domingo, 14 de dezembro de 2008

Quando a morte bate na porta / 2004

Por mais de uma vez me deparei com determinadas situações em que tive deescolher entre ficar vivo ou desistir de lutar. Quando uso o termo "lutar"como sentido de vida me dou conta de que o espírito espartano bate forte eque o dia a dia só é possível de se viver lutando. As passagens maismarcantes e difíceis foram registradas em outros textos que escrevi aexemplo daquele intitulado "Relatos de um sobrevivente". É indescritível oque se passa na cabeça quando temos a certeza de que vamos morrer. As vezestenho a impressão de que as forças psicológicas é que sustentaram o corpoincapaz de funcionar sozinho, algo para além daquilo que acreditava serpossível ou impossível.

Devem ser essas sensações que sustentam a frase "oque não nos mata nos deixa mais forte".O fato é que a morte bate na nossa porta por caminhos diversos daqueles quetrilhamos. Um exemplo é quando acontece algo grave com algum parente, amigoou conhecido. Nesses momentos refletimos sobre a vida e fizemos um esforçopara tomar posições de garantia da vida. Reagimos como formigas que percebema falha na fila provocada por um predador à espreita e reagem constituindooutro caminho.

Para essa decisão ser bem sucedida para as formigas elasprecisam da informação de que há falha na fila e a informação de que ladoestá o predador. Nesse sentido é que as coisas complicam, pois temos nocotidiano dos nossos centros urbanos uma imensa "falha na fila", provocadapelo que chamamos de crise na segurança pública, e dificilmente sabemos ondeestá o predador e a falha na fila me parece que não é compreendida peloformigueiro. Lembrei da morte porque um importante amigo, cujascaracterísticas pessoais se distanciam de qualquer sujeito violento,tornou-se mais um sobrevivente.

Obviamente ele optou pela vida, pois estáentre nós. No meu formigueiro afirmamos que ele optou por continuar lutando.Nesses momentos percebemos que muitos dos desafios cotidianos ficam menores.A mesquinhez não encontra lugar diante da grandeza daquele que optou pelavida. Então percebemos que existe uma força motriz e a sentimos com maisintensidade quando somos submetidos a uma situação de dificuldade extrema.Quando fui convidado a escrever um texto, depois do ocorrido, não mesobravam alternativas, pois nenhuma pauta me parecia relevante para serabordada em primeira pessoa. Então decidi tentar partilhar essa sensação epedir para que as autoridades do formigueiro procurem identificar as "falhasna fila". O meu amigo Paulo, a quem dedico esse texto, ainda está nohospital. Ele me socorreu em momentos difíceis, pois mesmo tendo pessoas noentorno, é preciso ter competência para poder ajudar e assim foi com o Pauloa quem não me canso de agradecer. Desejo uma rápida recuperação e um breveretorno para o trabalho.

Porto Alegre, 07 de julho, de 2004.

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