArtigo=1211), em que reflete sobre a tese da sociedade de decepção de Gilles Lipovetsky; e mais recentemente publicou o texto “Estranhamentos à prática da democracia” (http://www.mptbrasil.com.br/site/conteudo.php?pag=artigos&id=9), em que defende as alianças partidárias como valorização da virtude na política.
Tem sido sistematicamente vitorioso nas campanhas políticas: trabalhou na eleição de Marcos Rolim, na reeleição de Luis Fernando Schmidt, atuou junto a comunicação na campanha de Gilmar Rinaldi e de Leo Dahmer. Sempre quis publicar a produção silenciosa de Charles Scholl, pois além de meu irmão, Charles é a pessoa com quem gosto de discutir as tendências da comunicação. O Jornal Eco do Sinos deseja muito sucesso e felicidade para sua vida.


Sérgio Heráclito Scholl Heinz - Diretor do Jornal Eco do Sinos

domingo, 21 de dezembro de 2008

A grama alta na vida do workaholic

Após uma enxurrada de compromissos profissionais que oprimiram o tempo que reservo à vida pessoal olhei a volta e percebi que o tempo não para. O relógio biológico me ofertou mais rugas e cabelos brancos. As nuvens soltas que deslizam no céu marcam o tempo que se esvai como a água que escapa entre os dedos e não volta mais. Também é certo que o tempo em que estive trabalhando foi um tempo vivido intensamente, mas o contraste entre a vida pessoal e profissional se acentuou sobre as coisas do cotidiano que não podemos delegar para ninguém. Fui acometido por um sentimento de extrema nostalgia, como se tivesse que prestar contas de tudo que fiz na vida em um segundo. As maiores dívidas que tenho, por mais redundante que possa parecer, estão sobre as coisas que não fiz. Talvez essa vontade de contabilizar a vida seja uma resposta aos estímulos do calendário de dezembro, quando encerramos atividades do ano e programamos nossos afazeres em um renovar de esperanças.

A opressão que senti sobre os compromissos pessoais que deixei de resolver sempre me inquietara. Estava orgulhoso demais para perceber. Iludido com aquilo que acreditava ser realidade. Porém, a verdade estava diante da porta da minha casa. Estava manifesta no pátio, que me ofertava uma agonia cotidiana que procurava amortizar em prestações medíocres de conquistas alheias, que jamais serão reconhecidas. Tudo que fiz foi por que precisava ser feito. Viabilizei projetos, promovi pessoas, levantei fundos, transformei realidades e, enquanto isso, a grama da minha casa apontava o desleixo com as coisas mais básicas da vida. Como se eu estivesse fugindo de mim mesmo. Nessa fuga agi como um cão tolo que corre em torno de seu próprio rabo. Mesmo com o esforço de noites em claro, a grama da minha casa não perdoava e continuava a crescer.

Tudo era empecilho. Cheguei a contratar três pessoas e contatei mais duas para que fizessem o serviço. Ninguém apareceu e a grama continuava a crescer. Meus amigos já perguntavam se eu ainda morava ali. Meus vizinhos pararam de me cumprimentar. Nem mesmo os gatos que circulavam o terreno mantiveram suas freqüentes investidas na grama, que já havia se tornado mais forte e alta impondo-se sobre qualquer quadrúpede doméstico que ousasse batizá-la. O desafio de retomar alguma idéia de controle sobre minha vida passava pelo corte da grama que não parava de crescer.
Na vida, quando nos deparamos com dificuldades, o melhor caminho é buscar a superação dos nossos limites. Nossos amigos são fundamentais para isso, pois nos dão a chance de perceber pontos de vista que nos parecem cegos de onde olhamos. Após refletir muito sobre isso, surgiu uma bondosa alma que se sensibilizou com o drama e me ofereceu uma ferramenta para que eu pudesse resolver o problema. Com a máquina de cortar grama na mão, ainda tinha que vencer minhas resistências e encarar a tarefa como prioridade. Abandonar compromissos que julgava importantes e reconhecer, humildemente, a necessidade de equilibrar a dedicação da vida. Até mesmo os colegas de trabalho tinham dificuldades de compreender o foco demasiado sobre os assuntos profissionais e criou-se, com isso, um ciclo degenerativo que comprometia tudo.

Com as ferramentas, com o tempo e a atenção necessária, finalmente cortei a grama da minha casa e a vida voltou a brilhar. Meus vizinhos me cumprimentavam com entusiasmo, pessoas que passavam na rua paravam para perguntar se eu queria vender a propriedade e tive clareza sobre todos os assuntos pessoais que tenho que resolver. O melhor na vida é aprender com os erros dos outros, pois isso pode poupar sofrimentos desnecessários. Nesse final de ano não deixe de cortar a grama alta de suas vidas, por mais difícil que seja a tarefa. Pois, certamente os desafios que estão por vir, no ano que está para nascer serão digeridos pelo relógio biológico da vida, sem que ocorra uma congestão existencial que sempre nos traz a desagradável sensação de perda de tempo. Até porque o tempo não para...

Charles Scholl
falecomcharles@pop.com.br

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

O Território da Paz e o Comando Vermelho

Desde sempre, na história brasileira, a lógica da hipótese repressiva tem sido ofertada como paradigma das políticas de Segurança Pública. Militantes dos Direitos Humanos de todas as partes, tais como Marcos Rolim, James Cavallaro, Luiz Eduardo Soares, João Moreira Salles iniciaram diversos movimentos na sociedade civil nos países latino-americanos e caribenhos com o intuito de inserir a agenda dos Direitos Humanos na estrutura conceitual do Estado. Luiz Eduardo Soares, surge como um braço estratégico do movimento Viva Rio ao assumir o front da segurança pública no Rio de Janeiro, no primeiro governo de Garotinho.

Seus 500 dias de trabalho como sub-secretário de segurança pública virou obra publicada pela Companhia das Letras em que o antropólogo afirma que a referida fórmula tradicional não se tratava de uma política de segurança e sim da falta de uma política focada no assunto. João Moreira Salles lançou o documentário “Notícias de uma Guerra Particular” e estoura escandalosamente a Câmara dos Deputados em meio a CPI do Narcotráfico. Na obra, João mostra claramente a irracionalidade do sistema. Essas lembranças são oportunas para reforçar a idéia de que o movimento social pode contribuir muito com a mudança de realidades que, ao primeiro olhar, podem nos parecer perpétuas.

Para aqueles que vêm acompanhando o tema desde a década de 90 fica clara a contribuição das novas idéias que permeiam o território conceitual do aparelho estatal brasileiro. Hoje o tema volta à opinião pública com alguns conceitos integrados que garantem posições mais comprometidas com uma mudança do cenário caótico da Segurança Pública. As mudanças políticas implementadas no decorrer das duas gestões do governo Lula indicam avanços importantes. Entre eles destaca-se a implementação do Território da Paz. A idéia transpõe o conceito simplista da hipótese repressiva responsável pelo cordão sanitário entre ricos e pobres nos emaranhados urbanos das grandes cidades brasileiras.

No início deste mês, o Território da Paz iniciou um novo ciclo nas favelas do Complexo do Alemão. As ações de repressão estão casadas com obras de infra-estrutura do Programa de Aceleração do Crescimento e a determinação política de integrar todo o território no mapa estatal brasileiro. A proposta parece uma resposta direta aos fundadores do Comando Vermelho, que na obra de João Moreira Salles desnudam os planos que criaram a facção nas favelas do Rio. Nas falas do “Notícias de Uma Guerra Particular”, os criadores do Comando Vermelho estabelecem a política de ocupar todas as áreas abandonadas pelo Estado e reconhecem que o movimento se perdeu quando passou a operar o tráfico de drogas. Aos leitores que não assistiram o documentário, recomendo. A obra certamente contribui muito com uma leitura mais lúcida da realidade brasileira e as ações políticas que estão sendo implementadas em todo o território nacional.

19 de dezembro de 2008

Charles Scholl
Diretor de comunicação da Prefeitura de Esteio
falecomcharles@pop.com.br

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Estranhamentos à prática da democracia

Vivemos em um tempo de grandes mudanças políticas em que a democracia dá seus sinais de maturidade. Para a história política do Brasil as possibilidades de coligações e as normas eleitorais são tão distintas de suas tradições que soam como estranhas. As polarizações herdadas da guerra fria e suas adaptações tupiniquins se dissolvem em meio a outras lógicas políticas modernas de um pais democrático.

Para tornar mais evidente o contraste que vivemos neste tempo é fundamental recordar. Em dezembro de 1981, o senador Paulo Brossard ao chegar de sua viagem ao México, realizada no início daquele mês, denunciou o autoritarismo da Legislação eleitoral. “O projeto que “emporcalha” o País, concebido no Palácio do Planalto, prevê que os partidos só poderão concorrer se apresentarem chapas completas, com candidatos a governador, vice-governador, senador e suplentes, deputados federais e estaduais, prefeito, vice-prefeito e vereadores”. Ele reclamava ainda que as regras previam a anulação dos votos caso o eleitor escolher um único nome que seja de outro partido. Obviamente a manobra do Planalto, liderado pelo presidente Figueiredo, beneficiava o PDS. Com as regras o PP teve que fundir-se novamente com o PMDB.

Situações como essa forçavam a polarização entre os partidos dificultando a criação de novas identidades políticas ao tempo em que jogavam as propostas de governo para um segundo plano. Justamente no plano de governo é que se manifesta a virtude na política. Em 1998, acadêmicos analisavam e questionavam sobre a possibilidade da dispensa da virtude em um estado bem sucedido. Entre as reflexões, Catherin Colliot-Thélène da Fontenay Saint Cloud, chama a atenção que a democracia, segundo Montesquieu, tem como princípio a virtude. O fracasso da virtude, como lembra Montesquieu, tal como ocorreu na Inglaterra no século XVII comprometeu a democracia em seu país. Quando desaparece a virtude da república, a ambição se apodera daqueles cujo coração é capaz disso e a avareza de todos e que, em seguida, o Estado sendo tornado uma presa para todos, sua força reside apenas na potência de alguns indivíduos e na permissão de todos. Temos assim as bases do totalitarismo.

Habermas atribui a Hegel a inauguração da modernidade filosófica, pois foi Hegel quem pela primeira vez estabeleceu, na história do pensamento político, com toda a clareza, a distinção moderna entre Estado e sociedade civil. Obviamente não podemos dispensar o conceito de soberania de Bordin e de vontade geral de Russeau. Mesmo para a teoria Marxista, em seus desdobramentos práticos do Socialismo Real e a experiência do Leste Europeu, tais conceitos permaneceram impermeáveis. Dessas experiências que nos aproximamos quando dispensamos as possibilidades de unidade em torno de um projeto político, como denunciou Brossard em 81 no Brasil.
As amplas alianças em torno de um projeto político é a maturação prática da filosofia moderna aplicada. Diferentes correntes ideológicas firmam acordo e colocam em primeiro plano a virtude, ou melhor, o que acreditam ser o caminho mais adequado para o gerenciamento da coisa pública. Tal pensamento, que parece muito óbvio, encontra ainda forte rejeição entre operadores da política habituados com a lógica do bipolarismo mundial, que reinou no século passado durante a guerra fria. No novo contexto político que vivemos a sociedade civil organizada tem mais poderes sobre a composição do Estado que se dá pelos projetos políticos discutidos em suas bases partidárias. O Governo Lula nos mostra que a política se torna mais eficiente e virtuosa para a sociedade em composições mais amplas e plurais. O foco da atuação política não se limita a simples tomada do poder e sim no melhor caminho para o desenvolvimento social, político, econômico e ambiental de nossa civilização. Tal realidade bateu na porta dos milhares de eleitores no pleito deste ano. A decisão do voto, pelo prática adotada neste tempo, favorece o projeto que cada chapa tem para a cidade sem enfraquecer as legendas partidárias. Favorece a virtude e, portanto a democracia.

Charles Scholl
Diretor de Comunicação da Prefeitura de Esteio
falecomcharles@pop.com.br

Uma reflexão sobre os resultados das eleições 2008

Os resultados das eleições 2008 revelam mudanças significativas no eleitorado esteiense. A história que se construiu ao longo das eleições na cidade sempre apontou para um eleitorado com perfil conservador, pouco flexível às mudanças de nomes ou representantes.

A curiosidade na composição da nova Câmara de Vereadores está justamente na afirmação dos clãs ao tempo em se abrem espaços para novas propostas políticas no âmbito parlamentar. A Câmara de Vereadores é a porta de entrada para o futuro político da cidade. Com exceção da história política de Sandra Silveira, que não foi vereadora em Esteio, as tendências políticas vencedoras da cidade foram testadas e aprovadas na Câmara de Vereadores. Se é assim, cabe olhar com atenção esta composição e teremos condições de perceber quais são as tendências que estão se credenciando no seio do parlamento e que desenham os contornos mais possíveis de um futuro político.

Sirlon do PMDB mantém a liderança como o mais votado, com 1662 votos e se credencia pára vôos mais altos nas próximas eleições. O segundo mais votado é Luiz Duarte (PTB), com 1604 votos, que trocou de legenda partidária em seu último mandato e reelegeu-se entre os mais votados. A terceira mais votada é Jane Batistello (PTB), com 1257 votos, reforçando a organização política de Mário Sérgio Batistello que foi seu principal cabo eleitoral. Na mesma lógica, também inaugurando a tribuna está Felipe Costella (PMDB), que elegeu-se com 1198 votos, representante da família Costella e que teve como seu principal cabo eleitoral Juvir Costella. A quarta posição foi ocupada por Leo Dahmer, eleito com 1195 votos em sua primeira eleição, o mais votado do PT que representa uma renovação política na Câmara de Vereadores. O quinto lugar ficou com Marli do Posto de Saúde (PTB), eleita com 1190 votos, mantendo a participação da mulher entre os eleitos mais votados. Jaime da Rosa (PSB), reelegeu-se com 1169 votos, mais votado do PSB. O PPS elelgeu a Therezinha Diretora, com 1011 votos. Ari da Center elegeu-se pelo PSB com 875 votos e Michele Pereira, do PT, com 875 votos.

Charles Scholl
falecomcharles@pop.com.br

Stalin fecharia primeiro os pequenos jornais / 2008

A comunicação social sempre foi um entrave aos partidos de esquerda quando estão no governo. Os últimos 15 anos como comunicador junto ao PT me mostrou as várias faces da esquerda. Em um primeiro momento, as motivações de transformação social deveriam ser mediadas com todos os segmentos da sociedade, tal como faz o Governo Lula. Os aspectos políticos e ideológicos acabam servindo como um filtro em que toda a realidade deveria ser submetida.

A imagem dos governos de esquerda foi totalmente modificada com a chegada do PT à Presidência da República. Um grande salto de qualidade em políticas públicas arremessou a experiência petista para todas as civilizações do nosso tempo. Franklin Martins é a história viva de uma geração de comunicadores marcados pela ditadura militar. Essa ditadura de direita, pela integridade das idéias de liberdade defendidas por essa geração não foi substituída por uma ditadura de esquerda, tais como ocorreram no leste europeu.
Uma das primeiras categorias atacadas em um regime ditatorial é a dos jornalistas. Não podemos confundir, por exemplo, oligopólios de comunicação com a categoria. Os jornalistas também encontram-se submetidos às regras das grandes empresas de comunicação e isso tem sido a prática de censura mais eficiente nos dias de hoje.

As universidades possuem um molde profissional cada vez mais claro para os futuros jornalistas. As últimas reformas curriculares que tenho acompanhado estão privilegiando o mundo digital e suas interfaces comunicativas, porém esse movimento não acompanha a formação profissional de um empreendedor. Isso significa que o profissional de jornalismo é concebido, desde sua formação universitária, como um empregado de alguém. Sendo empregado, pode contar com liberdades profissionais, ou não.


A comunicação social é cada vez mais importante nos centros urbanos da nossa civilização. A tendência individualista faz com que os sujeitos desta sociedade interajam de forma indireta com a maioria das coisas que considera importante em sua vida. A interação ocorre por veículos de comunicação e por toda a indústria midiática. Essa realidade transferiu os debates públicos para esse meio, pois leremos no jornal, ouviremos na rádio ou assistiremos na televisão as notícias sem a necessidade de estarmos no local onde ocorreram os fatos.


Entre os jornais encontraremos o New York Times, que fala das notícias importantes para o reino e o poder; teremos a Folha de São Paulo, com um enfoque mais brasileiro sobre as questões do mundo; teremos a Zero Hora, com um enfoque gaudério do que se entende por realidade brasileira e teremos nossos jornais locais, tais como o Jornal Eco do Sinos, que privilegia o enfoque esteiense. Cada uma destas empresas possui, no mínimo, um concorrente em suas instâncias, pois poderíamos ter escolhido o Estado de São Paulo, o Correio do Povo e o Jornal Destaque para exemplificar a abrangência de cada veículo. Nesse sentido, lembro de uma das frases do Miguel Luz, na sua liderança frente a Associação dos Dirigentes dos Jornais do Interior (Adjori) em que dizia: “Os grandes jornais estão sempre presentes na cabeça das pessoas enquanto que os jornais municipais e comunitários tocam a população pelo coração”.
A cidade fica mais rica com seus veículos de comunicação. Os jornais, em Esteio, cumprem uma função de coesão social com importante repercussão na opinião pública. Eles criam uma espécie de “ágora de agora”, como disse o jovem esteiense Rodrigo Prux em seus devaneios comunicacionais. Esse espaço público é muito valorizado por aqueles que querem colocar suas idéias na praça, por aqueles que querem vender mais e aqueles que querem mostrar que são capazes de fazer algo para melhorar a qualidade de vida de todos.
Também existem aqueles que não querem o funcionamento de empresas desta natureza, tais como os ditadores de esquerda e direita.

Acreditam que o Poder Público não deve participar destes espaços. Isso significa dizer que o Poder Público não deve ir à praça defender suas idéias. Esta gestão da Prefeitura de Esteio mudou essa história pela valorização de sua imprensa local, apesar das contrariedades manifestas pelo PSB. Na gestão de Vanderlan a empresa de comunicação que mais recebeu recursos da Prefeitura de Esteio é de São Leopoldo. Também era a que mais poderia dar retorno para sua candidatura a deputado estadual. Então é fácil entender a lógica de explorar a mídia local para alcançar o poder na cidade e depois fomenta uma disputa contra seus antigos parceiros para alçar voos maiores. Tudo em nome do Poder Público, mas em defesa de seus interesses particulares. Recentemente um documento do PSB cita, em tom de acusação, o Jornal Eco do Sinos por fazer parte dos jornais qualificados às campanhas institucionais da Prefeitura de Esteio. Cabe destacar que todos os jornais com mais de 20 anos de funcionamento na cidade integram as campanhas institucionais da Prefeitura. Tanto pelo tempo de trabalho na praça, como pela valorização e respeito dos poderes constituídos com os leitores dos jornais locais.

Charles Scholl
falecomcharles@pop.com.br

Uma resposta à declaração de guerra / 1° semestre 2008

A política na cidade está fervilhando. Existem basicamente dois grupos de políticos em ação. Um deles está completamente absorto na tarefa de encontrar alternativas à cidade. Outro, na falta de propostas de políticas públicas, fica voltado aos subterfúgios de toda sorte para se desviar da imagem da incompetência.  Em 1992 Vanderlan, do PSB, perdeu as eleições para Getúlio Fontoura, do PDT, coligado com o PSDB representado pelo Getulinho Figueiredo. Neste tempo, o comportamento político do eleitorado esteiense sofria fortes influências da era pedetista de Clodovino Soares.
O Pio Germano representava o PMDB e ficou em terceiro lugar. O PT ocupava a quarta posição representado por Luiz Duarte. Muitos dos sujeitos da política neste tempo permanecem atuantes, militando, na sua maioria em partidos diferentes.

Nas eleições de 96, a coligação PSB, representada por Vanderlan, e PT, representada por Gilmar Rinaldi foi vencedora. Esse episódio de nossa política local ocorreu sobre o ícone da liberdade e do rompimento. O espírito da mudança e da renovação pairou sobre a cidade e unificou os esteienses em um gesto de mudança. Nesse tempo eu editava o Jornal Eco do Sinos, que por conta de seu conteúdo, tinha problemas com a Administração Municipal. A cidade estava virada num caos e o jornal não podia calar. As comunidades eram sistematicamente bombardeadas em manobras políticas que tinham por objetivo desmobilizar qualquer grito social que pudesse soar dissonante.

Dadas as circunstâncias políticas deste período, como editor do Jornal Eco do Sinos tomei a posição de ignorar completamente as ameaças que recebia. O número de assinantes do jornal aumentou significativamente, evento que só voltou a ocorrer em 2007. Sem alardes sobre a massiva circulação, o jornal dialogava com a cidade. Como interlocutor legítimo nesta relação, relacionava-me com todas as lideranças políticas. Ocorre que Getúlio Fontoura acabou em uma situação que rompeu completamente os vínculos com o
jornal. Relatos trazidos por militantes pedetistas afirmavam que ele tinha declarado guerra.

Nestes tempos difíceis tive muitos apoios. O mais importante foi a
contribuição intelectual de Vanderlan, que me nutriu espaços do jornal constituindo uma trama que desestabilizou o governo de Getúlio. Isso contribuiu muito com a vitória, mas é óbvio que não seria suficiente. Ao tempo em que o jornal se ocupava com o aprofundamento de informações importantes para a opinião pública, o Partido dos Trabalhadores construiu os eixos básicos de governo para a superação da crise financeira que se abatia sobre o Paço Municipal. A vitória então estava anunciada.

Nesta síntese grosseira de nossa história política recente, percebemos os motivos de sua atual efervescência. Lembrei esta semana destes episódios quando minha mãe, que dirige o Jornal Eco do Sinos, passou a sofrer ataques. Desta vez eles não partem das organizações de Getúlio Fontoura, mas de um dos atores da política local que, enquanto dirigia o jornal antes do meu desligamento ocorrido no final de 96, fazia parte das nossas relações mais próximas. Suas práticas continuam as mesmas, porém acredito
que as pessoas amadureceram politicamente e não cairão nas manobras para desviar o foco sobre o que realmente interessa para todos, ou seja, as melhores políticas públicas.  Hoje não represento o Jornal Eco do Sinos e por isso me sinto a vontade para declarar minha coerência política em favor daqueles que permanecem construindo as melhores alternativas para nossa cidade.  Minha recomendação ao Jornal, como membro nato de seu conselho editorial, é a seguinte: Não se calem perante os ataques, temos a responsabilidade de contribuir com a opinião pública e não devemos medir esforços para que esse trabalho tenha a melhor qualidade.

Charles Scholl
falecomcharles@pop.com.br

domingo, 14 de dezembro de 2008

A cidade como uma grande escola / 2006

A cidade iniciou suas atividades de final de ano. Todas as luzes, os preparativos e manifestações em torno das datas comemorativas são símbolos que evocam sentimentos específicos e individuais no imaginário coletivo. É a oportunidade para reestabelecer relações desfaceladas pelo cotidiano, de encontrar forças para vencer os desafios e se entregar para algo maior que a própria existência. É o momento da sublimação dos limites, a necessidade de esquecer o que precisa ser esquecido e de lembrar o que é mais importante para si, para a sociedade e para o mundo em que vivemos.

A vida é organizada por ciclos, por relógios, por dias, meses e anos permitindo que organizemos no tempo a história que construímos e suas referências temporais geralmente espelhadas na história de outros. Os ciclos da história humana nos permitem cometer os mesmos acertos, até porque acertar é humano. Nesse ano, a cidade de Esteio tem muito que se orgulhar de um de seus maiores acertos. A criação do Programa Jovem Cidadão Consciente. A entrega dos certificados, realizada no Salão Nobre da Prefeitura, no dia 6, contou com as principais autoridades que idealizaram, viabilizaram e gestaram o primeiro ciclo do Programa Jovem Cidadão Consciente. A entrega solenidade foi emocionante e contou com as principais autoridades do governo. A prefeita da Cidade Educadora, Sandra Silveira; representante da Escola Coração de Maria, Carla Zito e do chefe da Guarda Municipal, Assis Brasil Marin Silveira compuseram a mesa principal. Em separado, os Jovens integrantes do Programa e o público composto pelas principais lideranças do governo, representante da Brigada Militar e familiares dos jovens.

A Escola Coração de Maria reafirma sua posição de liderança na cidade ao consolidar-se como entidade executora de um dos melhores programas desenvolvidos pela prefeitura. O programa está competindo com o tráfico de drogas e o crime organizado. É a reação propositiva que pode revolucionar a vida de jovens que poderiam optar por outros caminhos. É a inclusão social acontecendo de fato. Sem demagogias e frases de efeito. É a revolução social implementada na prática. A opção do caminho de enfrentamento daquilo que para alguns é destino. É a abordagem mais humana e construtiva. Em fim, escolheu-se apostar nos jovens. Confiar que eles possam mudar nossa realidade. Também é aceitar que temos limites e que precisamos reaprender. Nesse sentido, o programa transformou-se em uma intervenção sobre a conduta social de um segmento social estratégico. Foram criadas referências e a sociedade civil organizada está, gradualmente, se integrando a proposta defendida pela gestão da professora Sandra na prefeitura.

Cidade Educadora não pode virar piada. A idéia é muito nobre e de grande repercussão social para servir de gozação em publicações da cidade. A cidade como uma grande sala de aula deve trabalhar com publicações articuladas e comprometidas com a idéia. Além do direito de cada um, também é o dever de todos. Durante o ano passaram pelo Programa Jovem Cidadão Consciente, 68 esteienses que não ingressaram no serviço militar. Para os jovens a vida continua e para 19 deles, com um caminho definido no mercado de trabalho. Essa é uma vitória de Esteio, dos gaúchos e brasileiros, pois somos tudo isso. Encontramos os caminhos com maturidade e responsabilidade com a cidade onde nascemos ou escolhemos para viver.

Charles Scholl
falecomcharles@pop.com.br

Uma homenagem à Marafiga / 2007

O pôr do sol e o pulsar da compreensão sobre outra dimensão coexistente

O mês de dezembro é marcado por um agir finalizador. É o tempo em que o ambiente está propício às realizações. É o momento em que comemoramos também a finalização da etapa daquilo que não foi possível concluir totalmente. É o nascimento genuíno e o renascer das cinzas para uma nova vida embalada nas chamas da existência. É o presente em que se deslumbra a materialidade daquilo que um dia existia somente em um campo holográfico da cabeça de alguém. E como diz o poeta “sonho que sonhamos juntos vira realidade”.

Sobre os sonhos coletivos, a cidade está em silêncio. É o silêncio dos exaustos da jornada ecoando ao lado do silêncio estratégico propício do momento político. Para as almas mais agitadas da vida pública esse silêncio é ensurdecedor, pois anuncia a grande tempestade que está por vir. É a retração das águas que antecede o tsunami. Em 2008, o calendário eleitoral impulsionará para dentro da realidade de cada família um turbilhão de possibilidades coletivas a serem sonhadas. É saudável rememorar, reler e refazer. Nos permite exercer a condição humana de mudar de idéia, de renovar-se. Nesse embalo, encontramos as infinitas possibilidades e os limites da vida, que sempre fazem questão de se mostrar. De nos deixar sem respostas.

A primeira vez que andei de metrô não paguei passagem. Estava acompanhado da minha amiga Marafiga, parceira que partilhei a aventura de inaugurar uma nova era no transporte metropolitano. Antes do trem urbano era mais difícil circular pela região. A lembrança marcante tomou conta de mim quando recebi a notícia de que os limites da vida tinham se apresentado para aquela grande pessoa. A primeira funcionária do Jornal Eco do Sinos, que se aposentou na empresa. O patrimônio humano construído sobre a perspectiva do olhar de Marafiga criou um denso caldo cultural ao fundir-se com a determinação apaixonada de uma família de agricultores, músicos e escritores. Nessa alquimia, a voracidade da máquina urbana que apressa o tempo e altera a velocidade das vivências, encontra um contencioso de humanidade consolidado pelas relações afetivas.

No mundo do afeto encontramos razão na data, uma convenção humana. Dia 8 de dezembro nasceu Alfaride Alfredo Jorge, que iniciou sua caminhada em São Paulo e concluiu ao lado da diretora do Jornal Eco do Sinos, Maria Inês Scholl Heinz, em Esteio, onde faleceu. Alfaride e Marafiga eram amigos desde sempre e não acredito que a morte tenha colocado um ponto final nessa relação. Seu credo afro-brasileiro enriquecia o caldeirão cultural da família com o saber marcante de um pagé. Pois ele comemoraria seu aniversário com uma oferenda a Oxum, ao por do sol, na beira de um rio. Pois no dia 8 foi o que aconteceu. Atropelado por uma agenda humanamente impossível, de repente o mundo começou a parar. Ao encontrar amigos em Porto Alegre lembrei que a real concepção da existência está na partilha das experiências da vida.

Quando nossos limites são superados pelo agir coletivo. Logo alguém lembrou que tínhamos uma hora vaga no dia e que poderíamos contemplar o por do sol. Sem consciência objetiva do que estava por acontecer defendi a idéia vorazmente. Chegamos a orla do Guaíba primeiro, pois ainda não sabíamos do encontro que estava por vir. Em seguida chegaram as terreiras para a oferenda de Oxum. Junto com elas Alfaride e Marafiga figuraram uma existência e o culto religioso virou uma tela de cinema com silhuetas que imitavam a vida humana. A imitação da existência de Alfaride e Marafiga era possível pelas vivências que compartilhamos. Naquele momento a morte deixou de ser um obstáculo em nossa relação. Influenciado pelo dezembro cheguei a crer em uma existência compartilhada, como se tudo estivesse emaranhado. Desapegado da materialidade produzida pela consciência, me deixei levar pela paisagem e pelo ritual. Rapidamente percebi que tinha passado por um momento de extrema sensibilidade e emoção. Procurei disfarçar perante meus amigos quando eles me olharam, meio sem graça, e perguntaram: “Você também sentiu?”. Um breve sinal com a cabeça evidenciou a disposição para comentar sobre o assunto. Falamos somente sobre o arrepio que o espetáculo da natureza humana sobre a terra é capaz de produzir. Grande lição.
Charles Scholl
falecomcharles@pop.com.br

Mais uma derrota na legalização do aborto / 2007

Uma das resoluções da conferência nacional da saúde, realizada neste final de semana (17 e 18), em Brasília, retoma uma polêmica que persiste sem solução. A rejeição à resolução que recomenda a legalização das práticas abortivas no Sistema Único de Saúde, nos casos previstos em Lei, reforça uma polêmica em que os dogmas religiosos prevaleceram. O assunto chamou a atenção de ativistas de Direitos Humanos que lamentaram a posição tomada pelos conferencistas.

No Rio Grande do Sul, o representante da Ajuris para os assuntos de Direitos Humanos, Roberto Lorea, acredita que a questão do aborto pode ser comparada à polêmica do divórcio. O juiz titular da 2ª Vara de Família remonta os 20 anos de ditadura militar, em que o povo brasileiro viveu em regime de exceção. Com a redemocratização, na década de 80 e a aprovação da nova Constituição em 88, os Direitos Humanos passaram a ter mais popularidade. Apesar disso, o magistrado acredita que os Direitos Humanos ainda é uma especialização, enquanto que deveria ser um conhecimento a ser ofertado à população como matéria básica desde o ensino médio.

O mesmo debate foi feito pelos gaúchos no Palácio Farroupilha, em 98. A proposta apresentada pelo deputado da 49ª Legislatura, Marcos Rolim, do PT, tinha conteúdo semelhante e mesmo fim. Permitir que as mulheres pobres possam interromper a gravidez sem riscos a sua saúde. No decorrer do enfrentamento de posições ficou evidente que as mulheres de classe média, diante de uma gravidez indesejada, recorrem a clínicas para a realização da prática abortiva. Militantes do direito das mulheres defendem claramente que a mulher deve ter direito sobre seu corpo. Estudos científicos se debruçaram sobre o momento em que ocorre a geração do indivíduo, numa tentativa de dialogar com as posições dos religiosos que transformaram, dogmaticamente, o debate numa disputa da vida contra a morte.

Nesse caldo cultural, a situação das mulheres pobres perdeu importância para um jogo dialético que abstraiu o assunto em questão e imprimiu uma nova dinâmica no diálogo entre os oradores. Recentemente, em pesquisa divulgada pela revista Isto É, mostra que o comportamento sexual da família brasileira mudou muito quanto a perda da virgindade. Porém, a pesquisa mostra resistência quanto à questão do aborto. O projeto não foi aprovado, mas, segundo o proponente Marcos Rolim, o debate foi importante para desnudar para a sociedade um problema real que deve ser tratado. Segundo o juiz Roberto Lorea, não se trata de um posicionamento de um país majoritariamente católico, pois a posição adotada recentemente pelo México e Portugal em favor da legalização do aborto, mostra que é necessária a superação das resistências dogmáticas para a tomada de uma posição de vanguarda na legislação. O fato é que enquanto essa situação não é resolvida, as mulheres pobres têm recorrido a práticas abortivas que colocam em risco a sua saúde e fertilidade. Uma questão de injustiça social, em que os argumentos morais que condenam o aborto são abandonados quando os indivíduos, na sua particularidade, se deparam com a mesma prática. A única diferença é a situação econômica da mulher. Apesar da derrota que os conferencistas imprimiram ao tema, o Brasil deve encontrar outros meios para superar esse dogma.

Charles Scholl
falecomcharles@pop.com.br

Temos idade para viver? / 2007

“Uma nação não pode ser julgada pela maneira como trata seus cidadãos mais ilustres e sim pelo tratamento dado aos mais marginalizados: seus presos”. Nelson Mandela.
O disparo fulminante de Nelson Mandela sobre o tratamento dado aos presos também é um tiro certeiro sobre o comportamento de uma nação sobre suas instituições totais. O Brasil merece ser avaliado por esse prisma. Ter um presidente operário não garante que a nação tenha mudado a forma com que trata os brasileiros reclusos em presídios, asilos, casernas, quartéis, hospitais psiquiátricos, casas de recuperação de jovens em conflito com a lei, entre outras.
Em março de 2002, a Câmara dos Deputados protagonizava uma das maiores façanhas da política naquela Casa. A idéia se mostrou inovadora por levar deputados federais para um périplo pelas instituições totais do Brasil. O movimento foi acionado pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados sob a liderança de Marcos Rolim (PT). Ao reler o relatório percebe-se com mais clareza a importância daquele trabalho e a profundidade com que ele mergulhou em cada um dos temas que foram abordados. A odisséia foi batizada de Caravanas Nacionais de Direitos Humanos. A primeira Caravana debruçou-se sobra a realidade manicomial no Brasil, a segunda tratou sobre o sistema prisional brasileiro, a terceira enfrentou os problemas da polícia, a quarta as Febem’s e a quinta focou os asilos brasileiros.
As comemorações da semana do idoso nos motivaram a rever e reler o relatório da quinta Caravana de Direitos Humanos, que tratou de olhar de perto o sistema asilar brasileiro, em março de 2002. O relatório informa que existem cerca de 19 mil idosos em instituições no Brasil. O número não era exato pela alta incidência de casas clandestinas e de instituições não cadastradas. Seguramente mais de 19 mil idosos vivem em instituições asilares. O modelo hegemônico brasileiro identificado pelo relatório não sofreu alterações importantes que pudessem contrariar a realidade encontrada pelos deputados da comissão em 2002. Pela regra, os idosos são apartados de qualquer convivência comunitária, com poucas saídas do asilo. O abandono do idoso denunciado pela Caravana de Direitos Humanos virou tema de novela, artigos de jornais e revistas, mas a realidade do abandono prevalece como algo não perecível. A aprovação do Estatuto do Idoso foi um grande avanço na legislação, porém temos muito a trilhar para a conquista de uma sociedade mais responsável e comprometida com aqueles que vivem a melhor idade.
A atualidade das informações extraídas da incursão dos deputados nas instituições asilares é um constrangimento à nação brasileira. As autoridades tão ocupadas com os escândalos políticos, com as informações da Abin, com o novo modelo de guerra fria que discorre pelos esgotos dos bastidores da política, cria uma cortina de fumaça sobre esses problemas da sociedade brasileira. A frase de Nelson Mandela nos faz pensar sobre como estamos, enquanto sociedade, tratando das crianças e dos idosos. Temos que enfrentar a tendência de valorizar somente as pessoas em idade produtiva. Esse equívoco pode comprometer toda nossa civilização.

Charles Scholl
falecomcharles@pop.com.br

A loucura de hoje e a normalidade de amanhã; o desafio da sociedade com a juventude / 2007

O conceito inerente ao adjetivo normal nos informa algo habitual, natural ou até mesmo o que está de acordo com a norma. Se apelarmos à convenção matemática o normal é 51%. A normalidade não nos diz nada sobre valores éticos, sociais ou políticos. O que parece óbvio merece ser lembrado diante das opções que a juventude vem tomando em nome da normalidade e as conseqüências não desejadas que se acumulam na vida dos jovens. A falta de uma opção interessante aos jovens em Esteio abre espaço para ações criminosas ligadas ao tráfico de drogas e à delinqüência. A energia e a vontade explosiva de marcar presença, de se auto-afirmar, de experimentar, de revolucionar e fazer o diferente torna o jovem alvo especial de grupos organizados em torno do crime.

O mercado de trabalho, cada vez mais competitivo, contribui para que a solução dos possíveis problemas de delinqüência juvenil seja mais difícil estendendo-se por outras fases da vida. Os jovens e adolescentes em conflito com a lei são, por excelência, mais propícios à recuperação, porém as instituições que tratam da reintegração não estão preparadas para tal desafio. A desestruturação da família e a formação de grupos de gangues, com seus códigos de ética próprios, forjam seus conceitos de normalidade. É comum nessa fase da vida afirmar e admirar a loucura. Não se trata da insanidade mental, mas da maneira louca de ser. Isso funciona como uma marca. Se o sujeito extrovertido da turma se aproxima todos logo proclamam: _Lá vem o louco! É comum que outros integrantes do grupo, principalmente os mais jovens, aspirem ser mais louco para se tornarem atraentes e importantes em seu grupo social.
Ser louco na juventude é normal e é uma etapa da vida que superamos os paradigmas da normalidade. Até que a maioria seja louca e a loucura seja normatizada em uma próxima geração. O volume de informações e a capacidade de comunicação que a humanidade experimenta em nosso tempo fazem com que o ciclo aconteça várias vezes em uma mesma geração. As possibilidades de delinqüência se ampliam e a necessidade de uma formação mais assistida torna-se cada vez mais importante para que a juventude possa ser vivida em sua plenitude. A vivência da juventude é determinante para o futuro de uma civilização. A doença do mercado, normalmente internalizada em nossa sociedade, condena o jovem por preguiça, pela falta de experiência, pelo barulho e pelas idéias absurdas. Ocorre que aqueles que acusam as loucuras juvenis de hoje vivem, no mesmo tempo, mudanças comportamentais que foram lapidadas na sociedade com muita rebeldia e barulho.

A Folha de São Paulo publicou, no domingo (7), uma pesquisa nacional do Datafolha realizada em 211 municípios, que traçou um novo perfil da família brasileira. A pesquisa contrasta com o levantamento feito em 98 e indica flexibilidades no comportamento sexual. Maior tolerância com a perda da virgindade, com o sexo no namoro e na casa dos pais, gravidez sem casamento e homossexualidade. A rejeição ao uso de drogas e ao aborto aumentou. Segundo a pesquisa a fidelidade está mais valorizada do que uma vida sexual satisfatória. Outra pesquisa, divulgada pela revista IstoÉ desnuda uma mudança comportamental no homem. A pesquisa Novo Homem - Comportamento e Escolhas, do Ibope Mídias, mostra que mais de 50% dos homens deixariam de trabalhar para cuidar da casa e dos filhos. Hoje, o homem que cuida da casa, dos filhos, lava louça, lava roupas e cozinha é normal. Isso seria uma loucura em outros tempos. Pensemos então na loucura dos jovens de hoje e termos uma perspectiva da normalidade de amanhã.

Charles Scholl
falecomcharles@pop.com.br

Uma cidade não se resume a selva de pedras / 2007

Estamos no tempo em que os municípios periféricos, que formam o conglomerado urbano da Região Metropolitana de Porto Alegre, deveriam pensar alternativas para que o futuro possa reservar uma qualidade de vida sem os equívocos protagonizados pelas grandes metrópoles brasileiras. O período que antecede o pleito de 2008 é oportuno para refletir sobre o diagnóstico das potencialidades e mazelas de cada município. No ano que vem, a eleição municipal definirá as lideranças que estarão à frente desse processo até 2012. A tendência individualista, que assola nosso tempo, induz uma realidade que favorece a degeneração social.

Em recente palestra realizada em Esteio, o professor Euclides Redin afirmou que a falência das cidades é uma evidência de um modelo insustentável. O desafio é criar novos mecanismos para a superação da cidade falida. Para Redin, o caminho passa pela democratização da democracia. O que parece redundância encontra sentido na real necessidade da participação maior dos cidadãos para que o projeto social tenha êxito. O estudioso vê com bons olhos o foco da cidade educadora, adotado por uma rede internacional de municípios, que transforma a administração em uma grande sala de aula. Essa política reafirma o compromisso de cada um com o município e abre uma avenida de possibilidades de tornar o governo mais próximo da vida das pessoas. Quanto maior for essa proximidade, maior será o sentimento de pertencimento ao município de cada cidadão, como protagonistas de seu tempo. Em Bogotá, o prefeito Antanas Mockus Cívicas usou desta plataforma para desenvolver a auto-estima da população e tornou a cidade mais bonita.

A educação é o caminho para que possamos nos desenvolver com sustentabilidade. A participação da população sobre as decisões do município é fundamental para que uma administração construa, além de obras, a cidadania. Isso significa reconhecer que a qualidade de vida de uma comunidade também depende do desenvolvimento de cada um. Como afirma Ana Carolina no conceito da unimultiplicidade, desenvolvido em parceria com Tom Zé, em que cada homem é sozinho a casa da humanidade. Para superar os desafios postos na agenda da atualidade é necessário ouvir mais Ana Carolina e transformar a poesia em práticas administrativas que instiguem cada esteiense a pensar em si, na sua família, em seu bairro e em sua cidade.


Charles Scholl
falecomcharles@pop.com.br

20 de setembro - dia internacional do gaúcho no Parque Assis Brasil / 2007

A realização do Acampamento Farroupilha, no Parque de Exposições Assis Brasil, logo após a Expointer, nos mostra como é importante para Esteio a utilização do Parque Estadual. A estrutura permite conciliar a preservação das tradições, com as necessidades impostas pela vida urbana. A tradição, que possui um vínculo vital com a cultura do campo, torna-se cada vez mais difícil de ser encenada nas crescentes aglomerações dos centros urbanos. O Parque Assis Brasil tem todas as condições estruturais para promover a Semana Farroupilha Estadual. O sucesso da Expointer é a prova da capacidade estrutural do Assis Brasil, que pode acomodar todas as regiões gaúchas, com local para provas campeiras, estacionamento, comércio e áreas de laser.

A proximidade com Porto Alegre e a estação de trem torna mais fácil o acesso ao parque para a maioria dos gaúchos. A segurança patrimonial do acampamento e a capacidade de controle sobre as mais diversas situações são facilitadas pela estrutura instalada. O local é apropriado para este tipo de evento, que une a vivência campeira no seio da cidade. A mudança proporcionaria ao tradicionalismo gaúcho reforçar suas raízes e se tornar cada vez mais um produto de exportação, com um centro turístico típico regional. As possibilidades de desenvolvimento econômico se ampliariam projetando com mais intensidade aos quatro cantos do mundo os motivos do dia 20 de setembro. Essa terra tem dono, somos farroupilhas. Herdeiros da saga dos farrapos. Porém, para dizer isso não é necessário se atolar na lama nem se enclausurar do resto do mundo. A cultura gaúcha é um ícone internacional e se dá muito bem com os brasileiros, como afirma o dito popular. O grande guardião desta saga é o Movimento do Tradicionalismo Gaúcho (MTG), que tem a difícil missão de preservar os princípios, mas avançar pelas gerações futuras.

O MTG é muito conhecido pela inflexibilidade com que trata alguns assuntos. É a instância que regula o que é tradicionalismo ou não. Muitos estilos musicais vivem na berlinda da classificação pelo comportamento que os artistas têm no palco, pelas vestes ou pelos ritmos inovadores. O nativismo é o segmento musical que mais se aproxima do tradicionalismo e que promove constantes tencionamentos por revisões e mudanças. A economia que gira em torno do tradicionalismo é uma ferramenta fundamental para que a cultura se preserve por gerações. As oportunidades de acesso aos conhecimentos também devem ser ampliadas para que cada cidadão possa optar em ter no cotidiano uma relação íntima com o tradicionalismo, ou não. Isso também é tarefa do MTG. Esses são motivos elementares para que o dia 20 de setembro receba mais atenção por parte dos gaúchos. A utilização do Parque de Exposições Assis Brasil permite reunir o mundo inteiro, para que possamos dizer em alto em bom tom: “...sirvam nossas façanhas de modelo a toda Terra”.


Charles Scholl
flecomcharles@pop.com.br

A superficialidade da política local / 2007

A prisão do vereador Fábio Batistello (PDT) se tornou um dos acontecimentos mais importantes para a política da cidade, neste ano. À comunidade que vive da política, talvez a afirmação soe como uma falácia, porém é fundamental lembrar que a maioria da população não busca aprofundamento sobre os assuntos da política local. Se a premissa for verdadeira, os fatos que ganham repercussão em jornais regionais tornam-se mais comentados do que as ações desenvolvidas pela comunidade política, em seus mandatos governamentais e não-governamentais. O assunto pessoal do vereador foi abordado pela mídia regional como um romance policial com nuances à cena política. Ao lembrar que Fábio foi presidente da Câmara de Vereadores o comportamento do parlamentar torna-se uma projeção das atividades do Legislativo.

Os esteienses não têm optado pela renovação de seus legisladores. Todas as bancadas são formadas por integrantes reeleitos, ou que representam uma família tradicional da política local. Este é o caso de Fábio Batistello, filho de Mário Batistello. A tradição política do pai foi construída sobre polêmicas e agressões dentro e fora da Câmara de Vereadores. A imagem do pai pode ter ajudado a eleição de Fábio, porém diante da acusação que está sofrendo na justiça, a fama de brigão certamente não contribuiu para seu álibi.

A Lei Maria da Penha, que enquadrou o parlamentar na situação de prisão preventiva, é o símbolo nacional da luta pelos direitos das mulheres. As estatísticas mostram que a violência doméstica é um assunto importante para a sociedade, apesar de não serem registradas, na sua maioria, em ocorrências policiais. Esteio é uma cidade em que o poder se divide entre os gêneros. O Judiciário tem presença feminina forte, o Legislativo é presidido por mulher e o Poder Executivo também é dirigido por uma mulher. Apesar de aparentarem desconexas as relações entre a parcela de participação da mulher na sociedade de Esteio e o caso Batistello, sua prisão simbolizou um gesto em defesa dos direitos da mulher.

A foto em que Batistello aparece algemado, estampada em capa de jornal é a última imagem do vereador e isso pode ser importante para as pessoas que preferem a política em sua mais absoluta superficialidade. Seja pela aversão à dinâmica do meio político ou pela impossibilidade de aprofundar assuntos que não diz respeito ao dia-a-dia da pessoa. Nessa margem é que são definidas as opiniões da maioria e, eventualmente, a superficialidade como opção à política pode ser vantajosa em alguns momentos, para facilitar a malandragem na política, porém nem sempre.


Charles Scholl
falecomcharles@pop.com.br

Os gaúchos de Esteio, no Brasil e no Mundo / 2007

O Grupo das Nações Unidas para o Desenvolvimento (UNDG) aprovou uma ação estratégica global com cumprimento de metas de desenvolvimento humano, político e social. A ousadia decorre da Declaração do Milênio, aprovada em 2000 por todos os 189 estados membros da Assembléia Geral das Nações Unidas. Os Objetivos do Milênio são metas concretas voltadas à superação dos desafios centrais enfrentados por todos. A atualidade mostra um ritmo de desenvolvimento sem precedentes na história da humanidade. A Declaração do Milênio é o acúmulo das diversas conferências de cúpulas internacionais ocorridas na década de 90 a partir da World Summit for Children, que foi um marco da civilização que dá concretude à Declaração Universal dos Direitos Humanos. A atenção à criança e ao adolescente é uma prioridade internacional e a comunidade esteiense está em plena sintonia com a meta. O Centro de Formação Teresa Verzeri virou tema do Jornal Nacional e projetou para todo o Brasil a experiência desenvolvida na cidade. Este ano, os esteienses figuraram no Globo Repórter como exemplo de administração da merenda escolar na rede pública municipal. Pés na comunidade e olhos no mundo. Com essa máxima os esteienses estão deixando de ser uma referência sazonal atrelada a Expointer para ser uma comunidade organizada e civilizada com importantes índices de desenvolvimento.

Os acordos entre as comunidades internacionais tomaram, nos últimos 20 anos, uma dimensão focada na realização das metas concebidas pelas cúpulas dos países integrantes da ONU. O Brasil pertence ao grupo e trabalha prioritariamente com oito pontos articulados com a estratégia central dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Os mecanismos inter-relacionam os objetivos da Declaração do Milênio e as metas concretas a serem alcançadas com a realização de políticas públicas implementadas pelos estados partícipes. O combate à fome e a erradicação da extrema pobreza, segundo o compromisso internacional, deve reduzir pela metade em 25 anos, no período de 1990 e 2015, a população com renda inferior a um dólar por dia e, no mesmo período, reduzir pela metade a população que sofre de fome. O programa Bolsa Família tem contribuído, enquanto política pública, para o cumprimento da meta. No Rio Grande do Sul não temos uma referência clara de políticas dessa natureza e nos municípios destaca-se o Programa de Auxílio Solidário, da Prefeitura de São Leopoldo, que oferece uma bolsa auxílio para famílias em alta vulnerabilidade social. Outro objetivo é o ensino básico universal e prevê como meta que crianças de ambos os sexos concluam o primeiro ciclo completo de ensino básico. Esteio é umas das cidades brasileiras com os melhores índices de pessoas alfabetizadas e mantém uma política pública focada na alimentação escolar de qualidade e garantia da inserção de todas as crianças no ensino fundamental. A promoção da igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres é uma meta. As quotas de participação em segmentos estratégicos do tecido social, tais como a política, tem contribuído com a superação do desafio da igualdade entre os sexos. A redução da mortalidade infantil, da mortalidade materna, o combate ao HIV/AIDS e a garantia da sustentabilidade ambiental são os objetivos que devem ser priorizados entre os gestores públicos dos municípios, dos estados e da União. Com isso, o oitavo objetivo é estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento.

Em sintonia com as políticas internacionais para as metas de desenvolvimento do milênio, Esteio foi reconhecido nacionalmente com o trabalho desenvolvido pelo Centro de Formação Teresa Verzeri. O Jornal Nacional do dia 31 apresentou a experiência esteiense para 60 milhões de brasileiros. O trabalho do Centro de Formação Teresa Verzeri atende 600 crianças e adolescentes em oficinas culturais e esportivas. É um dos seis programas reconhecidos pelo projeto Criança Esperança no Rio Grande do Sul, promovido pela Rede Globo em parceria com a Unesco. O Centro de Formação foi reconhecido nacionalmente, mas para que continue seu trabalho é fundamental que empreendedores locais se mostrem comprometidos com a responsabilidade social. Se não tomarmos atitudes concretas de apoio, não há possibilidades de sustentabilidade do Centro de Formação Teresa Verzeri, um exemplo de civilidade esteiense. Fone para contato: (51) 3460-4197.

Charles Scholl
falecomcharles@pop.com.br

Entre o prazer e o direito, um elogio à emancipação das pessoas / 2007

Desde os primórdios da humanidade, os indivíduos perceberam que a força da ação coletiva é imbatível. Mesmo antes da escrita sabia-se que aqueles grupos que agiam de forma organizada teriam maiores chances de superar as adversidades cotidianas. A concepção consolidou um princípio que favoreceu a formação de tribos. Aquelas que se mostravam mais integradas em torno de suas estratégias de sobrevivência prevaleciam. Talvez esses princípios estejam registrados em algum lugar da nossa herança genética. É uma abordagem que merece aprofundamento, porém as premissas utilizadas mesmo que superficialmente apontam que a vida coletiva não é algo natural, como pode-se observar em outras espécies. O dilema da vida em comunidade é algo que afeta a humanidade desde sua pré-história.

As revoluções tecnológicas incidiram diretamente no comportamento das tribos, que se tornaram cidades-estado, reinos e, mais recentemente, concebeu-se o estado-nação. Com o aprimoramento tecnológico surgiram as indústrias, a produção em série e a concentração humana nos grandes centros urbanos. Por todo esse percurso os indivíduos trazem consigo as angústias decorrentes dos tencionamentos entre o desejo de cada um e a vida coletiva.

Para Anna Arendt, os conflitos entre o universo individual e o coletivo é mediado pela política. Em decorrência deste ponto de vista, Anna conclui que a política não está no homem, mas entre os homens. O momento de crise da política está diretamente relacionado a crise das civilizações. O individualismo passa a ser corrosivo ao desenvolvimento da humanidade quando viola os direitos humanos e o meio ambiente. O descrédito da política tem essa relação com o fracasso social. No século XX a humanidade viveu as experiências do totalitarismo genocida, racista, homofóbico e as grandes guerras mundiais. Nesse período a tecnologia foi determinante para que a falência da política fosse apresentada à humanidade, como a possibilidade de sua própria destruição. Os ataques nucleares imprimiram nova dinâmica entre as civilizações. Apesar das novidades tecnológicas, podemos identificar nas guerras mundiais o princípio que orientava as tribos antes mesmo da escrita. O sucesso de determinadas civilizações organizadas em seus respectivos territórios políticos, apesar de seu desenvolvimento tecnológico, manteve-se relacionada a capacidade de agir em conjunto com o conhecimento voltado à destruição e dominação do outro.
São motivos suficientes para qualquer pessoa ter aversão a política. Ocorre que essa contrariedade cria as condições ideais de controle sobre os indivíduos. Porém, o grande equívoco decorrente da negação da política está na fragilidade do indivíduo perante a força coletiva que se deposita nas mãos daqueles que não negam a política. Hoje, no Brasil pelo menos, o chefe é eleito pelos integrantes da tribo, seja no município, nos estados ou no território político da nação brasileira. O desafio de nossa nação é garantir para cada indivíduo as oportunidades fundamentais à vida. Somente assim é possível compreender esse espaço territorial como uma nação, pois não existe sociedade em que somente uma das partes é beneficiada.

A visão sobre os interesses coletivos são fundamentais para a coesão de um grupo de pessoas e a política é que mantém a liga do grupo entre si e com os outros indivíduos e grupos sociais. Desde as lideranças comunitárias até o Presidente da República é cobrada uma postura de direção, pois o simples porta-voz dos interesses locais não tende a prosperar. Prospera aquele que media os interesses locais e, para isso, muitas vezes abre mão de sua posição individual. A vida do comunista brasileiro, Luis Carlos Prestes e a história de amor com Olga Benário Prestes é um exemplo que pode ser experimentado ao assistir o filme “Olga”. Aliás, a reprodutibilidade técnica, as possibilidades tecnológicas de comunicação, o filme e a internet são maravilhas tecnológicas que podem favorecer o desenvolvimento humano e a emancipação das pessoas. Assim como a tecnologia nuclear pode salvar vidas e atender a demanda de energia de grandes centros urbanos, a mesma tecnologia é utilizada para a fabricação de bombas. As ferramentas são as mesmas, o que muda é a aplicação delas e a garantia da aplicação correta está na preservação dos direitos humanos em todas as circunstâncias. Quando uma pessoa sofre algum tipo de abuso, a violação dos direitos deste indivíduo diz respeito a todos integrantes de sua comunidade. A passividade diante da banalização da violência é o caminho da degeneração social. O contrário é a consolidação de uma sociedade justa e fraterna em que todos os cidadãos são portadores de direitos, sujeitos políticos capazes de mediar suas diferenças e cumprir seus deveres sociais. Agir em prol da emancipação das pessoas é construir o caminho para que possamos contar uma história diferente aos nossos filhos.

Charles Scholl
falecomcharles@pop.com.br

A coesão que deveria ter / 2007

O Brasil vive seu momento pan-americano. A briga pelas medalhas de ouro foi estreada para os brasileiros por um atleta com a cara da nação. A estética da capoeira predominante nos trejeitos do competidor de taekwondo mostrava a determinação de um jovem atleta que fez uma nação vibrar. Diogo Silva foi o primeiro atleta brasileiro a subir no pódio para receber a medalha de ouro nos jogos pan-americanos de 2007. Esse espírito que nos une ao atleta e dá a coesão de nossas relações sociais, deveria ser espinafrado com toda a vontade política possível. Deveria.

A agenda de Esteio para a segunda quinzena de julho indica que a cidade estará voltada para debates sobre sua organização social, política e econômica. No dia 21 será realizada a III Conferência Municipal da Cidade de Esteio, com o tema “avançando na gestão democrática das cidades”. Os profissionais voltados ao planejamento urbano estão determinados em dividir o quanto possível com toda a população as definições em torno das políticas de desenvolvimento. As lideranças do tema querem trabalhar modelos de desenvolvimento urbano com participação popular e justiça social. É a fórmula apontada pelo Estatuto da Cidade e seguida com rigoroso critério, fator que torna Esteio referência em gestão na reformulação do Plano Diretor Participativo no Brasil.

Na mesma agenda está a IV Conferência Municipal de Saúde, que será realizada no dia 28, no Clube do Comércio. A cidade está sendo convidada a debater sobre “saúde, qualidade de vida e quais as melhores políticas de estado a serem aplicadas em seu desenvolvimento”. A conferência reafirma a boa relação entre os gestores de saúde da cidade, principalmente entre a diretora do Hospital São Camilo, Ana Boll e a secretária de Saúde, Rosane Prato. Esse relacionamento positivo inaugura uma fase muito boa à saúde de Esteio.

A área de comunicação também entrou na pauta de atividades da segunda metade da quinzena de julho. No dia 26, a partir das 13h30, no salão nobre da Prefeitura de Esteio, será realizado o I Seminário Regional de Comunicação Social. O encontro terá a presença da jornalista Ana Amélia Lemos, que ganhou o espaço do Resumo desta semana, na página três. As plenárias e conferências são momentos importantes em que temos a oportunidade de nos atualizar sobre as políticas públicas implementadas em cada área específica. Além disso, também é possível contribuir na construção e implementação das ações afirmativas do governo local. Para que seja possível conceber políticas representativas para todos os integrantes da sociedade em que vivemos é necessária a participação de pessoas que possam defender as particularidades de cada integrante do tecido social. As práticas que mais se aproximam desta utopia são aquelas que realizam assembléias gerais em que todo o cidadão pode participar. Esse espírito que nos une enquanto esteienses e dá a coesão de nossas relações sociais, deveria ser espinafrado com toda a vontade política possível. Deveria.

Charles Scholl
falecomcarles@pop.com.br

Entre o céu e o inferno, um elogio ao equilíbrio / 2007

“Então Aristófenes disse: Deixemos que cada um beba à sua vontade, porque também eu estou no número dos que ontem não souberam beber com moderação.”
Fragmento da obra “O Simpósio, ou do Amor” – Platão.


Uma sociedade desequilibrada só pode ser conseqüência das ações de grupos de pessoas desequilibradas, lideradas por referências desequilibradas e o ciclo se retro alimenta em um desequilíbrio harmonioso. O protesto em defesa do equilíbrio ecoa nas mentes humanas como um suplício que se manifesta tanto naqueles que submergiram em situações de miserabilidade extrema, quanto àqueles que se afogam na depressão, mesmo com acesso ao que há de mais moderno.

O desequilíbrio de nossa sociedade encontra maior nitidez se propusermos a desigualdade socioeconômica como nossa principal referência. No Brasil, a diferença entre os 20% mais pobres e os 20% mais abastados é uma das maiores do planeta. Houve significativa diminuição nesse índice com a aplicação do programa de distribuição de renda do Governo Federal, Bolsa Família. Uma importante parcela da população que vive em situação de vulnerabilidade social tem no Bolsa Família sua única fonte de renda. Para muitos usuários o programa é suficiente para complementar a alimentação e garantir a compra de um aparelho celular. Tomemos o aparelho celular como referência de acesso aos bens de consumo dos nossos tempos. O flagrante desequilíbrio se manifesta também nas bases da crítica aos programas de distribuição de renda e do estabelecimento de quotas de compensação social.

A UFRGS está debatendo a política de quotas para ingresso de negros na faculdade. A política de quotas é um mecanismo de compensação sobre o desequilíbrio social. A mesma regra é utilizada para inserir o gênero feminino em espaços sociais predominantemente masculinos. Os partidos políticos têm quotas de participação para mulheres, as universidades têm quotas de participação para negros e os programas de distribuição de renda também podem ser vistos como quotas de participação na sociedade de consumo. É claro que devemos preservar a diferença entre os níveis de exclusão e suas conseqüências, pois a exclusão da universidade pode impor uma vida mais humilde para o excluído, enquanto que na exclusão radical da sociedade de consumo o sujeito morre de fome.

A religião, as civilizações orientais e ocidentais também vivem em desequilíbrio e produzem, por conta disso, infelicidades pasteurizadas para serem consumidas ao longo da existência. As armadilhas fenomenais capazes de aprisionar mentes e sustentar impérios estão por todas as partes. O equilíbrio está em amar o próximo como a si mesmo, um pensamento que está na base religiosa de uma civilização que olha para o céu em busca do divino ao tempo em que vive a repressão de um observador celestial implacável em cobrar os pecados terrenos. Mas amar a si mesmo é a conseqüência daqueles que acreditam que a divindade está em todas as coisas. Sob a ótica oriental tendemos a ser antropocentristas, mas o equilíbrio nos coloca as preocupações ambientais, pois o antropocentrismo radical é a extinção da humanidade.
Retornando ao solo firme da economia de mercado na qual nos propusemos como principal referência, a tecnologia e os bens de consumo podem ilustrar perfeitamente o desequilíbrio das pessoas e suas conseqüências no mundo material. Mesmo que um beneficiário do Bolsa Família consiga adquirir um celular, provavelmente o aparelho opte pelas concepções espíritas e vire rapidamente um “pai de santo” – aqueles aparelhos pré-pagos que só recebem chamadas. Na outra ponta da gangorra encontramos o proprietário da IHouse, Leonardo Senna, utilizando o aparelho celular em seus apartamentos inteligentes. O celular serve para aquecer a banheira, com possibilidade de regular a temperatura da água e a essência floral desejada pelas teclas. Com o celular Leonardo controla toda a iluminação da casa e abre a porta com um clic no aparelho se alguém chegar. O apartamento mais barato com essa tecnologia custa, em média, R$ 2 milhões. Para um trabalhador remunerado com R$380,00 mensais comprar o referido apartamento, teria de trabalhar 5.264 meses, equivalente a 438 anos. Se o sujeito encontrar uma maneira de viver 438 anos, terá que superar o desafio de ficar esse tempo todo sem consumir nada. É evidente que há um desequilíbrio social e que esse desequilíbrio é uma máquina que produz pessoas desequilibradas.

A infelicidade, a inveja, a angústia e o stress são parâmetros que indicam o grau de contaminação da pessoa sobre o desequilíbrio do meio. Na atividade produtiva e no ócio nos deparamos com desequilibrados que nos consomem. A regra vale para aqueles trabalhadores informais que parecem seguidores dos ideais franciscanos de viver com aquilo que é produzido com as próprias mãos, até para os infelizes afortunados que no ócio vivem a agonia daquilo que não podem comprar. Infelizmente, para muitos desgraçados ricos e pobres o equilíbrio se dará somente em seu leito de morte. Pois quando morremos, no instante da morte, somos todos humanamente limitados, equilibrados e finalmente iguais.

Charles Scholl
falecomcharles@pop.com.br

@ Seminário Claretiano Ponto Com, Ponto Beérre! / 2007

O período de 11 de fevereiro de 1941 ao dia 19 de março de 1943, edificou-se uma das mais importantes obras arquitetônicas da época para a região. O seminário Claretiano surge antes mesmo da emancipação política de Esteio. A cidade cresceu olhando para o monumento. É um símbolo que é referência de gerações que constituíram a identidade esteiense, que viveram a época em estado de vizinhança com o Seminário. O patrimônio cultural e simbólico envolve a existência daqueles que passaram pela instituição claretiana e seus vizinhos, que estabeleceram laços pela relação geopolítica.

Esse território assume formas que só podem ser explicadas a partir da opinião política. Os líderes emancipacionistas de Esteio relatam que a divisa com o município de Sapucaia do Sul se deu por opinião política sobre a emancipação. A comunidade de Sapucaia do Sul veio a se emancipar quatro anos depois. O centro de Esteio girava em torno do Cinema de Alécio Frainer, o primeiro prefeito da cidade. Não temos nenhuma lembrança arquitetônica dessa época. Nos restou a Praça do Soldado. A fachada do cinema, com seus ladrilhos temáticos da época do cinema de Esteio, na esquina da Presidente Vargas com a Maurício Cardoso, também se foram. Restam poucas edificações que podem de fato simbolizar a história da cidade.

O debate acerca do futuro do prédio do Seminário Claretiano está proporcionando uma nova oportunidade de escolha sobre o destino dos símbolos arquitetônicos que constituem a identidade deste povo. O futuro daquela edificação irá afetar a auto-estima da população. A Associação de Moradores do Parque Claret tem manifestado uma opinião que possibilita um leque amplo de alternativas à demolição do prédio. Para estabelecer um diálogo produtivo é fundamental compreender os aspectos simbólicos da comunidade que está em conflito com os pontos de vista mais pragmáticos que se fundamentam basicamente sobre argumentos econômicos. Há um franco confronto com os argumentos históricos, políticos e culturais.

Investir nesses símbolos é investir na identidade de um povo. O Seminário Claretiano constituiu um patrimônio turístico que pode ser preservado ao torná-lo produtivo. Arrisca-se a dizer que as edificações agregam um símbolo que é a melhor possibilidade de desenvolvimento disponível à localidade. Não há outro símbolo capaz de impulsionar um projeto de desenvolvimento que envolva a cidade e a região. É uma oportunidade de atrair investimento. Todos sabem onde fica o Seminário Claretiano e isso é um bom argumento para fomentar um novo centro comercial para a Região Metropolitana. Esse patrimônio só pode ser partilhado pela comunidade produtiva se a reformulação do local preservar a identidade que autoriza a utilização da marca Seminário Claretiano, que vem sendo repetida desde 1941, em Esteio, na Região, no Brasil e no mundo.

Charles Scholl
falecomcharles@pop.com.br

Pela qualidade no debate do Parlamento / 2007

A sessão da Câmara de Vereadores da terça-feira(10) proporcionou momentos de tensão entre legisladores e a comunidade. De um lado do balcão temos os escolhidos pelo crivo popular para legislar sobre as causas coletivas da cidade. Do outro lado estava a comunidade organizada buscando ajuda e espaço na institu-cionalidade constituída que lhe furtara o direito de opinião sobre os destinos de seu bairro. O objeto em questão era o futuro do prédio que abrigava o seminário claretiano no Parque Claret. Além da associação de moradores do bairro, representada pela presidente Roseli Magnante, outras lideranças religiosas estiveram presentes com a esperança de encontrar algum sentido diante daquele mecanismo anacrônico.

A comunidade demonstrou suas motivações com a fala contundente de Roseli, que parece ter largado pulgas nos acentos da mesa diretora, que usou de todos os mecanismos para tentar diminuir a ofensiva popular. As manifestações dos parlamentares eram vaiadas e aplaudidas, na medida em que a comunidade presente percebia se estavam atendendo seus interesses mais imediatos ou não. Diante do caloroso debate, a presidente Jane, corretamente, manteve a ordem reprimindo as manifestações mais barulhentas. Mas a presidente cometeu um erro tentando acertar. Com vocação pedagógica e com a sensibilidade política, Jane percebeu as motivações dos moradores e decidiu passar os trabalhos para o vereador Luiz Duarte para fazer uma fala sobre o trabalho legislativo.

O erro de Jane não está em tentar sensibilizar a comunidade para que tenha um comportamento adequado no plenário, mas de tentar fazer isso na condição de vereadora e passando a presidência dos trabalhos para um parlamentar que preza pela confusão. Se o vereador Luiz Duarte não preza pela confusão, então ele não se fez entender e merece retratação pública. A cena protagonizada pelos parlamentares em plenário desanimou a comunidade que saiu desacreditada do plenário em protesto.
O curioso é que o protesto não se deu pela falta de respeito de vereadores com a comunidade, mas entre eles. Mais precisamente pela falta de educação do vereador Luiz Duarte com a vereadora Jane Krahe. A líder dos moradores, Roseli, não suportou a baixaria e, constrangida, pediu para que todos se retirassem do plenário. Com isso, foi frustrante para o Parque Claret a primeira investida em um diálogo com o parlamento local para encontrar uma alternativa para o problema que estava sendo gerado.

Cabe lembrar que a comunidade está se manifestando contrária às posições tomadas pelo Executivo, Legislativo e Ministério Público que realizaram movimentos com a intenção de destruir o prédio do seminário Claretiano. Os moradores entendem que se trata de um prédio histórico para Esteio e que merece ser restaurado. O uso da tribuna seria para levar a posição dos moradores aos vereadores, já que as decisões estavam sendo tomadas sem o conhecimento da comunidade. Nesse clima, muitos manifestaram-se da forma mais primitiva para quem não está sendo ouvido e gritaram palavras que expressavam a ética esperada pelos moradores. A emoção à flor da pele transformou o plenário em um caldeirão de indignação. Os parlamentares mais experientes, com sensibilidade política perceberam que tinham a possibilidade de reatar alguma relação de confiança com aquelas pessoas que protestavam. Outros desprezaram totalmente sua condição de agente público e partiram para o bate-boca anárquico e desqualificado.

O desfecho foi caótico e merece uma narrativa para que possamos, enquanto esteienses, refletir sobre aqueles que falam em nosso nome. Jane tentava disciplinar o comportamento da comunidade na tribuna e foi traída pelo presidente Duarte que, sem qualquer postura, resolveu bater boca esquecendo-se completamente de seu papel. Coube a Jane o recuo que abriu mão de sua fala, muito aguardada pela comunidade, para reassumir a presidência da mesa antes que a desgraça ficasse maior. Para uma pedagoga, que conhece que um dos fundamentos mais importantes para a educação é o exemplo, a tentativa de educar foi frustrada pela falta de educação de seu colega. A postura da comunidade não foi em protesto ao proprietário da farmácia Duarte, grande amigo da comunidade, maratonista, poeta e que encaminha medicamentos para aqueles mais necessitados. Foi um protesto ao que o vereador representou naquele momento, contra o desrespeito entre as pessoas, pela desqualificação do debate e pela frustração de não terem encontrado o que buscavam na Câmara de Vereadores de Esteio. Infelizmente o vereador Duarte, ao se comportar daquela maneira representou todo o sistema anacrônico que motivou aqueles moradores a protestarem naquela noite.

Charles Scholl
falecomcharles@pop.com.br

Quando o último se torna o primeiro / 2007

A posição adotada pela prefeita Sandra Beatriz Silveira ao filiar-se no Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), provocou uma verdadeira reviravolta na política local. O PTB, nas últimas eleições, disputou o Poder Executivo com Manoel Nunes e ficou em quarto lugar na coligação com o PV na chapa “Ligue-se, Faça a Diferença”, que conquistou 1015 votos. Acima do PTB tivemos o PPS, com Milton Severo, que obteve 3.230 votos; em seguida, mas com significativa diferença vem Juvir Costella, com a chapa “Compromisso de Amor Pela Cidade”, composta pelo PMDB, PDT, PP, PL, PFL, PSDB que juntou 22.511 votos pela cidade e a vencedora Sandra, pela ‘Frente Popular”, na coligação PSB e PT que ganhou as eleições com 23.568 votos. O resultado das últimas eleições é fundamental para compreender o impacto da mudança, pois apesar do desempenho eleitoral do último pleito, o PTB tornou-se o partido do poder Executivo de Esteio. A filiação em massa da quota do PSB ligado à prefeita Sandra no PTB criou, de forma instantânea, uma nova força política na cidade.

Certamente o tabuleiro do jogo eleitoral de 2008 foi completamente alterado. A correlação de forças para a disputa está mais parelha, tornando a composição entre legendas um processo que se mostra definidor para a disputa eleitoral. Essa disputa tende a ser feita e negociada entre quadros da política local, com toda sorte de intervenções de caciques da política gaúcha com inserção no cenário nacional, que integram a nova coligação deste governo. Os partidos mais importantes se movimentaram em virtude da formação da bancada petebista e a filiação em massa. Com isso, o partido estará fechando uma seqüência de administrações importantes, tais como a vice-prefeitura de Porto Alegre e a vice-prefeitura de Canoas. O PTB também tem o senador Zambiasi, que abonou a ficha de filiação da prefeita. O gesto sinaliza qual coletivo organizado do PTB estará dando as cartas a partir deste momento na cidade.

A Câmara de Vereadores também sofre impacto da desfiliação de Eva, do PMDB, a não aceitação de sua filiação no PSB e sua filiação no PTB. O vereador Luiz Duarte desfiliou-se do PSB e participou da janta de filiação no PTB realizada na sexta-feira (30), na Casa do Gaúcho, mas não temos certeza de sua nova filiação. A consulta feita pelos Democratas ao Supremo Tribunal Federal sobre a fidelidade partidária deu um ingrediente extra na mistura explosiva. Surgem outros articuladores na cena política, tais como Altamir Flores, do PMDB. O PMDB de Esteio quer reaver seu mandato que estava sendo exercido pela Eva, que foi eleita com 869 votos. A primeira suplente Lu da Noiva Chique também estaria se filiando no PTB e então o partido reaveria seu mandato na câmara de vereadores com o segundo suplente Altamir Flores. Seguindo a mesma lógica, o primeiro suplente do PSB seria Gérson Cutruneo, que conquistou 915 votos nas últimas eleições, porém a proporcionalidade do PSB na cidade, que acumulou em sua nominata proporcional 7.602 não foi suficiente para assegurar uma vaga para Gerson, mesmo obtendo, individualmente, mais votos que a Eva. O mesmo ocorreu com o Ireno, do PDT, que conquistou 1007 votos e não foi eleito. Os candidatos proporcionais do PDT somaram 8.055 votos. Melhor desempenho proporcional foi o do PT, que conquistou 8.668 votos nas proporcionais e o do PMDB, que somou 10.760 votos conquistando três cadeiras no parlamento municipal.

A Administração Municipal terá troca de dois integrantes do primeiro escalão que optaram não se filiar ao PTB. Com isso, a prefeitura perde o Secretário da Saúde Gérson Cutruneo, que permaneceu fiel ao PSB e o Secretário da Fazenda Orlando Thomas, que recusou-se a assinar ficha de filiação no PTB. O Partido dos Trabalhadores definiu que será fiel à decisão dos esteienses nas últimas eleições. Com isso não renunciará ao mandato. A semana segue com todas as possibilidades de mudança, em todos os cenários. Tem muita água para rolar por debaixo da ponte. As movimentações políticas neste cenário tendem a ser mais dinâmicas, com muitas obviedades e poucas certezas.

Charles Scholl
falecomcharles@pop.com.br

A comunicação como fomento da vida social / 2007

O debate acerca da reformulação do Plano Diretor de Esteio fez com
que o município refletisse sobre sua própria situação. Os mecanismos fomentados pelo Governo Federal, através do Estatuto da Cidade, que foi seguido de forma exemplar por nosso município resultou em uma clássica reflexão. Aquela em que nos colocamos em questão, seguindo os preceitos de Kant. A proposta do Ministério das Cidades para a reformulação dos centros urbanos do Brasil apóia-se, basicamente, em três eixos. A Regularização Fundiária, a Reabilitação dos Centros Urbanos e o Plano Diretor Participativo.

A intenção de tornar os centros urbanos um espaço melhor para se viver torna-se clara, porém a diferença é o ataque frontal às fronteiras sanitárias que definem o que é cidade ou o que é periferia. A realidade já havia nos apontado que as situações dos grandes centros urbanos do Brasil se tornavam insustentáveis diante do modelo tradicional em que foram edificadas e planejadas. O mérito político da nova visão é o foco diferenciado e mais amplo do planejamento, que evidencia a existência de um antigo responsável pelo caos urbano de hoje. As periferias foram planejadas e se criaram na sombra de mecanismos político-eleitorais sem qualquer unidade regional e tão pouco nacional. A mudança proposta pelo novo Estatuto quer estender o direito à cidade e à cidadania às pessoas dos centros urbanos, pois a cidade democrática e republicana ainda é privilégio de poucos e um sonho de muitos, como afirma Lula na mensagem do presidente publicada no documento do Ministério das Cidades em que se apresenta o Plano Diretor Participativo.

Medida sensata e necessária para mudar a realidade de milhões de brasileiros que vivem nos 5.562 municípios do País. Em Esteio, percebemos que parte significativa dos trabalhadores da cidade mora na cidade, colocando em cheque o estereotipo de cidade dormitório. Médicos, advogados, comerciantes, prestadores de serviços e trabalhadores das mais diversas áreas moram e exercem a profissão no município. A visão dada pelos números levantados na implantação do Plano Diretor Participativo de Esteio mostra que o município avançou na autonomia local. Com o avanço da população, hoje com cerca de 87.087 habitantes segundo IBGE, torna-se cada vez mais necessária a comunicação entre as comunidades para que o desenvolvimento social, político e econômico possa ser partilhado. A lógica do mercado competitivo nos diz que informações importantes devem ser guardas a sete chaves, porém o interesse público segue o caminho inverso em que os exemplos positivos de gestão local devem ser amplamente difundidos para que possam ser pensados, testados e aplicados por outras pessoas em localidades diferentes da cidade.

Se percebemos que a comunidade de Esteio está mais autônoma, também é possível perceber o imenso passivo de espaços de vida social. A máxima diz que Esteio não há vida social. Apesar dos avanços conquistados nos últimos anos, a maioria dos habitantes busca vida social em outros municípios. Atualmente, os núcleos mais organizados da cidade são as instituições religiosas, clubes de serviços e associações de moradores. O crescimento da organização das associações de moradores de Esteio se deu, principalmente, pelo fomento da Prefeitura de Esteio, que reservou uma coordenação específica lotada na Secretaria Especial de Governo. Já no primeiro ano de funcionamento do setor, em 2005, foi possível reorganizar a Associação de Moradores do Bairro Jardim das Figueiras, Novo Esteio, Teópolis, Navegantes, Pedreira, Vila Osório entre outras tantas que receberam auxílio para organização de suas atividades. Além das associações de moradores também foi reativada a União das Associações de Moradores de Esteio (UAME), também com a participação do Poder Público Municipal, em 2006.

Estes espaços criados representam um ataque frontal ao déficit de espaços à vida social na cidade. A UAME tem a missão de fazer com que esses organismos sociais locais sejam espaços de vida social, como exemplo da Associação de Moradores do bairro Teópolis. Lá acontecem as reuniões dos moradores, atividades do Orçamento Participativo, prática de esportes, oficinas de capoeira, bailes, chás, jantares, entre tantas atividades sociais que aquele local coletivo proporciona. O fortalecimento das atividades comunitárias passa pela relação entre as associações de moradores e outras entidades da sociedade civil organizada que podem agir de forma organizada fortalecendo-se mutuamente. A comunicação entre essas entidades é o primeiro passo para o estabelecimento de uma agenda coletiva entre as instituições. O JES é um veículo de comunicação que se compromete publicamente com essa idéia. Se você é líder comunitário e quer ajudar a fomentar a vida social em Esteio, as páginas do jornal estarão sempre abertas para que suas atividades possam ser partilhadas pelos leitores que integram as mais variadas comunidades da cidade. É a comunicação como fomento da vida social de Esteio.

Charles Scholl - diretor de comunicação da Prefeitura de Esteio
falecomcharles@pop.com.br

Um momento especial para os latinoamericanos em 2007

A América Latina vive um momento histórico importante, em que as unidades federativas, cada uma com suas peculiaridades, alimentam um movimento de reafirmação da identidade latinoamericana e autonomia política. O Brasil e o Chile estão liderando o desenvolvimento econômico e social. A qualidade das políticas públicas implementadas pelos paises do Conesul está em amplo crescimento. Michelle Bachelet retoma o norte da agenda política interrompida por Pinochet, em 11 de setembro de 73, com a morte de Allende; Ego Morales, apesar das medidas antipáticas aos interesses econômicos brasileiros, retoma um projeto de autonomia de um povo pela primeira vez na história daquele Pais; Tabaré Vasquez inicia a industrialização do Uruguai, sob uma plataforma política que aguardava mais de 150 anos para ocupar o poder, trouxe para o Uruguai uma fábrica de papel – sob os protestos da Argentina - e uma montadora de automóveis que pretende se instalar no país que tem como base econômica o turismo e o serviço; a Argentina já está recuperando o fôlego após a seqüência de desastres políticos e econômicos. Consolidando o eixo de autonomia dos povos, o braço armado da esquerda sempre protagonizado por Fidel Castro, encontra uma outra liderança que se consolida sob o símbolo na Venezuela, onde Chaves garante mais seis anos de poder por meio do voto popular.

A unificação da América Latina é um sonho alimentado por intelectuais ligados à esquerda, principalmente pelas conseqüências trágicas da guerra fria para os regimes democráticos na América Latina. Os regimes totalitários que emergiram por meio de golpes militares que pipocaram em todo o território nas décadas de 60 e 70 foram devastadores para o crescimento social das nações. O advento da abertura democrática teve impactos diferenciados nos países envolvidos em ditaduras militares.
A preocupação da Argentina em capitalizar-se para superação da crise recentemente vivida tornou os sistemas de investimentos estrangeiros mais eficientes. A desburocratização da máquina estatal para atração de incentivos internacionais foi uma medida estratégica da Argentina, para a recuperação da economia nacional. Apesar da crise, os estudantes argentinos enfrentam bombas de gás lacrimogênio e balas de borracha semanalmente. Situação de conflito social que já estampou as manchetes dos jornais brasileiros, porém em outra época.

A noção sobre a situação política atual pode ser percebida com a leitura do clássico de Eduardo Galeano, “As veias abertas da América Latina”. Quem já leu vale a pena reler fazendo um comparativo com a situação atual. É um exercício que acaba reforçando nossa real identidade. A identidade é fundamental para a qualidade de vida e sustentabilidade do Estado-Nação. A produção de ações articuladas na América Latina é um sonho que marcou a vida de muitos militantes. Recentemente, Walter Salles nos apresentou a obra “Diário de Motocicleta”, que trabalha com fragmentos da história de Che Guevara, que tornou-se, posteriormente ao período relatado pelo filme, um ícone da unificação da América Latina.

O Brasil está fazendo o tema de casa. Elegeu e reelegeu Lula. Aqueles que diziam que o mundo se indignaria com a decisão do povo brasileiro, em bem pouco tempo perceberam que o povo pode exercer o poder do voto com autonomia, mesmo diante de um mundo globalizado. Prova disso é o risco Brasil, que pela primeira vez na história registrou 199 pontos. O índice revela o grau de confiabilidade, conforme indica a própria denominação do índice. O risco é o menor da história brasileira. Para aqueles que se importam com as questões de Estado, o resultado é uma boa notícia de final de ano. O desempenho político do Governo Federal também foi medido e alcançou os maiores índices de aprovação desde a primeira eleição de Lula. O salário mínimo vai para R$ 380, 00 no Brasil, com alguns impasses com o setor produtivo que esperava investimentos mais generosos.

Outra mudança que marcou a história brasileira é a autonomia sobre o petróleo. Depois do movimento “o petróleo é nosso”, a autonomia era o sonho desejado pela nação. Porém, a linha política que prevalecia até o final do governo Fernando Henrique Cardoso, tinha por objetivo caminhar em outro sentido. Naquele governo foi criado um movimento para desgastar a Petrobrás fundamentado no abandono dos investimentos, na exposição de desastres tais como o da plataforma P.36; na tentativa da mudança da marca para Petrobrax e na contratação de serviços de outros países para despotencializar a geração de empregos especializados no Brasil. O Governo Lula conquistou a autonomia do petróleo com muitos investimentos. Além do petróleo, foi retomada a indústria naval no Brasil gerando milhares de postos de trabalho que estavam sendo dirigidos aos Estados Unidos no governo anterior. No setor energético também há uma revolução dentro da revolução, com a implementação de energias alternativas. Destaca-se a produção de biodiesel, do etanol, da geração de energia eólica e por biomassa. A dívida externa saiu do debate político, pois o Brasil, com o governo Lula, venceu esse desafio e está crescendo com suas próprias pernas. O povo brasileiro caminha na direção de sua autonomia e hoje sabemos que esse foi o melhor caminho para todos. Imaginem se o governo de Fernando Henrique não tivesse privatizado a Vale do Rio Doce? Teríamos mais competência econômica para tornar nosso povo mais nutrido, independente e feliz.

Charles Scholl
falecomcharles@pop.com.br

Um feliz Natal aos santos e hereges / 2007

O Natal, acima de tudo, é o momento de lembrança do nascimento de Jesus Cristo, que é a forma como a Bíblia se refere àqueles cujos seguidores consideravam o prometido Messias ou “o Cristo, o filho do Deus vivo”, conforme Mateus 16:16. Existem muitas discussões sobre o genótipo de Cristo, mas nenhuma se aproxima do senhor simpático vestido de vermelho com um saco de brinquedos nas costas. A figura do Papai Noel só é possível de ser concebida em nosso tempo. Um tempo de consumo, em que as pessoas valem o quanto tem. Até mesmo os caridosos, que lavam a alma com ações filantrópicas, competem entre si para poder divulgar o quanto doaram. Isso, obviamente pressupõe o quanto tem para doar. Sob essas duas óticas a que mais vale a pena debruçar-se para uma reflexão, apesar do Papai Noel, ainda é a primeira.

A escolha, por si, é motivada por um valor cristão. O Natal é tempo de lembrar que não devemos julgar pela aparência, e sim pela reta justiça, disse Cristo. Também é fundamental lembrar que com o critério que julgares, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também. Referências claras da conduta ética cristã em franco conflito com as posturas mais aceitas no senso comum. O que nos leva a crer que se Jesus Cristo nascesse hoje, ainda seria um revolucionário para a sua época.

Sabemos da natureza humana e as infinitas possibilidades e milagres que realizamos neste plano astral. Sabemos que o mundo é a compreensão possível que temos do que nos cerca. Sua expansão está, justamente, na fronteira do que desconhecemos. É pelas dúvidas que chegamos ao conhecimento e, nesse sentido, nossas certezas são os limites da compreensão de nossa existência. Mesmo Nietzsche teve que se agarrar em seu credo para expressar seu ceticismo. E todo o ceticismo de Nietzsche só pode ser considerado blasfêmia aos cristãos. Quando Félix Guattarri escreveu “As três ecologias”, refez o caminho do nascimento para novas formas de pensar, sem as amarras dogmáticas que impregnaram a mente dos religiosos. Michel Foucault diria que os dogmas constituem as bases da “pré-informação”, que edificam o poder do argumento, que se transforma no argumento do poder. Não foi assim que nasceu a idade média? Gilles Deleuze seria queimado por suas idéias junto a Torre Eiffel, em Paris.

Se a natureza humana é assim, podemos também nadar a favor das correntezas de nossa genética e do nosso espírito humano. Após passar pela nominata de célebres hereges, voltemos a simplicidade de Cristo. A boca fala do que está cheio o coração. A propósito, pergunte a si mesmo, o que tem falado ultimamente? A resposta é o contorno geográfico que você está dando para si mesmo. Não aprofunde muito, pois brigar consigo mesmo pode ser muito ruim. A separação não é fácil. Nesse Natal, antes de pensar em medir o quanto pode dar para mostrar o quanto tem, pense em se perdoar por tudo o que você fez contra você mesmo. A paz consigo é fundamental para transmitir a paz para o próximo. Essa paz começa com a fidelidade consigo mesmo, não se traia que terás a confiança do outro. Como bem lembra outra famosa frase de Jesus Cristo “Quem é fiel no pouco, também é fiel no muito.” Um Feliz Natal.

Charles Scholl
diretor de comunicação da Prefeitura de Esteio
falecomcharles@pop.com.br

Educação ou repressão no trânsito, o que mais deu certo??? / 2008

Esteio se tornou referência positiva às campanhas educacionais para um trânsito mais seguro. A convicção da gestão sobre a aposta na educação como prática transformadora da sociedade contribuiu para que os programas municipais de educação no trânsito tivessem o apoio político necessário para tornarem-se referência positiva no Rio Grande do Sul. A passagem dos 10 anos do Código Brasileiro de Trânsito, implementado em 22 de janeiro de 1998, foi pauta dos veículos de comunicação de circulação estadual. A Zero Hora publicou, no dia 20 de janeiro, informações que sugerem uma leitura preocupante sobre a realidade do trânsito brasileiro. Neste período mais de 50 mil motoristas tiveram sua carteira suspensa, foram aplicadas 11,9 milhões de multas no Rio Grande do Sul. Isso revela que foram expedidas mais de uma multa para cada gaúcho. Apesar da severidade da legislação, não houve a esperada redução de mortes.
As ações educativas são muito bem recebidas pela população e têm obtido resultados importantes. Para aqueles que são obstinados por resultados rápidos construídos com práticas repressivas, a abordagem educativa pode parecer ineficiente, porém tendem a ser permanentes. A história do Código Brasileiro de Trânsito nos mostra que a repressão funcionou por cinco anos e, posteriormente, não teve efeitos importantes na redução da violência. Tudo nos leva a crer que se o motorista não for convencido de uma prática segura no trânsito, não será o medo da multa que motivará sua mudança de hábito. É fundamental conhecer as regras e um pouco de física para ter uma noção mais exata do impacto de acidentes no trânsito, mesmo em velocidades que consideramos baixas.
Participei, no final de dezembro e na primeira quinzena de janeiro, de duas ações educativas que envolveram a Saúde, os fiscais de trânsito, a Comunicação, a Guarda Municipal, o Conselho Tutelar e a Brigada Militar. Cada ação fez abordagem nos dois pontos mais freqüentados por jovens que geralmente apelam para a mortífera mistura do álcool com a direção. Apesar das lojas de conveniência dos Postos de Gasolina controlarem a venda de bebidas alcoólicas para crianças e adolescentes, os jovens têm trazido de casa as bebidas. O volume inadequado dos carros “tunados” motiva motoristas irresponsáveis à prática de pegas e exibicionismos de frituras de pneus. Além da poluição sonora provocada pelos sistemas de sons e pelos gritos do atrito da borracha no asfalto, o descontrole dos motoristas que tem freqüentado os postos de gasolina coloca em risco outros motoristas, pedestres e motoqueiros. Nesses casos, a presença da autoridade policial e de trânsito inibe atitudes dessa natureza.
A ação buscava sinalizar para um comportamento mais sociável por parte daqueles que optam em freqüentar postos de gasolina para diversão e entretenimento. Na primeira operação, os jovens receberam muito bem a campanha pelo sexo seguro, com a distribuição de camisinhas feita pela Secretária de Saúde Rosane Prato e sua equipe. A revisão dos documentos e dos motoristas alcoolizados também gera confiança de quem dirige, pois fica mais difícil o envolvimento em acidentes por conta da bebedeira de outro motorista. Claro que existem as manifestações contrárias ao estabelecimento de regras. Crianças e adolescentes, se não estiverem acompanhadas de seus pais ou tutores, estão irregulares na rua e precisam da intervenção do Conselho Tutelar que deve trabalhar na família a situação.
A abordagem respeitosa, que preserva os direitos do cidadão, impõe uma relação mais qualificada entre os agentes fiscalizadores e a população. Porém, esse trabalho deve ser intensificado para superar as mazelas deixadas pelos maus policiais. A exemplo disso, na segunda ação ocorreu um acidente entre motoqueiros que procuraram fugir desesperadamente da polícia. O que causou surpresa foi o fato dos rapazes envolvidos não estarem irregulares, mas procuraram justificar que tiveram medo de apanhar da polícia durante a operação. Um dos jovens disse ter sido espancado em outra operação semelhante e que estava traumatizado. Teria agido assim por ter sido acometido pelo pânico e se tornou um problema tão grave quanto o da embriaguês. A reação não deixa de ser resultado da pedagogia da violência. Se desejamos que os condutores mudem de hábito, o caminho mais certo, com resultados mais satisfatórios, passa pelas campanhas educativas por um trânsito mais seguro. Esteio está no caminho certo.
Charles Scholl
diretor de comunicação da Prefeitura de Esteio
falecomcharles@pop.com.br

Política – uma grande decepção do nosso tempo / 2008

Em plena campanha eleitoral, no contato direto com as pessoas percebe-se a existência de um rancor intenso sobre o tema da política. Tal aversão não está relacionada às propostas e chapas que estão se apresen-tando em todas as cidades brasileiras, mas aquilo que elas representam em seu contexto histórico. Em maio do ano passado tive conhecimento do trabalho do francês Gilles Lipovetsky, que escreveu a obra “A sociedade da decepção” (Ed. Manole, 104 págs. R$ 49), que foi lançada no dia 21 daquele mês, em São Paulo. O tema merece ser relembrado pela agenda eleitoral que o povo brasileiro está submetido. Atualmente, os assuntos da política se tornam mais evidentes, tanto pela mobilização feita pelas pessoas envolvidas no processo eleitoral, quanto pela ampliação dos espaços midiáticos focados no tema.

Os veículos de comunicação possuem uma intervenção significativa sobre os comportamentos humanos em uma sociedade globalizada. Esse olhar está presente desde os primórdios do mundo globalizado quando se desenvolveram as teorias de gestão de multidões por instrumentos de comunicação. Atualmente, se dividirmos a percepção que temos do mundo em dois grupos esses seriam compostos pela experiência que vivenciamos e aquela que temos notícia. O mundo midiático se ocupa, basicamente, das informações que são obtidas sem a vivência sobre os fatos. As informações chegam até o sujeito através de veículos de comunicação. A forma e a abordagem sobre cada fato fundamentam as premissas da compreensão que temos da realidade mundial. A exceção dessa regra se limita a viajantes que registram suas ex-periências a partir da imersão ao meio, vivendo a experiência pessoalmente.

Os espaços midiáticos voltados à política neste período se ampliam na publicidade, na propaganda, nos artigos de opinião e nas notícias. Com isso, os assuntos da política adquirem uma ênfase diferenciada, com características sazonais sobre a opinião pública. O tema da política, que nos está sendo ofertado desde o café da manhã até a janta pelos veículos de comunicação é, para Lipovetsky, um dos que geram mais decepção em todos os países do mundo.

Em sua obra, o filósofo afirma que a decepção é uma experiência humana universal desde sempre. Porém, nas sociedades antigas ela era mais restrita. O desejo limitado, a cultura da resignação e um maior apego às práticas religiosas funcionavam como uma anestesia sobre o sistema psíquico dos indivíduos, limitando as dores da decepção. Com isso, Gilles contrasta com os resultados da sociedade moderna que fez explodir o sentimento de decepção. O desequilíbrio das pessoas e a desigualdade social são indústrias produtoras de frustrações. O filósofo francês chama isso de era hipermoderna, que tem como principal característica a intensidade das decepções, que são ofertadas em todos os lugares e níveis sociais.

A globalização extirpou a esperança revolucionária dos conceitos de Gilles, um militante pós-trotskista. Além da política, a escola lidera a lista das grandes decepções desde os tempos em que parou de ser a garantia de ascensão social. O filósofo não despreza a realidade dos jovens qualificados que trabalham em coisas que não correspondem a sua qualificação. De um modo geral, Gilles acredita que o walfare-state (sociedade de bem-estar), é uma sociedade de frustrações. O suicídio, a depressão, a ansiedade no trabalho e com os filhos são seus principais argumentos.
O que torna o pensamento de Gilles mais interessante é a afirmação de que a decepção das pessoas não ocorre por conta do consumo de bens materiais. Para ele, a decepção das pessoas não se dá pela impossibilidade de adquirir um Jaguar e sim pelo consumo cultural. Sob esse paradigma, Lipovetsky dispara contra a programação televisiva e justifica sua afirmação com o argumento da prática do zapping, ou melhor, a prática de trocar de canais. Pois a televisão foi feita para ser um espetáculo e o ato de ficar zapeando é a frustração de um espetáculo que não satisfaz. E por fim, Gilles atribui a pior decepção àquela que temos com as pessoas. Para ele, se enganam aqueles que pensam que o consumo é o principal responsável pela infelicidade humana.
O que frustra é a individualização do mundo, a relação com os outros e consigo mesmo. É a era do direito do homem e esse sempre será inferior ao desejo, afirma Gilles.

Mesmo diante do quadro caótico anunciado por Gilles, o filósofo francês não pode ser considerado um pessimista, já que a sociedade da decepção não é a da paralisia e tão pouco a da depressão. Ele se anima com as iniciativas das pessoas, com a ampliação das possibilidades de associações, o aumento do número de artistas. “É uma sociedade que relança a vida, que permite um recomeço”, conclui Lipovetsky.
Grande parte dos argumentos que sustentam o modo de pensar de Gilles se fundamentam em sociedades submetidas a existências midiáticas. A mídia produz a decepção cotidiana que sedimenta o solo firme da compreensão de uma sociedade da decepção. A saída para evitar a simples contaminação da neurose coletiva é reservar um espaço de nossas vidas para valorizar a percepção direta que temos sobre o mundo. É sair da condição de receptor passivo, conseqüente do cacoete hipodérmico das ciências da comunicação, para um modo de pensar mais ativo e crítico sobre os temas que estão sendo colocados no interior das nossas famílias.

Antes de sermos seres de uma sociedade que se informa a partir de veículos midiáticos, somos integrantes de núcleos familiares, de um bairro, de uma cidade, de um estado, de um pais e de um Planeta que tem uma vida útil - pelo menos para a humanidade. Ocorre que as informações que edificam os conceitos que temos sobre os grupos sociais em que vivemos são majoritariamente obtidos por meios midiáticos. Com isso, produzimos um sistema que se alimenta de si mesmo. O resultado prático é que a sociedade de consumo produz infelicidades em todas as fatias da pirâmide social. Nesse sentido, valoriza-se a campanha corpo a corpo em que as pessoas tomam conhecimento da agenda política na relação direta com os pretendentes aos cargos públicos. Isso, segundo Gilles, relançaria vida sobre o tema da política, apesar do desgaste que o assunto agrega neste momento histórico.

O tema da política trata, prioritariamente, das relações entre as pessoas. Como diz Hannah Arendt, a política não existe no indivíduo, mas entre indivíduos. Eis as bases da crise do tema e sua relação direta com o modus-vivendi de uma sociedade atomizada. Sendo assim, o melhor caminho é valorizar em nossas vidas as questões coletivas no seio da nossa família, em nosso bairro para que possamos nos sentir a própria cidade. Deixamos de olhar a política com rancor para percebê-la como uma virtude, um caminho para que a realidade de amanhã não seja a mesma que nos decepcionou.
Charles Scholl
diretor de comunicação da Prefeitura de Esteio
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